Os desafios de reger um coral durante a pandemia de COVID-19 serão tema do debate “Coral virtual – Suspiro ou respiro”, promovido pelo Conservatório de Música da UFMG, com participação dos maestros Arnon Oliveira (Coro Madrigale), Lara Tanaka (Coral Lírico de Minas Gerais) e Lincoln Andrade (Ars Nova Coral da UFMG), que será realizado nesta terça-feira (22/06), às 19h30. A transmissão, via YouTube, faz parte do programa “Diálogos – O presente da música”.
A quantidade de cantores, o delay das videochamadas e as dificuldades técnicas de transmissão inviabilizam apresentações ao vivo dos coros on-line. A atividade foi uma das mais impactadas pelas medidas de isolamento social, justamente pela impossibilidade das lives, comuns no “novo normal”. A adaptação obrigou maestros a se reinventarem para manter os grupos na ativa. Após 15 meses afastados dos palcos, os corais buscam oferecer conteúdos on-line gravados de forma remota. A adaptação trouxe mudanças significativas ao segmento.
Além da parte artística, os maestros passaram a se ocupar das questões técnicas vinculadas ao registro das obras a distância. Anteriormente acostumados aos encontros presenciais, os regentes, agora, acompanham todo o processo de escolha de repertório, gravação e edição do material audiovisual para viabilizar o concerto on-line. “Isso é uma trabalheira que nunca pensei que fosse fazer na minha vida”, confessa Lincoln Andrade, maestro do Ars Nova Coral da UFMG, de 61 anos.
Desde abril de 2020, o Ars Nova segue na ativa por meio de vídeos publicados no YouTube. Nesse processo, Lincoln Andrade não consegue conduzir o coro ao vivo. Para manter o primor técnico das apresentações on-line, ele faz reuniões com os quatro chefes de naipe (sopranos, tenores, contraltos e baixo), antes de eles gravarem as vozes guias das obras. Baseados nessa conversa, cantores replicam as músicas em casa e enviam para o maestro, que precisa aprovar todos os áudios e vídeos antes da edição.
Além da adaptação para o modelo on-line, Lincoln afirma que estabelecer um novo repertório para deixar as apresentações mais atrativas para o público neste período foi o grande desafio. “Até então, a gente cantava o repertório que já praticava. A partir do ano passado, nós começamos a fazer um novo repertório, o pessoal teve que começar a aprender de casa”, comenta.
PÚBLICO MAIOR
A empreitada vem sendo bem-sucedida. O Ars Nova aumentou o alcance de público através do YouTube e das inovações de repertório. A interpretação de “Apesar de você”, de Chico Buarque, alcançou mais de 7 mil visualizações. “Circle of life”, de Elton John e Tim Rice, tema do filme “Rei Leão” (1994), bateu 2,6 mil. A música “Baião armorial”, escrita por Maurício Detoni e Etel Frota para o concurso de composição do Ars Nova, foi gravada sob direção de Ernani Maletta, dramaturgo e professor da Escola de Belas Artes da UFMG. A letra, retrato deste período pandêmico, atraiu 1,9 mil visualizações.“Juntando todos os vídeos (publicados ao longo da pandemia), a gente deve ter mais de 30 mil visualizações (no YouTube). Isso para um coro, é espetacular”, celebra Lincoln. Em 2021, o grupo mudou a estratégia. Em vez de publicar vídeos mensais com uma canção, investe em miniconcertos on-line, com cerca de quatro faixas, produzidos em um período maior de tempo. A estreia foi no miniconcerto da semana santa, que alcançou mais de 2 mil visualizações. O próximo será publicado em agosto, com repertório de cinco músicas.
RETORNO
“Na verdade, é uma tentativa de já fazer uma chamada para o retorno (presencial), para as pessoas acostumarem a ouvir uma coisa um pouco mais longa”, esclarece Lincoln. Em sua visão, corais virtuais são mais respiro do que suspiro, neste momento. “O suspiro, pra mim, é terminação, o respiro é continuidade. É uma continuidade que vai refletir lá na frente, com uma outra transparência”, ressalta o maestro.O Coral Lírico de Minas Gerais, da Fundação Clóvis Salgado, enfrentou as mesmas adaptações neste último ano. “Não tem desafios. Tem adequações, na verdade”, aponta a maestrina Lara Tanaka .
O Coral Lírico produz oito vídeos por trimestre, com performances individuais ou coletivas. No processo on-line, ela afirma que o editor de vídeos se tornou basicamente o maestro das obras, em trabalho conjunto com o regente.
“É um trabalho muito coletivo. O editor recebe os vídeos individuais, faz a junção dos áudios, sincroniza e vai me mandando”, conta Lara. A maestrina dá palpites nas edições antes da publicação do material para manter a qualidade das apresentações. Para isso, os cantores também precisam lidar com adversidades presentes no home office, como o latido do cachorro, os barulhos das crianças e as reclamações de vizinhos.
Segundo Lara, os cantores seguem protocolos técnicos nas gravações, envolvendo a posição do celular e as configurações de áudio, além de questões estéticas de cenografia e maquiagem. A maestrina conta que alguns cantores, inclusive, compraram kit de maquiagem para as apresentações em home office.
Ela acredita que a adaptação possibilitou a reinvenção do Coral Lírico. “Foi tão positivo... Era uma plataforma que a gente não conhecia, nós não produzimos dessa forma. A gente tem comentado que é um espaço que veio para ficar, que vamos continuar produzindo nele”, destaca.
Os vídeos do Coral Lírico são publicados nas redes sociais e no canal de YouTube da FCS. Lara quer compartilhar algumas dessas experiências no debate desta terça. “Apesar de serem coros com propostas, diretrizes e demandas diferentes, acho que sempre tem coisas ali que a gente vai poder trocar um com outro”, afirma.
Diálogos – o presente da música
Debate Coro virtual – Respiro ou suspiro?, com Arnon Oliveira (maestro regente do Coro Madrigale), Lara Tanaka (maestrina regente do Coral Lírico de Minas Gerais) e Lincoln Andrade (maestro regente do Ars Nova Coral da UFMG). Nesta terça-feira (22/06), às 19h30. Transmissão ao vivo pelo www.youtube.com/conservatorioufmg