Em 1991, a banda Metallica, prestes a completar uma década na estrada, preparava o lançamento de seu quinto álbum. No estúdio, James Hetfield, Lars Ulrich, Kirk Hammett e o então integrante Jason Newsted enfrentavam uma série de conflitos para decidir qual seria a abordagem do registro, enquanto o custo da gravação chegava a US$ 1 milhão. Apesar do valor alto para a época, o disco “Metallica” – popularmente conhecido como “The black album” por conta da capa escura – tornou-se o maior sucesso de vendas da banda norte-americana e a credenciou para o panteão do rock mundial.
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Não há apenas uma explicação para todo esse sucesso, mas é possível dizer que uma delas seja a maneira como a banda abordou o heavy metal, abandonando a sonoridade pesada que marcou seus quatro discos anteriores. Com as canções “Enter sandman”, “Nothing else matters” e “Sad but true”, o Metallica caiu no gosto popular sem deixar de ser uma banda de rock bastante tradicional.Para comemorar os 30 anos do lançamento do disco, a banda prepara dois lançamentos para agradar aos fãs conservadores e outros nem tanto assim. O primeiro é a versão remasterizada do álbum. Já o segundo, “The Metallica blacklist”, reunirá 53 artistas para reinterpretar as 12 faixas originais.
O projeto traz nomes associados ao universo de guitarras do Metallica, como as bandas Royal Blood, Weezer, Idles e OFF!. Mas o real atrativo para os fãs de música é a presença de nomes improváveis: as estrelas do pop Miley Cyrus e Elton John, o colombiano J Balvin, símbolo do reggaeton, as talentosas do indie St. Vincent e Phoebe Bridgers, e a promessa nipo-britânica do pop alternativo Rina Sawayama.
Os dois primeiros aperitivos do trabalho chegaram às plataformas em 22 de junho. O clássico “Nothing else matters” ganhou nova versão da superbanda formada por Miley Cyrus, Elton John, o baixista Rob Trujillo (integrante do Metallica), o violinista Yo-Yo Ma, o baterista Chad Smith (do Red Hot Chili Peppers) e WATT. Já “Enter sandman” ganhou reedição do roqueiro colombiano Juanes.
Ambas as versões são bastante respeitosas em relação à original. No caso de “Nothing else matters”, só o fato de ter os vocais poderosos de Miley Cyrus já é um passo importante na direção de mudanças mais ousadas.
Na terça-feira (29/06), o Metallica liberou a versão de “Sad but true” feita por St. Vincent. A cantora e compositora norte-americana soube trazer a música para seu universo psicodélico e fantástico, marcado por guitarras distorcidas associadas a sons eletrônicos. Guitarrista virtuosa que é, St.Vincent não deixou de fora da gravação o solo que marca a passagem para a parte final.
Mas é possível imaginar que, daqui em diante, as versões serão cada vez mais diferentes. “Nothing else matters” terá 12 versões diferentes assinadas por Phoebe Bridgers, a banda de rock My Morning Jacket e o cantor country Chris Stapleton, entre outros. “Sad but true” soma sete versões e “Enter sandman” será reinterpretada seis vezes. Oportunidade é o que não vai faltar.
LGBT Convidar artistas para reinterpretar canções é uma tendência neste 2021. A última a fazer isso foi Lady Gaga com o álbum “Born this way” (2011). O lançamento do trabalho, considerado marco para a comunidade LGBT, completou uma década e gerou a edição especial do registro, recém-lançada nas plataformas digitais.
“Born this way the tenth anniversary” foi lançado na última sexta-feira (25/06) e traz as 14 faixas da versão original, além de seis bônus interpretadas por artistas que têm alguma relação com o movimento LGBT.
A australiana Kylie Minogue, considerada um ícone gay, regravou “Marry the night”, adicionando a ela o clima setentista de seu álbum “Disco” (2020). A rapper norte-americana Big Freedia desconstruiu completamente “Judas” para traduzi-la para o universo da bounce music, subgênero do hip-hop.
O grupo de country The Highwoman se uniu às cantoras Brittney Spencer e Madeline Edwards, do mesmo gênero, para reinterpretar “Highway unicorn (Road to love)”, despindo a canção da parafernália eletrônica original e adotando uma base orgânica.
