Jornal Estado de Minas

MÚSICA

António Zambujo lança o disco "Voz e violão" em homenagem a João Gilberto


 
António Zambujo nunca escondeu a admiração pela música popular brasileira. Como todo apaixonado pela MPB, o cantor e compositor português tem um mestre, a pedra filosofal para entender a nossa riqueza cultural tão apreciada no mundo: João Gilberto. É justamente para reiterar essa influência e homenagear o genial baiano que Zambujo acaba de lançar o disco “Voz e violão”.




 
Nesta entrevista, Zambujo, de 45 anos, fala sobre o novo trabalho, a experiência do confinamento devido à pandemia e o adiamento da turnê no Brasil, que estava prevista para 2020 e foi adiada para 2022.
 
Enquanto Portugal bate recordes de vacinação e retoma aos poucos a vida social e cultural, Zambujo comenta se é possível perceber se o mundo pós-pandemia será melhor ou pior: “O que é bom vai continuar bom, o que é ruim vai continuar uma m...”, diz. “A sensação que tenho é de que a balança está sempre muito equilibrada, a porcentagem do bem e do mal estão sempre muito próximas. Vamos ter de continuar a lutar e a denunciar o que está mal, na esperança de que as coisas possam mudar.”
 
 
 
Por que a referência ao disco de João Gilberto de 2000?
A minha ligação com a música brasileira começou através do João Gilberto, foi por meio dele que cheguei a outros intérpretes e autores. Esse foi o último disco que ele gravou, e gosto muito da capacidade incrível que ele tem de reinventar as canções. Tem uma versão de “Chega de saudade” completamente diferente da original. É também um disco gravado sem grandes cuidados de produção, um disco ao vivo, live on tape, deixaram-no no estúdio e ele foi tocando, algo que queria fazer no meu disco também. Então, foi um bocadinho por isso, e também porque resolvi homenageá-lo.




Você gravou uma canção do Caetano, “Como dois e dois”, e outra, “Tu me acostumbraste”, que não é dele, mas também faz parte do repertório do Caetano...
Cheguei a “Tu me acostumbraste” pela versão da Chavela Vargas, muito intimista, fiquei apaixonado. Claro que conheço a versão do Caetano também, porque conheço tudo dele. Mas a minha versão, apesar de ser mais inspirada na Chavela Vargas, acabou por ficar mais próxima da versão do Caetano porque é mais ritmada. Sobre “Dois e dois”, tinha sido convidado para participar de um disco da Gal Costa, fiquei muito surpreso e fui matar saudades. Há um disco da Gal, de lá pra trás, que tem uma versão dessa música, não estou lembrado...

Está no “Fa-Tal – Gal a todo vapor”.
Sim, é isso, é isso. Então, olha, juntei o Caetano com a Gal e a canção me prendeu, decidi gravá-la.

Seu novo álbum está indo bem em Portugal. Qual a sua expectativa para o Brasil, onde você vem alcançando grande projeção?
É ter a oportunidade de tocar no Brasil. Hoje em dia, um disco serve como cartão de visitas, a chance de mostrar alguma coisa nova que justifique, que permita você ser chamado até uma sala de espetáculo, que permita voltar ao Brasil, como tenho vontade. Claro, primeiro espero que as pessoas gostem do disco.

Como está a vida cultural em Portugal com a pandemia?
Reabriu no início de maio, com restrições. Apenas 50% de lotação nas salas, distanciamento de dois metros entre as cadeiras.





Portugal teve um momento de fortes restrições à circulação de pessoas. Como você atravessou esse período? Isso influenciou a sua produção?
Em nada. Fiquei completamente parado, sem motivação alguma, sem fazer nada. Durante todo o confinamento, fiz duas músicas que me foram encomendadas por marcas para publicidade, algo que nunca tinha feito na minha vida. Não tenho o hábito de ficar em casa vendo o que está acontecendo no mundo, não ficar indiferente a isso e pegar o violão para compor, não consegui.
 
No geral, como é o seu processo de criação?
Não tem uma rotina. Estou em lugar qualquer, vem a melodia, eu a registro no celular e depois vou desenvolver essa ideia. Faço muitas parcerias também, não tem uma regra.

A cena musical portuguesa vive um momento interessante, talvez, mais até do que o Brasil em termos de música popular. Você concorda?
Quando Rodrigo Amarante está lançando um disco novo, já está bom (a cena do Brasil). Por conta do fechamento da pandemia, estão surgindo muitas coisas novas. As pessoas estavam à espera de que os teatros fossem reabertos para poder apresentar seus discos. Há vários gêneros aqui, vocês aí no Brasil não conhecem muito outro gênero musical português que não seja ligado a uma tradição, associado ao fado. Mas há coisas bastante interessantes ligadas ao indie, ao rock, e a maioria delas cantada em português, ainda que haja alguns intérpretes que cantam e compõem em inglês...





Como a Elisa Rodrigues, por exemplo...
Sim, a Elisa, e tem uma banda bastante interessante chamada Black Mamba. Há muita coisa boa, mas no Brasil acredito que também.

Como você acha que vai ser o mundo pós-pandemia? O que percebe com a reabertura em Portugal?
O que é bom vai se manter bom e o que é mau vai continuar uma m... Acho que não vai mudar muita coisa. A humanidade, como já foi comprovado nesta pandemia, é capaz de fazer o melhor e o pior. A sensação que tenho é de que a balança está sempre muito equilibrada, a porcentagem do bem e do mal estão sempre muito próximas. Vamos ter de continuar a lutar e a denunciar o que está mal, na esperança de que as coisas possam mudar.

Como está sua expectativa de voltar ao Brasil?

Nós tínhamos uma turnê marcada para 2020, que depois passou para 2021 e agora já está lá em 2022.
 
Como está a vacinação?
Devagar, mas avançando. Bom, a turnê ficou para janeiro e fevereiro de 2022.