Os Estados Unidos se aquietavam após a onda avassaladora dos Beatles (e dos anos 1960) quando Joni Mitchell formou sua comunidade de músicos em Laurel Canyon, na Califórnia.
O cotidiano daquela vizinhança, que incluía David Crosby, Graham Nash, Neil Young e outros nomes lendários, já havia inspirado seu terceiro álbum de estúdio, “Ladies of the canyon”, lançado em 1970. Mas foi no ano seguinte, com “Blue”, que Mitchell sintetizou à excelência a calmaria hippie do momento e do local, se consagrando como uma das maiores compositoras vivas e alcançando outro patamar de aclamação da crítica.
Para celebrar o disco, que completou 50 anos em maio, a cantora lançou EP com cinco faixas que vão de demos (é o caso das clássicas “California” e “A case of you”) a gravações raras quase inéditas, como “Urge for going” acompanhada de cordas e “Hunter”, que havia sido lançada apenas em um álbum beneficente do Greenpeace.
VERSÃO O lançamento traz uma versão prévia de “A case of you” com versos e tom diferentes, gravada antes de Mitchell desajustar a afinação de seu violão para, segundo ela, “transmitir sentimentos com mais fidelidade”. É mais parecida com a versão final, embora menos polida, a demo da faixa seguinte, “California”, na qual Mitchell lamenta a falta dos amigos de Laurel Canyon durante uma viagem à França -– “é tão solitário andar na rua e vê-la cheia de estranhos”.
Considerado pela “Rolling Stone” como o terceiro melhor álbum de todos os tempos, “Blue” impressionou à época por mostrar uma artista no auge de seu lirismo, com letras profundamente honestas e reveladoras. Ao desnudar seus relacionamentos em faixas como “My old man” e “The last time I saw Richard”, Mitchell subvertia o paradigma das canções feitas por mulheres. Os homens eram problemáticos em vez de superiores, frágeis em vez de porto seguro, e, sobretudo, o motivo de sua tristeza, ou blues.
Cinquenta anos depois, o legado do disco está por toda parte. Lorde cita “Blue” como uma de suas inspirações para “Melodrama”. Lana Del Rey toma emprestadas as “Vogues e Rolling Stones” de “California” para sua própria faixa de mesmo título, e incluiu um cover de Joni em seu último álbum. Taylor Swift é outra fã declarada da canadense.
Até Clairo, de 22 anos e estilo voltado ao bedroom pop, cita Joni Mitchell como conselheira amorosa em uma de suas canções, mostrando que a influência de “Blue” alcança a geração mais jovem. (Estadão Conteúdo)