António Zambujo, que talvez seja o mais brasileiro dos artistas portugueses, pode ser considerado um expoente da música cantada na língua materna de Eça de Queiroz, Machado de Assis, Amália Rodrigues e Vinicius de Moraes. Disponível nas principais plataformas digitais, “Voz e violão” é o nono álbum (o oitavo com canções originais) do compositor e intérprete nascido em Beja, no Alentejo, em 1975.
No título do mais recente trabalho de Zambujo, uma homenagem ao último disco de estúdio de João Gilberto, morto em 2019 e que completaria 90 anos em 10 de junho.
Em ao menos uma das faixas, há um “tributo” a Caetano Veloso, que, ao lado de Chico Buarque, está entre as maiores influências da obra do português. Zambujo tem um álbum só com canções de Chico. “Até pensei que fosse minha” (2016).
Curiosamente, o disco homônimo do “papa da bossa nova”, lançado em 2000, virou lenda por supostamente ter marcado o estremecimento nas relações entre Caetano, que o produziu, e João Gilberto. Não era para ter sido um trabalho apenas de voz e violão: Jaques Morelenbaum ia colocar cordas, mas João, como de costume, não gostou do resultado e o projeto foi mudado, após estresse entre os envolvidos na empreitada.
Para a história, o que interessa é: ficou sendo o único disco de estúdio de João apenas com voz e violão, ou seja, a quintessência do mestre. E é justamente essa volta ao essencial que o álbum de Zambujo, com 13 faixas, tenta resgatar na obra do português, que anteriormente gravou até com a participação da Orquestra Sinfonietta de Lisboa.
Os destaques do novo álbum, além de “Como dois e dois” (Caetano Veloso), são “Lote B” e “Visita de estudo”. Mas as influências não se limitam à MPB e à bossa nova. O canto alentejano, o fado e o pop também se fazem presentes. Um álbum intimista e gostoso de ser ouvido. (Agência Estado)
“VOZ E VIOLÃO”
De António Zambujo
13 faixas
Universal Music Portugal
Disponível nas plataformas digitais