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Estado de Minas

Biografia de Philip Roth é retirada do mercado nos EUA e balança no Brasil

Decisão da editora norte-americana se deve a acusações de assédio sexual contra o autor do livro, Blake Bailey. Cia das Letras suspendeu processo de tradução


30/04/2021 04:00 - atualizado 30/04/2021 07:37

Philip Roth (1933-2018) deu entrevistas para o autor da biografia, que começou a ser elaborada em 2012, e permitiu acesso aos seus arquivos(foto: Jim WATSON/AFP)
Philip Roth (1933-2018) deu entrevistas para o autor da biografia, que começou a ser elaborada em 2012, e permitiu acesso aos seus arquivos (foto: Jim WATSON/AFP)

A editora da aguardada biografia do escritor norte-americano Philip Roth (1933-2018) cancelou definitivamente a publicação do livro nos Estados Unidos e rompeu laços com seu autor, Blake Bailey, que enfrenta várias acusações de assédio e abuso sexual. A W.W. Norton and Company lançou anteriormente “The splendid things we planned” (“As coisas esplêndidas que planejamos”), livro de memórias de Bailey. 

"A Norton está tirando permanentemente de catálogo as edições de ‘Philip Roth: The biography’ e do livro ‘The splendid things we planned’, de 2014", informou a editora, na última terça-feira (27/4).

"Blake Bailey é livre para tentar publicar seu livro por outra editora. Além disso, a Norton vai fazer uma doação no valor do adiantamento do livro ‘Philip Roth: The biography’ para organizações que lutam contra a agressão ou assédio sexual e que trabalham para proteger as vítimas", acrescentou a editora.

A surpreendente decisão vem na esteira da divulgação, na semana passada, de que Bailey, que na década de 1990 dava aulas de inglês para alunos da 8ª série em Nova Orleans, comportou-se de maneira inadequada com os alunos, buscando depois relações sexuais. Dois ex-estudantes e um editor executivo alegaram que ele os agrediu.

Imediatamente, Bailey foi dispensado por sua agência literária, a Story Factory, e a Norton anunciou, na semana passada, que faria uma pausa na impressão e na divulgação do livro, até que avaliasse as acusações. A editora reconheceu ter sido procurada, anonimamente, por uma mulher, em 2018, que alegou que Bailey havia abusado dela três anos antes. A empresa nunca respondeu diretamente ao e-mail, enviado pela vice-presidente de vendas e marketing da Bloomsbury, Valentina Rice, e em vez disso o encaminhou para Bailey.

DRÁSTICO 
Rice veio a público com suas alegações na semana passada. Bailey, cujo livro sobre Roth foi lançado no início de abril, negou que tenha cometido qualquer transgressão. Seu advogado, Billy Gibbens, condenou o anúncio e ressaltou que o livro está sendo vendido no exterior. 

"(A editora) Norton tomou a decisão drástica e unilateral de cancelar os livros com base nas alegações falsas e infundadas contra ele (o autor), sem realizar nenhuma investigação ou oferecer a Bailey a oportunidade de refutá-las", disse o advogado. "Os editores europeus de Bailey sabiamente não tomaram uma decisão tão precipitada, e a reação automática de Norton é preocupante e injustificada."

A biografia de Philip Roth pode continuar disponível nos EUA, mas no formato de audiolivro, lançado por uma empresa diferente, a Recorded Books Inc, que não respondeu à consulta da reportagem sobre o que fará com a obra.

Poucas biografias foram tão aguardadas quanto a do escritor Philip Roth. Bailey, conhecido pelas aclamadas biografias de John Cheever e Richard Yates, trabalhou desde 2012 no livro do autor de “Pastoral americana”, “Complô contra a América” e “Complexo de Portnoy”, entre outros. Ele teve amplo acesso a Roth, morto em 2018, e aos seus arquivos. ‘Philip Roth: The biography’ chegou à lista de mais vendidos do “New York Times” e as resenhas foram, em sua maioria, positivas, embora alguns críticos tenham comentado que Bailey foi muito tolerante com Roth em sua forma de tratar as mulheres.

No Brasil, a Companhia das Letras, que comprou os direitos da obra, decidiu cancelar o trabalho de tradução. A editora ainda não informou se também vai cancelar a obra. Nem todos concordam que o livro deva ser retirado. "Se aplicarmos esse padrão em grande escala, haverá milhares de livros de fanáticos, misóginos e malfeitores que poderiam ser retirados de circulação por esse motivo", disse Suzanne Nossel, CEO do PEN America. 


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