Sessões de cinema e debates, em salas de todo o país, com ingressos a preços acessíveis, exibindo exclusivamente a produção nacional contemporânea. Nascido há 10 anos, o projeto Sessão Vitrine lançou
50 longas, filmes de nomes como Gabriel Mascaro, Juliana Antunes e Adirley Queirós. Interrompido em 2020 em decorrência da pandemia, o projeto volta nesta quinta-feira (29/4), em modelo híbrido, para celebrar sua primeira década.
Quatro longas já exibidos em festivais, porém inéditos no circuito, serão lançados: “A torre” (MG), de Sérgio Borges, “Entre nós, um segredo” (SP/México/Burkina Faso), de Beatriz Seigner e Toumani Kouyaté, “Chão” (DF), de Camila Freitas, e “Desvio” (PB), de Arthur Lins. O lançamento será presencial somente em cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Mas hoje os filmes entram em cartaz, via aluguel, em plataformas de vídeo sob demanda.
A programação ainda traz quatro curtas – “Looping”, de Maick Hannder, “Joãosinho da Goméa – O rei do candomblé”, de Janaína Oliveira ReFem e Rodrigo Dutra, “Em reforma”, de Diana Coelho, e “Os últimos românticos do mundo”, de Henrique Arruda –, que estarão em cartaz na plataforma Cardume.
“A Sessão Vitrine é conhecida pelo trabalho de curadoria. Nesta edição, selecionamos filmes que trazem olhares diversos, exibidos em festivais nacionais e internacionais. Buscamos também agregar a descentralização ao valor artístico”, comenta Felipe Lopes, diretor da Vitrine. Tanto por isso, as produções vieram de diferentes estados.
Ainda que esteja completando 10 anos, o projeto foi descontinuado algumas vezes, pois só se viabiliza com patrocínio. No início de 2019, a Petrobras deixou de patrocinar o evento. Por meio de apoios diversos – “quase na guerrilha”, diz Lopes –, houve a edição enxuta daquele ano. Agora, ele retorna para a edição comemorativa por meio do Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo e da Lei Aldir Blanc.
“Trabalhamos com sessões gratuitas, fazemos parcerias com universidades para promover debates, disponibilizamos filmes para cineclubes. Ou seja, a Sessão Vitrine tem toda uma frente que não é comercial, cuja continuidade é garantida pelo patrocínio. A gente segue buscando, conversando com empresas, vendo editais públicos. É um processo de resistência cultural. Acredito que como conseguimos agora, conseguiremos outras vezes”, acrescenta Lopes.
SESSÃO VITRINE
Nesta quinta-feira (29/4), lançamento dos filmes “A torre”, de Sérgio Borges, “Entre nós, um segredo”, de Beatriz Seigner e Toumani Kouyaté, “Chão”, de Camila Freitas, e “Desvio”, de Arthur Lins. Todos estão disponíveis para aluguel no Now, Oi Play e Vivo Play. Para assistir aos curtas, é necessário acessar a plataforma Cardume (cardume.tv.br), cuja assinatura mensal custa R$ 5.
De Minas para o mundo
Um homem em plena crise da meia-idade acarretada pela separação recente. É esse o mote de “A torre”, filme do mineiro Sérgio Borges. Enrique Diaz vive o protagonista André, que transita entre o real e o imaginário num cenário idílico, uma casa no meio da floresta, próxima a várias cachoeiras.
Lançado no final de 2019 no Festival do Rio, “A torre” foi exibido em outros eventos do circuito, como as mostras de Tiradentes e do Filme Livre. “É uma fábula sobre a iniciação da meia-idade, a saída da juventude e entrada na vida adulta e todas as questões e mudanças de valores que isso acarreta”, diz Borges, que vivenciou uma crise pessoal próxima à da personagem.
CRISE
Para o realizador, a trajetória de André vem, em certa medida, da crise do masculino. “Algo que, além do lado pessoal, passa pela própria sociedade, que como um todo está tentando desconstruir valores patriarcais.”
A ideia da torre, explica Borges, veio do tarô. “A carta da torre fala da queda, mas também da possibilidade de reconstrução. É essa a ideia que move o personagem. Mesmo andando em suas sombras, ele tenta encontrar a luz do novo.”
O longa foi rodado em Aiuruoca, no Sul de Minas. Além de Diaz, o elenco traz Caio Horowicz e Maeve Jinkings, em pequena participação. A natureza se destaca, com personagens explorando os corpos em relação de completa liberdade.
“É um filme mais aberto, que pode ter várias interpretações. Para mim, ele se passa dentro do personagem”, acrescenta Borges. “A torre” contou também com a participação de pessoas que vivem na comunidade do Vale do Matutu, antiga rota indígena com forte apelo espiritual.
O longa vem a público no momento em que outro filme de Borges inicia sua participação no circuito de festivais internacionais. Projeto realizado nos últimos sete anos, o documentário “Lutar, lutar, lutar”, codirigido com Helvécio Marins Jr., foi exibido em março no Bafici – Festival Internacional de Cinema Independente de Buenos Aires. Em junho, ele estreia no Festival de Roterdã, na Holanda.
Coproduzido com a ESPN, o filme conta a história do Clube Atlético Mineiro de 2008 a 2014, quando o Galo venceu a Copa do Brasil, um ano depois de ser campeão da Libertadores.
“É uma história linda, meio de utopia, pois o Atlético nasceu como o time da cidade e o futebol sempre foi o espaço da diversidade social. É um filme muito voltado para a emoção do torcedor, próximo da arquibancada, e mostra por que o atleticano é o torcedor mais apaixonado do mundo”, diz Borges.
EM CARTAZ
“ENTRE NÓS, UM SEGREDO” (2020)
Documentário de Beatriz Seigner e Toumani Kouyaté. Já exibido em Belo Horizonte no Forum.doc e na Mostra Cine BH, acompanha a história do malinês Toumani Kouyaté. Radicado no Brasil há muitos anos, o djéli (contador de histórias e mediador de conflitos da África) retorna, a pedido do avô, ao seu vilarejo natal para ouvir a última história
contada por ele.
“CHÃO” (2019)
Documentário de Camila Freitas. Durante quatro anos a realizadora acompanhou o grupo de trabalhadores que ocupou parte das terras de uma usina de cana-de-açúcar endividada, no Sul de Goiás. Acampadas, cerca de 600 pessoas constroem um refúgio de agroecologia, reflexão política e resistência.
“DESVIO” (2018)
Ficção de Arthur Lins. Em seu primeiro longa, o realizador paraibano foi até o sertão para acompanhar três dias na vida de Pedro (Daniel Porpino). Presidiário liberado para o indulto de Natal, ele vai visitar a família em Patos, onde reencontra lugares e pessoas que não via há uma década. Entre elas está a prima Pâmela (Annie Chrissel).