Jornal Estado de Minas

MÚSICA

Aldir Blanc inspira disco de Augusto Martins e Paulo Malaguti Pauleira


Aldir Blanc morreu há um ano, vítima da COVID-19, mas sua obra está mais viva do que nunca. Prova disso é o projeto da dupla Augusto Martins (voz) e Paulo Malaguti Pauleira (piano), que vem mandando para as plataformas digitais singles das composições do carioca. Todos eles farão parte do disco “Como canções e epidemias”, com 14 faixas, cujo lançamento está previsto para este ano. Uma delas é a inédita “Muito além do jardim”, parceria de Blanc com Moacyr Luz.





“Altos e baixos” (Sueli Costa e Aldir Blanc), gravada por Martins e Pauleira há 16 anos, foi divulgada conforme o registro original. Em abril, a releitura de “Caça à raposa” (João Bosco e Aldir Blanc) chegou a público, com direito a clipe no YouTube.

BLUES 
Agora é a vez de “Por favor”, parceria de Aldir com Ivan Lins. “É um blues, mas com harmonia e melodia características do Ivan. Adorei gravar essa canção. No começo da carreira, eu tocava rock e blues. Voltar ao blues foi o retorno ao início dos meus estudos”, diz Pauleira.

“Ficou muito legal. Parece ter mais instrumentos do que tem na verdade, embora o piano esteja lá”, comenta Augusto Martins.

Aldir Blanc é uma força da natureza, acredita a dupla. “Homem inquieto, alma em ebulição, ele mostrava isso com sua poesia poderosa e de muita originalidade. Capaz de rir das próprias fraquezas, falava do país com uma imensa força política, sempre apontando as mazelas deste Brasil tão doído”, observa Augusto. “Ele tinha muito orgulho de ser brasileiro, carioca e tijucano. Era um profundo observador do ser humano”, comenta.





Martins chama a atenção para o fato de o projeto destacar o cantor num repertório majoritariamente interpretado por mulheres – Elis Regina, Nana Caymmi e Rosa Passos, entre outras. “A voz masculina, não considerando os cantautores, anda meio de lado na grande canção brasileira. Ela é perfeita para ser gravada nestes tempos de isolamento social”, acredita Augusto.

As faixas foram gravadas em um estúdio carioca respeitando os protocolos sanitários. “Eu em uma sala, Pauleira em outra e o técnico na terceira”, garante Augusto. Aliás, ele acredita que a pandemia tem tudo a ver com “Caça à raposa”, cujo verso batizou o novo disco. “A letra diz: 'Recomeçar como canções e epidemias/ Como as colheitas, como a Lua e a covardia/ Como a paixão e o fogo'. Nunca tive tanta certeza de fazer um trabalho.”

O repertório trará também “Querido diário” (João Bosco e Aldir Blanc), “Resposta ao tempo” (Cristóvão Bastos e Aldir Blanc), “Causa perdida” (Rosa Passos e Aldir Blanc), “Rancho da goiabada” (João Bosco e Aldir Blanc), “Corsário” (João Bosco e Aldir Blanc) e “Êxtase” (Djavan e Aldir Blanc).





PESQUISA 
Chegar às 14 faixas não foi nada fácil. O critério de seleção ocorreu a partir de dois prismas: “Nossas paixões e uma pesquisa profunda, pois lemos todas as letras”, explica Augusto Martins. “Escolhemos separadamente aquilo que cada um achava que não podia faltar ou que nos fosse muito especial. Raridade ou sucesso, não importava. Não queríamos fazer um álbum revisitando apenas sucessos desta obra tão vasta e multifacetada.”

Augusto fez ampla pesquisa sobre o legado do compositor. “Li todos os livros e letras do Aldir. Ouvi muita coisa também. Cheguei a ficar uma semana isolado em Teresópolis, imerso na obra dele”, relembra. Pauleira também fez o mergulho dele. “Pesquisei quantas gravações havia de cada música, fomos fazendo um bate-bola. Decidimos por 14 canções”, comenta.

O processo do álbum respeitou a democracia que Aldir Blanc tanto prezava. “Penamos um bocado para convencer um ao outro, mas foi um convencimento muito legal. A pandemia comendo e a gente no WhatsApp e no celular, trocando figurinhas para fechar o repertório”, diz Augusto.





O disco conta também com a participação do cantor Zé Renato, que gravou em casa “Filho de Núbia e Nilo”, parceria de Aldir com Moacyr Luz. “Essa canção tem uma temática importante, pois fala das questões raciais no Brasil, uma letra muito atual de Aldir.”

Pauleira, que integra o grupo MPB4, diz que foi praticamente convocado por Augusto para produzir o álbum. 

“Ele me incumbiu da tarefa hercúlea de traduzir para o mínimo de notas a imensidão das canções. Assim como Jobim, Aldir me exige tudo o que tenho no coração de músico brasileiro”, afirma o pianista. “Mergulhar na obra dele é uma festa para a qual qualquer carioca gostaria de ser convidado. Letra e música no melhor dos mundos entre a Zona Sul e a Zona Norte do Rio de Janeiro”, diz Pauleira.

A ideia da dupla é lançar cinco ou seis singles antes de o disco cheio sair. “Tudo vai depender da pandemia. Já temos seis faixas  prontas. O restante está gravado, porém falta masterizar.  Na verdade, se quisermos lançar daqui a três semanas, podemos. Mas vamos com calma, esperando para ver como fica a questão do isolamento social”, explica o cantor.





Augusto Martins sonha com o show presencial. “Adoro palco. Estamos em compasso de espera, e acredito que daqui a uns três meses vamos lançar o álbum. Podemos alongar o prazo ou não, tudo dependerá do andamento da pandemia.”

Pauleira concorda. “O disco está muito bom, gravamos 'Rancho da goiabada' com um arranjo bem diferente, que o João Bosco adorou”, revela. “Há um bom tempo viemos amadurecendo o projeto, inclusive ensaiando durante a pandemia. Estou muito feliz com o resultado. A ideia dos singles se tornou viável, pois hoje em dia é mais difícil lançar um CD completo.”

“POR FAVOR”
.De Ivan Lins e Aldir Blanc
.Single de Augusto Martins (voz) e Paulo Malaguti Pauleira (piano)
.Disponível nas plataformas digitais





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