O ator Ben Platt deu abordagem teatral para sua versão de “Yoü and I”. Já o projeto Years & Years, do cantor britânico Olly Alexander, adicionou elementos eletrônicos a “The edge of glory” fazendo dela ótima música para as pistas de dança.
Por fim, a faixa-título“Born this way” ganhou versão country com o cantor canadense Orville Peck, conhecido por usar máscara com franjas e nunca mostrar o rosto publicamente.
“Born this way”, o álbum, tem lugar cativo na discografia de Lady Gaga. Afirmou a proximidade da artista com discursos defendidos pela comunidade LGBT. Não é sem motivo que a edição comemorativa chegou em junho, mês em que se celebra o orgulho LGBTQIA%2b.
INDIE
Na seara indie, a cantora norte-americana Sharon van Etten comemorou os 10 anos do lançamento do disco “Epic”, o terceiro de sua carreira.A versão comemorativa do álbum, “Epic ten”, preserva as sete faixas originais, interpretadas por artistas que orbitam o universo de Van Etten, como é o caso do projeto Big Red Machine, de Justin Vernon (Bon Iver) e Aaron Dessner (The National), em “A crime”; da australiana Courtney Barnett e da norte-americana Vagabon, em “Don't do it”; e da banda britânica Idles, em “Peace signs”.
Miley Cyrus, a diva do karaokê
Não é de hoje que Miley Cyrus abusa de sua marcante voz rouca para interpretar covers, adicionando a eles muita personalidade. Foi assim que consolidou sua versão de “Jolene”, de Dolly Parton. Miley dá novo fôlego a canções dos outros. Foi o caso de “Why'd you only call me when you're high?”, da banda Arctic Monkeys, incluída no repertório de um especial para a TV, e de “Summertime sadness”, de Lana Del Rey, feita para uma rádio britânica.
Miley já pode ser considerada uma diva do karaokê. Em 2020, ela intensificou a produção de covers impulsionada pela gravação de “Backyard sessions”, especial para a MTV norte-americana. Nele, foi convidada para apresentar canções no quintal de sua casa.
O repertório reuniu “Gimmie more”, de Britney Spears; “Just breathe”, do Pearl Jam; “Communication”, do The Cardigans; “These days”, de Nico; e “Sweet Jane”, do Velvet Underground.
INTERNET
A partir daí, os covers de Miley caíram no gosto da internet. Depois que cantou “Heart of glass”, da banda Blondie, e “Zombie”, do Cranberries, a moça recebeu uma enxurrada de pedidos para lançar um trabalho dedicado ao rock.
Por isso, o álbum “Plastic hearts” (2020) não causou grande estranheza. Com pegada pop rock, ele traz a participação de Dua Lipa, Billy Idol e Joan Jett. Os covers de “Heart of glass” e “Zombie” entraram como faixas bônus, assim como “Edge of midnight”, remix que une “Edge of seventeen”, de Stevie Nicks, ao single “Midnight sky”.
O interessante dos covers de Miley Cyrus é que ela faz de sua incomparável voz um instrumento. Não é comum que inove na sonoridade dessas canções, mas se entrega por inteiro nas interpretações.
Na última sexta-feira (25/06), a cantora estrelou o especial “Stand by you: Pride special”, lançado pelo Peacock, plataforma de streaming do canal NBC Universal, que não está disponível no Brasil. Além dela, participaram Little Big Town, Brothers Osborne, Orville Peck, Maren Morris e Mickey Guyton.
O show contou com 2,5 mil pessoas, que deveriam comprovar estar vacinadas contra a COVID-19 e usar máscaras. Estrela da festa, Miley apresentou algumas de suas canções e, claro, covers de “Believe”, de Cher; sucessos de Madonna como “Music”, “Express yourself” e “Like a prayer”, além de “I'll stand by you”, da banda The Pretenders, e “Freedom!'90”, de George Michael.
SESSÃO NOSTALGIA
“BORN THIS WAY THE
TENTH ANNIVERSARY”
• De Lady Gaga
• Interscope Records
• 20 faixas
• Disponível nas plataformas digitais
“EPIC TEN”
• De Sharon van Etten
• Da da Bing!
• 14 faixas
• Disponível nas plataformas digitais
“THE METALLICA BLACK LIST”
• De Metallica
• Blackened Recordings
• 12 faixas gravadas por 53 artistas
• Lançamento em 10 de setembro, nas plataformas digitais