Lançado em dezembro de 2020, o álbum “McCartney III” encerra a trilogia iniciada há meio século pelo ex-Beatle, da qual fazem parte os discos “McCartney” (1970) e “McCartney II” (1980). Paul, de 78 anos, fez os três sozinho. Escreveu as músicas e as produziu, além de ter tocado todos os instrumentos em sessões de gravação bem solitárias.
Portanto, é até subversiva a maneira como “McCartney III – Imagined” foi feito. Recém-lançado nas plataformas digitais, o álbum conta com participações em todas as 11 faixas. Os convidados são artistas mais jovens do que Paul e bem menos conhecidos, mas bastante criativos no quesito produção musical.
A função desempenhada por eles foi reimaginar as canções de “McCartney III”. A maioria optou por simplesmente remixar as gravações originais do disco, adicionando seu próprio olhar às composições do ex-Beatle.
St. Vincent, por exemplo, transformou “Woman and wives” em faixa dançante. Além de alterar a voz de Paul, decidiu incluir um coro, cujas vozes ela mesma gravou.
Já Damon Albarn, vocalista da banda Blur e cabeça do projeto Gorillaz, transformou “Long tailed winter bird” com adição de sons eletrônicos.
Houve também quem gravasse uma parceria, como é o caso do norte-americano Beck, presente na faixa “Find my way”. Ou da novata Phoebe Bridgers, que vem conquistando admiradores ao redor do mundo desde o lançamento de seu segundo álbum, “Punisher” (2020). É ela quem canta, na íntegra, “Seize the day”.
“The kiss of Venus”, regravada do zero por Dominic Fike, ganhou abordagem pop e até videoclipe estrelado pelo músico norte-americano, mas lançado no canal de Paul McCartney no YouTube.
Vocalista do Queens Of The Stone Age, Josh Homme transformou “Lavatory lil”, que agora parece saída de um dos álbuns de sua própria banda.
Faixas assim provam o acerto da proposta de que as regravações sejam mais a cara dos convidados do que de Paul propriamente. Isso ajuda a rejuvenescer a imagem do ex-Beatle como compositor.
A quantidade de artistas convidados é grande, mas vale a pena ficar de olho em cada um deles – afinal, foram escolhidos por ninguém menos que Paul McCartney. A banda Khruangbin, Blood Orange, EOB, Anderson .Paak e 3D RDN completam a seleta lista.
CARTA ABERTA
Na última terça-feira (20/4), o ex-Beatle virou notícia ao encabeçar o grupo de 156 músicos britânicos que defendem modificações no modelo econômico das plataformas de streaming. Em carta aberta enviada ao primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, eles se mostram preocupados com a desvalorização da música no ambiente digital.
“Por tempo demais, as plataformas de streaming, gravadoras e outras gigantes da internet exploram os artistas e criadores sem recompensá-los de maneira justa. Precisamos colocar o valor da música de volta onde ele deve estar: nas mãos dos que fazem música”, diz um trecho da carta, publicada pelo jornal britânico The Guardian.
O manifesto é assinado por Kate Bush, Sting, Chris Martin, Lily Allen, Noel Gallagher, Jimmy Page e Robert Plant. A principal reivindicação é a mudança na Lei de Direitos Autorais, de 1988, para tornar a arrecadação via streaming semelhante à das rádios britânicas.
MC CARTNEY III IMAGINED
.Paul McCartney e convidados
.11 faixas
.Capitol Records
A NOVA TURMA DE MACCA
Beck
Em “Find my way”
» Na ativa desde a década de 1990, o cantor e compositor transita por diversos estilos musicais. Seu trabalho mais recente, “Hyperspace” (2019), referencia o R&B, o country, o rap e o rock, cuja junção é possibilitada pela música eletrônica.
Dominic Fike
Em “The kiss of Venus”
» Cria do site SoundCloud, o norte-americano, de 25 anos, lançou o disco “What could possibly go wrong” e o EP “Don't forget about me, demos” (2018). Tem como fãs o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama e a cantora Billie Eilish.
Khruangbin
Em “Pretty boys”
» O trio norte-americano de nome difícil faz música instrumental misturando elementos do soul com fortes doses de psicodelia. A estreia foi em 2015, com o álbum “The universe smiles upon you”, seguido de “Con todo el mundo” (2018) e “Mordechai” (2020).
St. Vincent
Em “Woman and wives”
» Nome artístico da cantora e compositora Annie Clark, St. Vincent existe desde 2003 e se destaca no indie norte-americano. Com cinco álbuns lançados, ela prepara a chegada de “Daddy's home”, previsto para 14 de maio.
Blood Orange
Em “Deep down”
» Blood Orange é um dos muitos projetos musicais do cantor, compositor e produtor inglês Devonté Hynes. Sob essa alcunha, ele lançou os discos “Coastal grooves” (2011), “Cupid deluxe” (2013), “Freetown sound” (2016), “Negro swan” (2018) e “Angel's pulse” (2019).
Phoebe Bridgers
Em “Seize the day”
» A cantora e compositora norte-americana estreou em 2017 com o disco “Stranger in the alps”. Em 2020, lançou “Punisher”, álbum que a consagrou como talento da próxima geração e rendeu quatro indicações ao Grammy, incluindo artista revelação.
