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Estado de Minas

Com liberdade feminina e poesia, Camilla Inês lança "Gotas de oceano"

Quarto álbum da cantora pernambucana radicada em Brasília aproxima a artista da MPB, mas sem perder a essência do jazz


24/05/2021 04:00 - atualizado 24/05/2021 07:31

Pernambucana radicada em Brasília, Camilla Inês compôs parte do repertório em Leiria, onde morava, em Portugal(foto: Helena Mello/Divulgação)
Pernambucana radicada em Brasília, Camilla Inês compôs parte do repertório em Leiria, onde morava, em Portugal (foto: Helena Mello/Divulgação)

Nascida em Pernambuco e radicada em Brasília, Camilla Inês chega ao seu quarto disco, “Gotas de oceano” (Tratore). Produzido pelo instrumentista, compositor, arranjador e produtor musical Swami Jr., ganhador do Grammy Latino (2009) na categoria melhor álbum tropical, com “Gracias”, da cantora cubana Omara Portuondo, produção dele e Alê Siqueira, o álbum reverencia a liberdade feminina com poesia e filosofia.

Com sete faixas autorais, o disco traz vestígios dos momentos de introspecção decorrentes da pandemia, vivenciados pela artista. Dividida entre Brasil e Portugal, Camilla compôs parte do repertório em Leiria, cidade portuguesa localizada na província da Beira Litoral. A experiência rendeu uma homenagem da cantora ao local que a acolheu até janeiro de 2020.

A artista, que já lançou os CDs “Jazzmine” (2011) e “The rhythm of samba” (2015), o EP “Influências do jazz” (2008) e o single “Vamos dançar um bolero” (2018), se entrega no clima de “Gotas de oceano”, álbum que nasceu durante o período de isolamento social. O disco aproxima a cantora da MPB, porém sem perder a essência do Jazz.

A faixa “Contra-ponto”, que tem pegada funk com metais fortes, abre o álbum. Camilla explica que é uma música dançante que convida o público para refletir sobre os rótulos sociais. “É também uma evocação de coragem contra uma sociedade formatada por padrões deturpados por uma massa muitas vezes xenofóbica, homofóbica ou racista.”

É uma canção contra as intolerâncias sociais. “Vivemos um antropofagismo nas redes sociais há anos, sendo que as pessoas se escondem para machucar as outras. São notícias e perfis fakes, então, essa é uma questão antropofágica. Muito me incomoda quando vejo essas questões sociais sendo discutidas novamente. A medicina e a tecnologia evoluem, mas o caráter do homem não evolui, está sempre no princípio, lá no início. Muito primário, o pensamento do homem tem sempre essas questões de racismo, homofobia, xenofobia e feminicídio. Essa canção fala muito sobre a intolerância social.”

Já a canção “Morena” é um autorretrato que fala da busca da artista por si mesma e relembra a linguagem de Dominguinhos, como se ele tivesse composto. “Quando ouço isso de um crítico, fico muito feliz, porque sou do Nordeste. Isso mostra que as minhas raízes ainda estão vivas dentro de mim, por mais que ande por todos os caminhos e vá por vários outros lugares do mundo. Mas essa raiz do que a gente é permanece”, diz Camilla.

A música recebeu a interpretação de Mestrinho do Acordeom. “Um sergipano muito talentoso. Ela tem sonoridade do Nordeste. E vem da mulher nordestina que existe em mim, resiliente, valente, determinada, aquela que não desiste. Essa valentia existe em todos os brasileiros e isso é notório, faz parte da alma brasileira, pois somos trabalhadores, destemidos e, ao mesmo tempo, um povo alegre, acolhedor diante das adversidades da vida”, detalha a artista.

Em “Vã filosofia”, Camilla confirma sua afinidade musical com o produtor Swami Jr. A música surgiu durante um desabafo nas redes sociais. “Sentia muita falta da minha família, mesmo estando a poucos quilômetros de distância. Falava muitas vezes ao telefone com uma amiga em Portugal e ela sentia o mesmo. Percebi que muitos estavam perto de suas famílias, mas isolados ao mesmo tempo. Foi quando escrevi os versos ‘que vã filosofia/que ironia/te querer e não te ter'”.

INSPIRAÇÃO 

A faixa que dá nome ao disco, “Gotas de oceano”, mistura sentimentos e emoções numa mensagem para tempos difíceis. A cantora confessa que deixa a intuição falar mais alto: “Componho muito rápido, sou uma observadora, uma fotógrafa dos gestos, movimentos e comportamento social, tudo me inspira. Esse processo é imediato. Muitas vezes, nem preciso do instrumento musical”.

Esse é o primeiro trabalho autoral de Camilla. “Uma estreia como compositora, o que me dá muita alegria, ainda mais neste momento em que está todo mundo distante do palco. Esse foi um trabalho que começou em Portugal, quando morava lá e comecei a compor, em 2109. Em 2020, vim para o Brasil para visitar minha família e resolver alguns assuntos pessoais, aí veio o lockdown e não pude mais voltar. Então, resolvi dar continuidade a esse processo de composição. Foi quando resolvi gravar e mostrar essas músicas.”

Camilla relembra ainda que “Gotas de oceano” surgiu quando estava fazendo um workshop de composição com Francis Hime. “Ele passava os acordes para nós e dizia:‘Agora vou dar uma linha melódica’. Ou seja, ele nos provocava para continuarmos a fazer a canção. Fiz a letra me baseando nas lives a que assisti. Em todas vi que as pessoas repetiam a frase ‘só sou uma gota do oceano’. Senti que a resiliência das pessoas nesse processo de lockdown estava diminuindo.”

REPERTÓRIO

1. Contra-ponto
2. Morena
3. Vã filosofia
4. Tudo é fugaz
5. Gotas de oceano
6. Sereia
7. Leiria

“GOTAS DE OCEANO”

Camilla Inês
Tratores
Disponível nas plataformas digitais


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