Jornal Estado de Minas

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Série de Bruno Barreto mostra a escravidão que ainda vigora no Brasil



Apenas na semana passada, 11 pessoas foram libertadas em Abadiânia, arredores do Distrito Federal, porque cortavam eucalipto em uma fazenda em troca de abrigo e comida. Também foram “alforriados” seis trabalhadores que faziam cercamento de gado em Novo Progresso, no Pará, vivendo em barracões sem condições sanitárias. Só no mês de abril, outros 22 foram salvos em Ituverava, no interior de São Paulo, e 12 em Minas Gerais.





No dia 13, completam-se 133 anos da abolição da escravatura no Brasil, mas ela ainda persiste, só que com contornos diferentes. É esse o tema da série em cinco episódios “Escravidão – Século 21”, em cartaz na HBO e HBO Go. O programa analisa os temas cultura da escravidão, escravidão rural, dinâmica da escravidão, escravidão globalizada e sexo e escravidão.


LIVRO 
Foi Luiz Carlos Barreto, o Barretão, veterano produtor de “A hora e a vez de Augusto Matraga” e “Terra em transe”, entre outros clássicos do cinema nacional, quem sugeriu ao filho, o diretor Bruno Barreto, a leitura de “Pisando fora da própria sombra: A escravidão por dívida no Brasil contemporâneo”, do padre Ricardo Rezende. O pai achava que o filho poderia fazer um filme de ficção a partir da história de José Pereira Ferreira, agricultor que foi forçado a trabalhar sem remuneração desde os 17 anos, no Pará.

Ferreira fugiu e foi dado como morto depois de levar tiros dos funcionários da fazenda, mas conseguiu se recuperar e denunciar o dono da propriedade. Recebeu indenização do governo federal, que foi condenado por omissão pela Organização dos Estados Americanos (OEA).





“Sou ficcionista”, diz Bruno Barreto, que divide a direção da série com Marcelo Santiago. Foi o mesmo Barretão quem sugeriu que, antes de um longa de ficção, ele fizesse uma série documental sobre os diversos tipos de trabalho escravo que existem em pleno 2021.

Filme mostra também as precárias condições de trabalho no Brasil

IMPACTO 
Bruno revelou sua dificuldade em lidar com o documentário. “Tenho problemas éticos. Documentário é uma farsa, porque finge que é a realidade, mas não é, porque você edita, enquadra. O espectador é levado a acreditar que é a realidade”, comenta. Por isso, ele decidiu incluir encenações, como tinha visto na série “The Jinx: The life and deaths of Robert Durst”, coincidentemente também da HBO.

“Minha intenção era que não ficasse chato ou didático. Queria que o espectador se envolvesse emocionalmente com essas histórias. Minha meta era emocionar sem manipular. E trata-se de uma linha muito tênue”, afirma o cineasta.





Marcelo Santiago contou com a ajuda do próprio padre Ricardo Rezende e do Ministério Público do Trabalho para escolher os personagens e convencê-los a participar da série. “Nossa maior dificuldade foi o impacto emocional”, explica. Os depoimentos são difíceis de ouvir, nota-se o trauma na voz de cada uma das vítimas.

“A maioria acaba chorando, mas não é de maneira nenhuma autopiedade”, diz Bruno Barreto, emocionando-se. “É que quando começam a contar, volta a dor. Eles choram por dor, não por piedade de si mesmos. São pessoas muito resilientes.”

Para Barreto, o mais importante é a condição humana e não a causa. “A causa tem de ser subtexto. O que me interessa é a condição humana, os conflitos, os personagens.”

José Pereira aparece no segundo episódio – foi difícil encontrá-lo, pois ele vive escondido, com medo de represálias por ter denunciado os antigos patrões. Mas Barreto ainda não desistiu de fazer uma ficção baseada em sua história. “É um roteiro pronto”, comenta o diretor.





Além dos personagens, a série tem entrevistas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do diplomata Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores, e do jornalista Leonardo Sakamoto, que traçam um panorama da situação no Brasil.

Segundo o Radar da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, 1.054 pessoas foram resgatadas de situações análogas à escravidão em 2019. Mas, no ano passado, houve redução de 40% na verba para o combate ao trabalho escravo.

Para Bruno Barreto, a escravidão do século 21 pouco tem a ver com a do século 19. “Hoje, há escravidão no mundo inteiro. Ela não está resumida a um grupo ou etnia específica”, conclui. (Agência Estado)


“ESCRAVIDÃO – SÉCULO 21”
.Minissérie dirigida por Bruno Barreto
.Primeira temporada
.Exibição de novos episódios em 11, 18 e 25 de maio e 1º de junho, à 0h, na HBO
.Disponível no HBO Go





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