O Grupontapé, de Uberlândia, se preparava para estrear o espetáculo “#Preciosas”, em 2019, quando um episódio trágico ocorreu. O ator Imanol Tolaretxipi, nascido no País Basco, radicado há sete anos em Uberlândia e integrante da companhia teatral da cidade desde 2017, sofreu um AVC.
Recuperado, Tolaretxipi, de 54 anos, criou o monólogo “Hombre hueco (Homem Oco) – Uma poética derrota”, que ele apresenta em formato virtual, a partir desta quarta-feira (9/6), inspirado pelos ensaios da peça que não pôde estrear.
A fagulha para a história veio do incomum processo de preparação de “#Preciosas”, realizado pelo grupo em uma academia de ginástica. Na época, Imanol começou a treinar kickboxing e viu nessa prática um elo com uma drama familiar.
Ele aproveitou a ideia dos duros golpes sofridos na luta para desenvolver uma história sobre fracasso pessoal e apresentou-a à sua irmã Eli Tolaretxipi, que é poeta. Os dois traçaram uma conexão com a história do pai.
RUÍNA
“Meu pai não foi boxeador, mas foi alguém que teve muito sucesso e, depois de um tempo, se arruinou e foi até para a cadeia. Minha irmã se baseou nessas tragédias familiares para criar o texto. Por isso (o título) ‘Um homem oco – A poética da derrota’. A derrota tem uma poética”, afirma o ator, que define o personagem como “um lutador veterano, derrotado, que faz seu último combate por dinheiro, por necessidade”.O projeto foi aprovado na Lei Aldir Blanc e concebido para apresentação em vídeo. No entanto, a adaptação para o ambiente virtual não foi tão simples para o ator. “Às vezes, me sinto perdido nesses novos formatos. Estamos acostumados ao ensaio diário, à relação próxima com o público, e agora não sei bem o que estamos fazendo”, comenta.
Ele procurou deixar a experiência o mais próximo possível do teatro. “É uma filmagem, mas isso não é feito de qualquer jeito. É muito teatral. Não é uma câmera fixa apenas registrando tudo. Não é um curta-metragem. Eu coloquei o palco italiano e filmei da melhor forma possível, pensando em uma edição posterior ligada ao teatro.”
“Hombre Hueco (Homem Oco): uma poética derrota”
Nesta quarta-feira (9/6) e na sexta-feira (11/6), às 15h e às 19h, no canal do YouTube do ator Imanol Tolaretxipi (www.youtube.com/user/imanol900). Gratuito
MOSTRA MESCLA TEATRO E LITERATURA
Passados um ano e três meses desde o início da pandemia do novo coronavírus, a atividade teatral já atravessou diferentes fases das dificuldades impostas por esse novo cenário. Se num primeiro momento a realidade era de incerteza e suspensão de espetáculos e eventos, o setor agora consolida sua reinvenção dentro das possibilidades oferecidas pelas plataformas digitais.
A partir desta quarta-feira (9/6), a Mostra Tríade de Teatro vai apresentar cinco espetáculos selecionados via edital da Lei Aldir Blanc. “A mostra foi possível devido a entendimento de que estamos em um tempo diferente, no qual os trabalhos devem ser adaptados para o audiovisual”, afirma a atriz Wes Gomes, cofundadora (com Dani Guimarães e Glenda Bastos) da Tríade, companhia atuante em BH e Ribeirão das Neves.
Ela explica que, mesmo com a adaptação ao vídeo, o grupo não abriu mão do mote principal do evento, que é dar vez a propostas teatrais que dialoguem com a literatura. A programação terá quatro trabalhos belo-horizontinos: “Conversa franca”, de Lucas Alves; “Engenho de dentro”, do Grupo Maria Cutia; “Quem vai olhar as crianças”, da Fundação May; “Varal”, da Cia. 5só; além de “Os Cegos”, da Cia. Boca de Cena, que é de Ipatinga, no Vale do Aço.
“São trabalhos autorais – com textos próprios ou com recortes, que vão das literaturas clássicas às mais atuais”, diz Wes. No caso de “Os cegos”, trata-se de uma adaptação contemporânea da obra do escritor belga Michel de Ghelderode (1898-1962).
“Engenho de dentro” é o primeiro espetáculo para o palco do Grupo Maria Cutia, que há duas décadas se dedica ao teatro de rua. A peça se baseia em diversos textos que têm o delírio como tema, incluindo autores como Campos de Carvalho, F. Scott Fitzgerald, Bertolt Brecht, Miguel de Cervantes, Machado de Assis e escritos do ator Leonardo Rocha, um dos fundadores do grupo.
“Quem vai olhar as crianças?” é baseado em “O país das mulheres”, da escritora nicaraguense Gioconda Belli. Já “Varal” se conecta à atualidade da poesia slam, ligada à arte urbana e aos movimentos culturais periféricos. “Conversa franca” revisita o teatro épico de Brecht para discutir problemas estruturais, como o assédio e o machismo.
INÉDITO
Na abertura do evento, a Tríade Cia. de Teatro vai mostrar algumas cenas do espetáculo inédito "Cabelos brancos", previsto para estrear neste ano. A peça é inspirada no livro “A guerra não tem rosto de mulher”, da vencedora do Nobel em 2015 Svetlana Aleksiévitch.Sobre o livro, que aborda a experiência de mulheres durante a Segunda Guerra Mundial, a atriz afirma que “é quase inevitável traçar um paralelo com as batalhas atuais das mulheres”.
Na opinião de Wes Gomes, a criatividade dos artistas é a principal ferramenta para viabilizar o teatro em tempos adversos. “A câmera agora é o público. É preciso mudar o olhar, ter gestos mais contidos, o texto muda, o trabalho tem outro cenário. O olhar do público no teatro é sempre muito livre. No audiovisual, não", comenta.
"Isso pode ser um aspecto positivo ou não, esse controle do que o público verá, mas penso que a criatividade dos artistas e a rede de apoio que formamos entre as companhias continuarão sendo fundamentais para as artes cênicas superarem este momento.”
Primeira Mostra Tríade de Teatro
Desta quarta-feira (9/6) a 15/6, no YouTube e no Facebook da Tríade Cia de Teatro. Gratuito
CICLO ENSINA TÉCNICAS VIRTUAIS
Destacar o esforço coletivo para viabilizar um “novo teatro” é o objetivo da Terceira Mostra InMinas de Teatro, evento realizado pela Cooperativa Mineira de Teatro, via Lei Aldir Blanc, que vai até o próximo dia 13/6, com participação de artistas nacionais (de Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Norte) e internacionais (Argentina e Uruguai). Além dos espetáculos, a programação tem bate-papos e lives sobre a produção no formato virtual.
“Uma coisa que fazíamos muito era filmar espetáculos. Isso era pensado apenas para apresentar para o público. A câmera só registrava. Agora, a gente começa a criar espetáculos já pensando no vídeo. Começa a surgir um hibridismo entre as linguagens, que é muito interessante, sem perder a teatralidade", diz Florisvaldo Júnior, um dos coordenadores da mostra.
A programação conta com seis espetáculos e três trabalhos em processo. Todos eles gravados. Apesar dessa boa oferta, Florisvaldo destaca os desafios do processo. “Muitos grupos não tinham contato com tecnologias e precisaram se reinventar. Além dos artistas, é preciso lembrar os profissionais da técnica, que também passam por essa adequação ao virtual”, afirma.
3ª Mostra InMinas de Teatro
Até 13/6, no site www.inminas.coop.br e na página www.instagram.com/coopinminas. Gratuito. Programação completa no site.