“A música instrumental é um dos traços mais consistentes e vigorosos da cultura mineira contemporânea”, afirma o pianista, arranjador e compositor Túlio Mourão, curador do festival Tudo é jazz, que começa nesta quarta-feira (16/06). Devido à pandemia, a edição on-line do evento apresentará shows gravados em Ouro Preto. Artistas jovens e veteranos prometem um saudável encontro de gerações.
Túlio Mourão destaca o papel de Minas no fortalecimento do gênero instrumental, citando projetos importantes de instituições como a Universidade Federal de Minas Gerais, o que, na opinião dele criou uma cadeia.
“A UFMG trouxe para sua Escola de Música a disciplina de música popular”, lembra, observando que artistas importantes trabalham e estudam lá. “Essa geração nova está muito preparada e criativa”, elogia Mourão, de 69 anos. Esse experiente mineiro integrou a banda Os Mutantes, compôs trilhas de cinema e tocou com Caetano Veloso, Chico Buarque, Milton Nascimento e Pat Metheny, entre outros.
RENOVAÇÃO
Hoje e quinta-feira, sete atrações vão se apresentar a partir das 20h, com transmissões gratuitas no canal do festival no YouTube e no site do evento. “O conceito nunca foi ser tradicional. A gente apostou sempre na renovação do jazz, na evolução da linguagem, nas novas gerações e nas diferentes etnias”, afirma Mourão. Ele assumiu a curadoria após a morte da produtora Maria Alice Martins, criadora do festival, vítima da COVID-19, no ano passado.“Há empreendedores que conseguem realizar seus projetos, seus sonhos, fundamentalmente porque fazem as coisas com paixão. Isso é o que diferenciava a Maria Alice. Ela foi uma pessoa que pensou com muita grandeza, criando este evento de impacto enorme na qualidade da música que se faz em Minas”, diz Túlio.
Desde 2002, o Tudo é Jazz é realizado em Ouro Preto, pois Maria Alice entendia que a música poderia dialogar com a arquitetura e a riqueza cultural da cidade histórica mineira, lembra o curador. Este ano, as gravações ocorreram em teatros e pontos turísticos ouro-pretanos respeitando protocolos sanitários impostos pela pandamia, informam os organizadores.
Nesta quarta-feira, Túlio Mourão vai se apresentar com o percussionista Marco Lobo, prometendo fazer um solo de piano em homenagem a Maria Alice, outro dedicado ao pianista americano Keith Jarrett e também lembrar o cineasta Paulo Thiago, que morreu no último dia 5, vítima de uma doença hematológica. Mourão vai tocar a música que compôs para o filme “Vagas para moças de fino trato”, dirigido pelo amigo e lançado em 1993.
MULHERES
Amanhã (17/06), quem abre o festival é a multi-instrumentista Nath Rodrigues. Nascida em Sabará, a integrante do coletivo Negras Autoras, de 30 anos, luta pelo espaço da mulher negra no cenário musical. Para ela, jazz remete à liberdade.“O jazz se manifesta no lugar de improvisação, da livre criação, e isso é algo com que me sinto alinhada”, diz. “É um movimento revolucionário que exalta a cultura negra norte-americana e retrata como as pessoas vindas da África, anos atrás, encontraram na música uma forma de liberdade.” O repertório de Nath vai destacar as músicas de “Fio”, o segundo álbum dela.
Outras atrações do festival são a cantora Silvia Gomes, Chico Amaral Quarteto, Gilson Peranzetta e Marcel Powell, filho do aclamado violonista e compositor Baden Powell (1937-2000).
Programação
» Quarta-feira (16/06)
•Sílvia Gomes
•Túlio Mourão convida Marco Lobo
» Quinta-feira (17/06)
•Nath Rodrigues
•Chico Amaral Quarteto
•Gilson Peranzetta
•Marcel Powell
. Gratuito. A partir das 20h, com transmissão no canal do festival no YouTube e no site www.tudoejazz.com.
*Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria