Diante da falta de espaço apropriado para discutir seu próprio ofício, a mineira Rosa Antuña decidiu promover a 1ª Mostra e Seminário A arte da coreografia. Com participação de renomados profissionais do setor, o evento pretende estimular a reflexão sobre o processo criativo e os caminhos da dança contemporânea no Brasil. Desta quinta-feira (17/06) a domingo (20/06), a programação será transmitida pelo YouTube, com bate-papos, palestras e espetáculos.
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Um dos temas do evento será o impacto da pandemia de COVID-19 e das medidas de isolamento social sobre a dança, discussão que envolverá profissionais reconhecidos no Brasil e no exterior. Entre eles estão artistas com passagem pelo Grupo Corpo, de Belo Horizonte. Jovens profissionais também marcarão presença, como Luciana Paludo, Wagner Moreira e Alex Soares, viabilizando o encontro de diferentes gerações.
“Não há muitas oportunidades para que esse diálogo aconteça”, ressalta Rosa Antuña, explicando que coreógrafos geralmente passam seu tempo focados no trabalho, sem espaço na agenda para trocar ideias com os colegas. O formato on-line da mostra possibilitou a participação de convidados que trabalham tanto na Alemanha quanto em Manaus, Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
Nesta quinta-feira, às 20h, a abertura do evento reunirá coreógrafos que têm trajetória ligada a Minas: Mário Nascimento, Rui Moreira e Rodrigo Pederneiras. Os debates se concentrarão nos desafios do processo criativo na dança contemporânea.
Rui Moreira comemora o fato de compartilhar ideias com Rodrigo Pederneiras, uma de suas inspirações. O coreógrafo do Corpo foi decisivo na trajetória profissional do paulista Rui, que atuou como bailarino da companhia mineira.
“Minha transição para criador se deu quando o Rodrigo, como coreógrafo, começou a instigar esse aspecto criativo em mim como intérprete”, revela. Os dois trabalharam no Corpo entre 1983 e 2000. Atualmente, Rui, de 57 anos, dirige a Cia. “SeráQuê?” em Porto Alegre, depois de desenvolver elogiado trabalho em BH.
Ele aponta uma deficiência da dança do país: “Até hoje não existe uma escola de criação oficializada no Brasil, uma escola para coreógrafos. Processos como o meu vão acontecendo e os contextos vão transformando as pessoas em coreógrafas. É uma caminhada longa.”
Voltado para a dança contemporânea africana e afro-orientada, Rui Moreira promete trazer histórias inspiradoras para o diálogo desta noite. E espera conhecer com mais profundidade as ideias dos convidados.
“Rodrigo Pederneiras é um dos mais significativos coreógrafos deste século. A contundência do trabalho do Grupo Corpo, com ele se reinventando a cada temporada, é um ponto de vista que acho importantíssimo a gente escutar”, aponta.
IMAGEM
A videodança também estará em debate. Essa linguagem ganhou força durante a pandemia, diante da impossibilidade de bailarinos e coreógrafos apresentarem seu trabalho nos palcos. Para Rui Moreira, a popularização do audiovisual é um caminho inevitável devido à veloz difusão de imagens observada nas últimas décadas.
“A ideia de vídeo e de dança ganha dimensão tão ampla que é muito difícil entender o que é videodança, um filme da dança ou um videoclipe”, afirma ele, chamando a atenção para “limites muito tênues devido à hiperestetização da imagem que a contemporaneidade nos trouxe”.
O coreógrafo está convicto de que não se trata apenas de um reflexo do avanço da COVID-19. “A videodança está aí como uma linguagem presente que, sim, se acentuou com a pandemia, mas era só uma questão de tempo. Acredito que ela ainda ganhará maior espaço”, prevê.
Na sexta-feira (18/06) e no sábado (19/06), bate-papos reunirão Alex Soares, Wagner Moreira, Luciana Paludo, Sandro Borelli, Sônia Mota e Esther Weitzmann. O público poderá fazer perguntas por meio de um chat no YouTube. As palestras contarão com os mineiros Vanilton Lakka, Nicole Blach e Carla Normagna.
1ª MOSTRA E SEMINÁRIO A ARTE DA COREOGRAFIA
Desta quinta-feira (17/06) a domingo (20/6). Transmissão pelo canal do Núcleo de Criação Rosa Antuña no YouTube. Vídeos ficarão disponíveis após a exibição
*Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria
Espetáculos presenciais em cena
Durante a mostra, o público poderá assistir a três espetáculos realizados presencialmente antes da pandemia: “O homem invisível”, solo de Mário Nascimento; “Dança de brinquedo”, da Cia. Mário Nascimento; e “Copyleft”, de Jorge Garcia.
A apresentação desses registros, em vez de priorizar espetáculos de videodança, foi uma opção da curadoria. “A ideia é matar a saudade do palco”, explica a coreógrafa Rosa Antuña. Ela dirigiu e coreografou “Dança de brinquedo”, que estreou em 2018 e será exibido no sábado (19/06).
O espetáculo é voltado para adultos e crianças. Bailarinos interpretam brinquedos com base em suas próprias vivências da infância, com trilha sonora que remete à cultura popular.
“Cada brinquedo ali tem uma singularidade, e eles conseguem se relacionar apesar de suas múltiplas diferenças. Esta é a maior mensagem do espetáculo: apesar de todas as nossas diferenças, conseguimos estar juntos”, conclui Rosa Antuña. (FG)
PROGRAMAÇÃO
» HOJE (17/06)
20h: Bate-papo com Mario Nascimento, Rui Moreira e Rodrigo Pederneiras
» SEXTA (18/06)
19h: Espetáculo “O homem invisível”. Solo de Mario Nascimento
20h: Palestra de Lakka
» SÁBADO (19/06)
17h: Espetáculo “Dança de brinquedo”. Com Cia. Mário Nascimento/Rosa Antuña
18h: Palestra “Coreografar é relacionar”, de Nicole Blach
19h: Bate-papo com Alex Soares, Wagner Moreira e Luciana Paludo
» DOMINGO (20/06)
17h: Espetáculo “Copyleft”. Com Jorge Garcia
18h: Palestra de Carla Normagna
19h: Bate-papo com Sandro Borelli, Sônia Mota e Esther Weitzmann