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Estado de Minas MÚSICA

Infarto mata o pioneiro Dirceu Cheib, fundador da gravadora Bemol, em BH

Figura querida dos músicos mineiros, ele gravou discos do Uakti, Pato Fu, Toninho Horta e de JK. 'Foi um mestre do áudio no Brasil', diz Ricardo Cheib


27/05/2021 16:41 - atualizado 28/05/2021 00:45

Dirceu Cheib e o filho Ricardo nos estúdios da Bemol, em fevereiro de 2008(foto: Jackson Romanelli/Especial para o EM 11/2/2008)
Dirceu Cheib e o filho Ricardo nos estúdios da Bemol, em fevereiro de 2008 (foto: Jackson Romanelli/Especial para o EM 11/2/2008)
Dirceu Cheib, fundador da gravadora Bemol, morreu de infarto em sua casa, nesta quinta-feira (27/5), em Belo Horizonte. Ele tinha 84 anos e o corpo será sepultado no final desta tarde no Parque Renascer, em cerimônia reservada a familiares devido à COVID-19.


Cheib deixa a esposa, Darcy, e os filhos Lincoln e Ricardo. A Bemol foi aberta há 54 anos na capital mineira, com a proposta de oferecer gravações e finalização de qualidade. Foi o primeiro estúdio brasileiro a trabalhar com a tecnologia dos gravadores Ampex transistorizados. O engenheiro de som Ricardo Cheib comanda a empresa atualmente.


Por lá passaram Milton Nascimento, Uakti, Marcus Viana e Sagrado Coração da Terra, Esdra Neném Ferreira, Fernanda Takai, Pato Fu, Clara Nunes e Toninho Horta, entre outros artistas. Também foi lá que o ex-presidente Juscelino Kubitschek gravou um disco de serestas. O primeiro LP realizado no Bemol foi “Noite de lua”, do violonista José Vicente.

PANCADAS

Ricardo Cheib diz que o pai era um mestre do áudio em Minas e no Brasil. “Falo isso porque, em 1962, ele, recém-formado em direito, foi trabalhar com o colega que já tinha um escritório. Depois, com o meu tio Afrânio, montou o selo MGM e começaram a produzir em São Paulo, sem conhecer nada na área. Tomaram algumas pancadas, mas foram aprendendo e, posteriormente, montaram o selo Palladium. Continuaram a produzir até a criação da Bemol, em 1967. Grandes artistas passaram por lá, como o Clube da Esquina, Uakti, o pessoal do instrumental. Vira e mexe, escuto alguém dizer: ‘Minha primeira gravação foi na Bemol’.”


Emocionado, Ricardo Cheib lê as palavras de despedida que o músico Célio Balona postou em sua página no Facebook: “A história da música de Minas é antes da Bemol e pós-Bemol. Realmente, é isso, ela é divisor de águas na música mineira. As virtudes de Dirceu são muitas. Era uma pessoa honesta, simples e que abriu as portas para todos, tanto para quem estava começando a sua carreira quanto para os mais experientes. Foi um guerreiro dessa história, batalhou e nunca desistiu da cultura em Minas e no Brasil. Sempre foi uma pessoa que pensou à frente do seu tempo”.


Ricardo ressalta que o pai era um visionário muito afetuoso, o que se tornou marca registrada da Bemol. “Ele foi uma pessoa com um coração lindo, muito humilde e respeitando todos, sempre. Estou no estúdio há alguns anos, tomando a frente e gravando. Graças a Deus, herdei isto dele: o respeito pelo próximo, fazendo sempre o melhor pelo próximo.”

PAI
O cantor e compositor Paulinho Pedra Azul considerava Dirceu Cheib “um pai”. “Dos 28 discos que gravei, 23 foram na Bemol, convivi com o Dirceu mais de 35 anos. Ele tinha um comportamento de proteção muito grande com todos nós. Facilitava muito as coisas, até os pagamentos. Ele passava aperto, mas não deixava a gente passar. Mesmo apertado, ele parcelava os pagamentos. Fica a saudade de um grande cara, que era da paz”, diz o cantor.


O baixista Enéias Xavier conta que Dirceu Cheib foi o primeiro técnico de som que ele conheceu. “Queria acompanhar os meus heróis Robertinho Silva e Luiz Alves. O Wilson Lopes me convidou para assistir ao ensaio na Bemol. De lá pra cá, são 30 anos de alegria e amizade, mas hoje fica a profunda tristeza de perdemos uma das peças mais importantes da construção da música em Belo Horizonte, afirma.


Foram registradas no famoso estúdio belo-horizontino as trilhas sonoras dos filmes 'Lavoura arcaica', composta por Marco Antônio Guimarães, 'Cabaré mineiro', criada por Tavinho Moura, e 'A dança dos bonecos', de Nivaldo Ornelas, além de trilhas dos espetáculos do Grupo Corpo.


No site da empresa, Milton Nascimento diz que a Bemol é “um símbolo de persistência e qualidade”, destacando “as mãos, ouvidos e competência” de Dirceu Cheib.

O multi-instrumentista Marco Antônio Guimarães revela que gravou na Bemol pela primeira vez os instrumentos que construiu, no fim da década de 1970, antes mesmo da criação do Uakti. Posteriormente, o grupo instrumental registrou lá CDs e trilhas sonoras que assinou.


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