Maurice Capovilla, de 85 anos, morreu em casa, nese sábado (29/05), no Rio de Janeiro. Ele passou seus últimos anos acamado, vítima do mal de Alzheimer. Capô, como todo mundo carinhosamente o chamava no meio cinematográfico, foi diretor de talento. Entre seus vários filmes, destacam-se o documentário “Subterrâneos do futebol” (1965) e as ficções “Bebel, garota propaganda” (1967), “O profeta da fome” (1970) e “O jogo da vida” (1977).
Com extensa carreira como produtor, ator e professor, o paulista Capovilla trabalhou no projeto original do Instituto Dragão do Mar, em Fortaleza, núcleo cinematográfico criado pelo governo do Ceará.
Fez filmes muito bons. O longa “Bebel, garota propaganda” é adaptado do romance de Ignácio de Loyola Brandão, e “O jogo da vida”, de “Malagueta, Perus e Bacanaço”, de João Antônio.
Talvez seu trabalho mais marcante e original seja o incisivo, estranho e corrosivo “Profeta da fome”, estrelado por José Mojica Marins, o Zé do Caixão. O personagem vive de se exibir como faquir e acaba, involuntariamente, criando uma seita, na qual seria o guru e salvador. Mas o espírito iconoclasta da figura tão bem interpretada por Mojica impede a seita de prosperar.
“Subterrâneos do futebol”, com seu corte sociológico, talvez ainda seja a melhor radiografia do nosso esporte mais popular. Esporte ao qual Capô sempre esteve muito ligado – passou perto de se tornar atleta profissional na juventude, quando saiu de sua Valinhos natal para treinar no Fluminense.
Figura adorável, Capô era cheio de vida e incansável dançarino. Animava as noites alegres dos festivais de cinema quando eles ocorriam de maneira presencial e eram pontos de encontro de amigos, além de espaço de debates.
Maurice Capovilla deixou ainda o longa de ficção “Harmada” (2005), baseado no romance homônimo de João Gilberto Noll e protagonizado por Paulo César Pereio.
Também dirigiu um documentário em homenagem ao compositor Lupicínio Rodrigues, “Nervos de aço”, título de uma das canções de Lupi, magistral cultor da dor-de-cotovelo. Grande admirador de Lupicínio, Capovilla, no entanto, tinha a alegria como divisa maior e vocação natural.