Jornal Estado de Minas

DIÁLOGOS

Livro com correspondências de Celso Furtado será lançado no Sempre um Papo

“Celso Furtado - Correspondência Intelectual: 1949-2004”,  (Companhia das Letras), livro organizado pela jornalista Rosa Freire D'Aguiar a partir de um precioso e inédito acervo epistolar, será lançado em Minas Gerais nesta quinta-feira (29/4), às 19h, no programa Sempre um Papo. O lançamento será em conversa virtual entre Afonso Borges,  Ângelo Oswaldo e a organizadora da obra, podendo ser acompanhada pela página do Sempre um Papo no Youtube.





Celso Furtado (1920-2004), único economista brasileiro a ser indicado ao Prêmio Nobel da Economia (2013), teve uma trajetória marcante e original, que sedimentou as bases de novas concepções sobre desenvolvimento econômico e subdesenvolvimento brasileiro e latino-americano. Foi cassado pelo ditadura militar já na edição do Ato Institucional nº- 1, de 9 de abril de 1964, iniciando uma trajetória no exílio que se estenderia por 21 anos, período em que manteve uma intensa e profícua troca de cartas com intelectuais, professores, jornalistas, economistas, sociólogos e políticos.

São diálogos que abordam ideias, muitas em seu nascedouro, das teorias elaboradas em trinta volumes de grandes obras de Celso Furtado – entre elas “Formação Econômica do Brasil” e “Formação Econômica da América Latina” - , que marcaram a história do pensamento econômico brasileiro e latino-americano na segunda metade do século 20. Mas também são cartas que carregam o drama do exílio de tantos cassados que viram a sua produção intelectual no Brasil ser arbitrariamente interrompida.

Rosa Freire D’ Aguiar, segunda esposa de Celso Furtado, mergulhou nesses arquivos inéditos, que somam 15 mil cartas, dando corpo à “Correspondência Intelectual” . O projeto se iniciou em 2019. Na ocasião, foi lançado  “Diários Intermitentes” (Companhia das Letras), obra que reúne anotações deixadas por Celso Furtado ao longo de seis decênios e meio de sua vida, entre 1937 a 2002. “Quando estava preparando os diários, cai nas cartas. Na verdade, nenhum dos dois livros saiu em 2020, ano do centenário. O diário foi publicado em novembro de 2019 e a obra com as correspondências está saindo agora, depois do centenário”, conta ela. 



“Celso mantém uma atualidade em relação a vários eixos de sua produção. Primeiro, pelo esforço que fez de entender o país historicamente, economicamente, que é o grande livro dele, “A formação econômica do Brasil”, e entender também, depois quando foi ministro da Cultura, a formação cultural do Brasil”, afirma Rosa Freire D’Aguiar.

“Celso tem algo mais, a meu ver, porque ele foi o grande teórico do desenvolvimento e do subdesenvolvimento. Até preferia dizer que ele se considerava um teórico mais do subdesenvolvimento do que do desenvolvimento. Infelizmente é um problema que ainda não está resolvido no país, que continua a ter algumas características do país subdesenvolvido. Então acho que ele mantém uma atualidade, que faz com que deva ser lido por toda pessoa que se interesse pelo pensamento social brasileiro e por outras questões, pelo lado da cultura, ciências humanas, sociais em geral”, afirma ela.

Mudança da realidade 

Para além de sua teoria, Celso Furtado buscou também transformar a realidade: foi responsável pela criação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) no governo Kubitschek e como ministro do Planejamento no governo João Goulart, formulou o Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social, lançado em 1962, com as chamadas reformas de base, agrária, tributária e social, que, segundo ele, seriam uma condição fundamental para superar o subdesenvolvimento.



Mesmo não sendo uma transformação do sistema produtivo, o plano foi condenado pelo empresariado brasileiro, pelo empresariado internacional que, articulados com militares e o governo norte-americano, articularam o golpe militar de 64. 

“Celso ficou exilado por 21 anos e foi quando ele mais se correspondeu. Para a organização do livro, o que me interessou foram as cartas em que há diálogo intelectual. É muito difícil fazer uma seleção, pois tinha provavelmente mais de um bom terço de volume de cartas que gostaria de ter publicado. Então a minha ideia foi pegar cartas em que realmente houve um vai e vem”, afirma Rosa.

A lista com quem Celso Furtado correspondeu ao longo de sua vida, trocando impressões sobre a conjuntura, partilhando afinidades e apontando discordâncias teóricas sobre o desenvolvimento do Brasil e da América Latina é ampla e eclética. Passa por Alain Touraine, Albert O. Hirschman, Antonio Callado, Antonio Candido, Bertrand Russell, Caio Prado Jr., Carlos Lacerda, Darcy Ribeiro, Ernesto Sabato, Eugenio Gudin, Fernando Henrique Cardoso, Florestan Fernandes, Francisco de Oliveira, Francisco Weffort, Hélio Jaguaribe e Luciano Martins. E segue, com Lina Bo Bardi, Luiz Inácio Lula da Silva, Maria da Conceição Tavares, Nicholas Kaldor, Otto Maria Carpeaux, Plínio de Arruda Sampaio, Raúl Prebisch, Roberto Campos, entre outros. 





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