EOB
Em “Slidin”
» EOB é o nome que o inglês Ed O'Brien escolheu para sua carreira solo. Guitarrista da banda Radiohead, estreou em 2020 com o disco de rock experimental “Earth”, depois de lançar os singles “Brasil” e “Santa Teresa”, dedicados aos anos em que morou no país.
Damon Albarn
Em “Long tailed winter bird”
» Ícone do britpop, movimento musical da década de 1990, Albarn é vocalista da banda Blur. Além da carreira solo, é a cabeça por trás da banda virtual Gorillaz.
Josh Homme
Em “Lavatory lil”
» O norte-americano é o único remanescente da formação original da banda Queens of The Stone Age. Ele é o frontman do grupo formado em 1996. O último álbum da banda, “Villains”, é de 2015. Homme atua nos projetos paralelos Eagles of Death Metal, The Crooked Vultures e em sua carreira solo.
Anderson.Paak
Em “When winter comes”
» O cantor e compositor norte-americano ganhou projeção mundial a partir de seu segundo disco, “Malibu” (2016). Recentemente, uniu-se a Bruno Mars no projeto Silk Sonic, cujo primeiro álbum deve chegar às plataformas digitais ainda neste primeiro semestre.
3D RDN
Em “Deep deep feeling”
» 3D RDN é o projeto do inglês Robert Del Naja, membro da banda de trip hop Massive Attack. Antes de se tornar músico, era grafiteiro e integrante do grupo The Wild Bunch. Ele é apontado como o artista Banksy.
PATTI SMITH SE REINVENTA
Não há definição única que explique o trabalho de Patti Smith. Aos 74 anos, a norte-americana já atuou como cantora, compositora, escritora, poeta, fotógrafa e pintora. Desde que entrou para a história com o álbum “Horses”, de 1975, ela se consolidou como artista versátil, capaz de transitar por diferentes áreas. Sua nova empreitada, agora no mundo virtual, é outra prova disso.Em 31 de março, Patti Smith lançou newsletter gratuita por meio da plataforma Substack. Os inscritos recebem semanalmente, por e-mail, textos e poesias da artista acompanhados de mídias que podem ser fotos, vídeos e músicas. Segundo ela, o conteúdo é livre, “sobre qualquer assunto que encontre seu caminho do pensamento para a caneta”.
TRAPAÇA
Patti já enviou 10 e-mails. O primeiro, publicado em 1º de abril com o tema “My night with Andrei and Milos”, fala sobre a inspiração para “April fool”, faixa do álbum “Banga” (2012). “Não é uma canção sobre trapaça, apesar do título. Foi escrita em um leve estado de alegria, em celebração à minha amizade com Milos, o mesmo amigo que me apresentou a Tarkovsky e Bulgakov e expandiu meu conhecimento sobre Tesla, Gogol e arte etíope”, revelou.
A multiartista também aproveita para recomendar o filme “Andrei Rublev” (1966), de Tarkovsky, e os livros “Divided soul: The life of Gogol”, de Henri Troyat, e “The overcoat and other stories”, de Nikolai Gogol.
Já no e-mail mais recente, publicado ontem (22/4), intitulado “Taking pictures”, Patti escreve sobre Robert Mapplethorpe (1946-1989), fotógrafo estadunidense com quem desenvolveu forte relação nas décadas de 1960 e 1970. A história dos dois é tema do livro de memórias “Só garotos”, lançado pela artista em 2010.
De certa forma, todo o conteúdo gratuito funciona como chamariz para a versão paga da newsletter. Por cerca de R$ 40 mensais (ou R$ 400 anuais), o leitor tem acesso à série escrita por Patti Smith durante a pandemia intitulada “The melting”. De acordo com ela, “um diário da minha pandemia privada”.
Já foram enviados três trechos da série; o último, em 20 de abril. O conteúdo pago chega aos assinantes às terças-feiras.
Artista incansável, Patti Smith não perdeu o contato com os fãs durante o confinamento social. Bastante ativa nas redes sociais, ela abastece seu perfil no Instagram com fotos do dia a dia e pequenos textos que soam como poesias em pílulas.
No último domingo (18/4), Patti compartilhou a foto em que recebe a vacina contra a COVID-19. “Esta é a primeira dose”, escreveu na legenda.
Ao longo de 2020, ela também se rendeu às lives. A principal foi realizada no dia de seu aniversário, 30 de dezembro, data em que sempre se apresenta com sua banda. Em outras ocasiões, Patti foi atração de festivais engajados na luta pela preservação do meio ambiente.
Em sua última vinda ao Brasil, em novembro de 2019, para dois shows em São Paulo, ela se mostrou atenta aos problemas ambientais do país. Não à toa, Patti dedicou o cover de “Beds are burning”, canção da banda australiana Midnight Oil, e “Ghost dance”, um de seus clássicos, para a floresta amazônica e os indígenas.
Mas é nos livros que Patti Smith exibe sua melhor forma. Os dois últimos, “Devoção” e “O ano do macaco”, lançados no Brasil, mostram o quanto a artista está lúcida em relação ao trabalho e ao mundo. O primeiro investiga as inquietações que levam à escrita. O outro reúne experiências vividas pela autora em 2016, quando completou 70 anos.
PATTI SMITH
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