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Estado de Minas Música

Crônicas do confinamento

Em "Pelespírito", Zélia Duncan revela suas angústias, descobertas e desafios nestes tempos sombrios. Novo álbum comemora os 40 anos de carreira


31/05/2021 04:00 - atualizado 31/05/2021 06:52

Zélia Duncan se orgulha de festejar quatro décadas de trajetória com um álbum de canções inéditas(foto: Denise Andrade/divulgação )
Zélia Duncan se orgulha de festejar quatro décadas de trajetória com um álbum de canções inéditas (foto: Denise Andrade/divulgação )

 
Quem ouvir “Pelespírito”, álbum de Zélia Duncan que acaba de chegar às plataformas digitais, seguindo a ordem de músicas proposta pela autora – algo mais raro de ocorrer atualmente, pois o ouvinte agora percorre caminhos sinuosos e não em linha reta –, vai perceber que há nele um roteiro idealizado pela cantora e compositora fluminense.
 
Esse itinerário, pensado e escrito em parceria com o poeta e músico pernambucano Juliano Holanda, tem a ver com o que Zélia queria expressar, mesmo que de maneira natural – ela se diz avessa à ideia de uma mensagem preestabelecida –, em um disco totalmente de músicas inéditas feito durante a pandemia, um dos períodos mais sombrios para a humanidade, e em especial para o Brasil.

CURA Como a faixa que abre o álbum e o batiza indica, há a preocupação em entender o que se sente, porém sem esquecer daquilo que o outro possa estar vivendo. É se curar para ajudar o próximo. Por fim, buscar uma saída como mostra a faixa “Vai melhorar”, que não por acaso encerra o disco e suaviza certo ar de tristeza que ele traz.
 
Ouvi-lo na ordem revela as fases comuns a todos nesta quarentena que parece não ter fim: o se sentir estranho (“Pelespírito”), mirar os olhos para o belo quando se precisa ver o mundo da janela (“Eu moro lá”), encarar “300 asnos” (“Nas horas cruas”), amar simplesmente (“Nossas coisinhas”), encontrar a alegria dentro da tristeza (“Raio de néon”) e buscar saídas (“Onde é que isso vai dar?”).

Uma canção forte desse novo disco é “Você rainha”, que aborda a violência contra a mulher.

“Dedico-a às mulheres que ficaram em casa com seus algozes ou foram vítimas de feminicídio, uma das doenças do Brasil”, diz a cantora e compositora. “Nós, mulheres, conhecemos as assediadas. Somos as que sofrem essa violência, sou essas mulheres. Todas nós somos essas mulheres.”

De acordo com Zélia, sua letra propõe uma virada. “Quando a mulher se sente um animal, uma fêmea que se protege e protege suas crias, ela se torna a rainha de sua vida.”
 
Uma surpresa é “Tudo por nada”, que remete ao sertanejo, algo que ela ainda não tinha explorado. “Nela há um pouco do sertão nordestino e da música pantaneira. É a brasilidade que também aparece em 'Eu moro lá', que é mais samba-reggae, com o violão que o Webster Santos, baiano danado, tocou”, comenta.

FOLK A pegada folk continua. Em 1994, quando chamou a atenção do país com a música “Catedral”, sempre lhe perguntavam sobre seu estilo. “Inventei que era pop folk brasileiro. Nisso tem o violão de aço, uma afinidade com o meu primeiro parceiro, o Christiaan Oyens, e também agora com o Juliano. A espinha desse disco sou eu e meu violão. Foi muito natural que os arranjos ficassem com a levada que muito me caracteriza”, observa.
 
“Pelespírito” chega no momento em que Zélia crava 40 anos de carreira – considerando-se apenas a fonográfica, são três décadas desde o lançamento de “Outra luz”, quando assinava com o nome de Zélia Cristina.
 
“Tenho muito orgulho de comemorar com um álbum de músicas inéditas. Isso não é fácil. Em um mundo no qual todos querem tudo mastigado, é importante manter esse frescor”, diz Zélia, que já soma 15 álbuns lançados.
 
Outra data importante são os 20 anos do álbum “Sortimento”, o que tem “Alma”, um de seus grandes sucessos. O lançamento atual e o que faz aniversário estão previstos para sair em vinil, em breve. (Estadão Conteúdo)
 
(foto: Universal Music/divulgação)
(foto: Universal Music/divulgação)
 
 
“PELESPÍRITO”

De Zélia Duncan
Duncan Discos/Universal Music
15 faixas
Disponível nas 
plataformas digitais 


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