Jornal Estado de Minas

MÚSICA E LITERATURA

Marianne Faithfull enfrenta a COVID e não sabe se poderá voltar a cantar

A artista britânica Marianne Faithfull, de 74 anos, que se trata de uma COVID-19 prolongada, teme não poder voltar a cantar, mas acaba de presentear os fãs com um novo álbum de poesia musicada. Devido ao novo coronavírus, ela foi hospitalizada por três semanas em abril de 2020. Por telefone, Marianne conversou com a agência AFP de sua casa, em Londres. A voz parece distante e cansada.





Ao comentar como está a saúde, ela é direta: “Tive uma doença muito dura, quase morri, e agora tenho o que chamam de COVID prolongada. Não é o vírus, mas certamente parece. Está nos meus pulmões, então não posso falar por muito tempo”.

Marianne não sabe se voltará a cantar. “Espero que consiga, canto uma vez por semana. Um amigo vem, toca meu adorável violão e eu pratico”, revela. “É um pensamento horrível. Independentemente do que aconteça, não posso mudar (os fatos).”

ROMÂNTICOS 

No entanto, não desistiu. Ela acaba de finalizar um projeto iniciado antes da doença: recitar, com o apoio de músicos famosos, a obra de poetas românticos do século 19 – Lord Byron, Percy Bysshe Shelley e John Keats, entre outros.





O lançamento do álbum “She walks in beauty” (“Ela caminha sobre a beleza”, em tradução livre, título inspirado em um poema de Byron) está marcado para sexta-feira (30/4). O projeto é antigo, mas “como nem todos o compreendiam”, diz Marianne, foi preciso “encontrar as pessoas adequadas”.


Tudo começou com François Ravard, seu empresário francês, e o australiano Warren Ellis, compositor, multi-instrumentista e velho parceiro de Marianne. Assinado por ela e por Ellis, “She walks in beauty” conta com o australiano Nick Cave no piano, assim como com outro célebre músico, o britânico Brian Eno e o violoncelista francês Vincent Segal.

“Tenho muita sorte, todos são meus amigos”, explica Faithfull, que se refere aos poetas selecionados como “antigos companheiros”. Ela descobriu a obra dos autores oitocentistas quando estudava em um convento na Inglaterra, devido “a uma professora maravilhosa, a senhora Simpson, que certamente não era católica”.





Apesar do sonho de estudar literatura, Marianne mergulhou no pop sessentista. Durante uma festa, o empresário do Rolling Stones não tirou os olhos dela, que se tornou amiga de jovens artistas que despontavam na capital inglesa há seis décadas.

Estrela da efervescente “Swinging London”, Marianne namorou Mick Jagger, o que a associou à classificação redutora de musa dos Rolling Stones. Porém, ela sempre foi muito mais do que isso. Afinal de contas, é uma sobrevivente – e não só da COVID-19, que a obrigou a mudar sua maneira de criar álbuns.

“Com a pandemia, não era possível fazer como antes no estúdio, todos juntos. Gravei em meu apartamento”, conta. Depois, ela enviou o material para Warren Ellis, que vive na França.

“Não foi tão difícil como pensei, mas foi um problema. Quando todos estão juntos no estúdio, você consegue dizer muito sobre o que as pessoas estão pensando ao observar sua linguagem corporal. Não tínhamos nada disso. É uma sorte incrível que tenha ficado tão bom”, afirma.





JAGGER E RICHARDS 

Marianne Faithfull tinha 17 anos quando foi descoberta na tal festa em Londres. Garota da elite britânica, bonita e inteligente. Mick Jagger e Keith Richards escreveram para ela a balada “A tears go by”, a pedido do empresário dos Stones que a “descobrira”. Casou-se com um galerista famoso, separou-se para viver romance atribulado com Jagger por quatro anos, viveu à risca os anos “drogas and rock and roll”.

A bela inglesa fez sucesso com uma série de compactos –  “This little bird”, “Summer nights” e “Sister morphine”, canção dela, Jagger e Richards. A parceria nesta famosa música sobre as drogas rendeu briga na Justiça, pois o nome de Marianne não foi creditado na ficha do álbum “Sticky fingers”, onde foi lançada. Marianne venceuos Stones nos tribunais.


Antes disso, a compositora e atriz também participou, a convite dos Beatles, do coro de “All you need is love” na primeira transmissão mundial de televisão via satélite, ao lado de  Jagger, Keith Moon e Eric Clapton.





Enfrentando graves problemas com as drogas, Marianne se mudou para a Irlanda, nos anos 1970. Chamou a atenção com o disco solo “Dreaming my dreams” (1976) e, sobretudo, com “Broken english” (1979) e “Stranger weather” (1987), trabalhos aclamados pela crítica, assim como “Blazing away”, lançado em 1990.

Admirada por Beck, PJ Harvey, Carla Bruni e Nick Cave (com quem fez ótimas parcerias), Marianne lançou “Negative capabality” em 2018, disco influenciado pela poesia de John Keats, que ela volta a homenagear agora.

A cantora e atriz fez vários filmes. Era a Ofélia em “Hamlet”, longa de Tony Richardson lançado em 1969. Também participou de “Paris, te amo” (2006), que traz curtas de vários diretores; “Maria Antonieta” (2007), dirigido por Sofia Coppola; “Irina Palm” (2008), de Sam Garbarski; “Visões de um crime” (2011), de Julien Magnat; e do documentário “My generation” (2017), de David Batty, ao lado de Paul McCartney e Michael Caine.

audima