Iza acaba de lançar o single “Gueto”, responsável por dar início à divulgação de seu segundo álbum, previsto para este semestre. Composta em parceria com Pablo Bispo, Ruxell e Sergio Santos, a música não é um movimento ousado da cantora e compositora carioca. Já o clipe mostra o quanto ela está preocupada em fazer jus a suas origens e embarcar no pop engajado que vem dominando o mercado mundial.
Em reunião virtual com jornalistas, Iza reconheceu a importância de sua presença em espaços de destaque na mídia, afirmando que a música é uma homenagem a Olaria, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro onde ela cresceu.
“(A música) É uma forma de celebrar de onde eu vim e todas as minhas conquistas. Quero muito que as pessoas saibam que 'Gueto' não é sobre ostentação, é sobre ocupação. É sobre ser mina preta da Zona Norte, retinta, estampando vários comerciais onde eu nunca tinha visto uma mina preta antes. É uma alegria muito grande tudo o que está acontecendo, sabendo de onde eu vim e como o lugar de onde eu vim é especial”, afirma.
SACOLÉ
O clipe, dirigido por Felipe Sassi, exalta símbolos do subúrbio carioca, como o sacolé, o banho de mangueira na rua e o orelhão azul. Iza gravou cenas na escadaria da Igreja de Nossa Senhora da Penha, no Rio de Janeiro. O restante do vídeo foi captado em um estúdio de São Paulo para evitar aglomerações.
“Queria muito desenhar esse gueto colorido, que é como me lembro do lugar onde eu cresci”, diz. “Minha vontade foi tornar esse lugar lúdico e editorial. Quero que as pessoas enxerguem as suas origens com um olhar saudoso, lembrando as coisas especiais que viveram nesses lugares.”
Em diversos momentos, o videoclipe faz referência às cores verde e amarelo da bandeira do Brasil, que nos últimos anos foram apropriadas pela extrema direita. Iza explica que usá-las no clipe é uma forma de ressignificá-las e recordar momentos de união nacional, como as Copas do Mundo.
“Nossa bandeira é nossa e é linda. Precisamos lembrar que o Brasil é feito de brasileiros. Tá foda, mas nosso país é foda. A gente tem que ter orgulho de ser parte deste lugar, por mais que este momento esteja extremamente difícil”, afirma.
Por ser artista negra que ganhou bastante espaço tanto na música quanto na televisão, em programas como o “The voice Brasil”, do qual é jurada, ela acredita que sua presença pode servir como porta de entrada para outros negros.
“Quero que as pessoas entendam que não é legal ser exceção. Uma bandeira muito importante que venho levantando na minha carreira é a abertura de portas. Acabo falando de racismo porque é algo que eu vivi e não tenho como fugir disso. Infelizmente, ainda vou continuar sofrendo, não importa onde esteja. Meu objetivo é conquistar cada vez mais espaços e inserir neles outras pessoas negras até o momento em que isso não seja um diferencial”, diz.
ESCRAVAS
Falar das origens é também uma forma que Iza encontrou de “fincar o pé no chão”, diz ela. “As pessoas que têm um lugar de visibilidade como o meu precisam ter mais responsabilidade. Por exemplo, as escravas escondiam arroz na trança para poder alimentar seus filhos. Não aprendi isso na escola. Então, preciso saber uma maneira de recontar a nossa história. Assim como a Beyoncé fez em 'Black is king'. Falar para o mundo de onde eu sou é libertador. Me inspira a continuar tentando encontrar a minha voz.”
De acordo com ela, essa tomada de consciência também é fruto da quarentena. Impedida de viajar semanalmente, como era sua vida antes da pandemia, ela aprendeu a procrastinar e a lidar com sua saúde mental.
“Precisei ter paciência comigo mesma”, afirma. “Quando estamos na estrada, é fácil esquecer os problemas, ainda mais quando as pessoas estão sempre te aplaudindo e te chamando de linda. Quando me vi sozinha – eu e meu espelho, desmontada –, consegui ver todas as inseguranças em que simplesmente não pensava. Sempre fui a minha maior inimiga. Nesse tempo em casa, pude encarar esse monstro e me curar.”
Ainda assim, 2020 foi um ano movimentado na carreira de Iza. Ela firmou parcerias com artistas internacionais, como Maejor e Timbaland, e brasileiros, como a banda mineira Lagum e o produtor Bruno Martini.
Recentemente, Iza foi eleita pela revista “Time” uma das personalidades líderes da próxima geração. Aos 30 anos, está entre as 10 pessoas de destaque e influência apontadas pela publicação norte-americana.
“A gente costuma dizer que não trabalha para ganhar prêmio, mas esse reconhecimento é muito importante, principalmente num momento em que é tão difícil fazer arte no Brasil”, comenta.
Fãs da artista levantaram a suspeita de que ela lançaria parceria com Sam Smith depois que o cantor britânico a seguiu nas redes sociais. O boato ganhou ainda mais força após os dois trocarem as fotos nos respectivos perfis, levando seguidores de Iza a imaginar que o anúncio era iminente.
Fã confessa de Smith, ela desmente a colaboração e chama o rumor de “delírio coletivo”. E esclarece: “É apenas especulação.”
LUDMILLA
Quem está no seu radar é Ludmilla, a quem chama de “melhor cantora negra do país”, embora não confirme parceria no novo disco.
Ainda sem nome, o segundo álbum de Iza segue em produção. De acordo com ela, o registro será uma mistura entre dancehall, reggae, R&B e trap. “São vários estilos musicais de que gosto e que formam a 'misturinha' que meus fãs já conhecem. Será um álbum muito brasileiro e com a minha cara”, afirma. Esse será o primeiro disco cheio dela desde “Dona de mim” (2018).
Apesar das saudades dos fãs e dos palcos, Iza está segura de que só voltará a se apresentar ao vivo diante do público aglomerado em 2022. Até lá, promete buscar soluções audiovisuais para manter o contato com os fãs.
“Quero encontrar saídas criativas para as performances ao vivo de forma remota e virtual. O que mais gosto de fazer é montar show, então vai ser interessante pensar no que a gente pode entregar para o público até que tudo isso passe”, conclui.
“GUETO”
.Single de Iza
.Warner Music Brasil
.Disponível nas plataformas digitais