Jornal Estado de Minas

CINEMA

Veja quais são os filmes brasileiros selecionados pelo Festival de Cannes


Postos de testagem rápida para COVID-19 em vários locais, uso de máscaras dispensado ao ar livre, porém obrigatório em áreas fechadas. Também são compulsórias as apresentações de certificado da segunda dose da vacina, exame PCR negativo ou prova de imunidade por meio de teste de anticorpos positivo. Bem-vindos a Cannes 2021, o primeiro festival de cinema presencial desde o início da pandemia.





A partir da próxima terça-feira (06/07) até 17 de julho, o mais importante festival de cinema do mundo, que em 2020 deixou de ser realizado, devido à crise sanitária, retorna para sua 74ª edição. Mais do que exibir filmes, o evento pretende mostrar que a indústria cinematográfica, extremamente impactada pela pandemia, segue firme. Sua realização, no momento em que a França flexibilizou suas medidas restritivas, é um aceno para o futuro do audiovisual.

O Brasil terá uma participação menor do que em edições anteriores. Não há nenhum longa nacional competindo pela Palma de Ouro, mas isto não quer dizer que o país não esteja de certa forma no páreo. O filme francês “Bergman Island”, que está na disputa pelo prêmio principal, tem entre seus coprodutores Rodrigo Teixeira, da RT Features. Dois curtas nacionais, “Céu de agosto” e “Sideral”, estão na briga pela Palma de Ouro da categoria. O cineasta Kleber Mendonça Filho, cujo “Bacurau” venceu o prêmio do júri em 2019, integra o corpo de jurados que tem Spike Lee como presidente.
Cena de "O marinheiro da montanha", de Karim Ainouz (foto: Globo Filmes/Divulgação)

Vencedor da mostra Um Certo Olhar em 2019, com “A vida invisível”, o diretor cearense Karim Aïnouz retorna a Cannes para exibir, fora de competição, “O marinheiro das montanhas”, sobre a relação de seus pais, uma brasileira e um argelino. A Quinzena dos Realizadores, mostra paralela dedicada à produção independente, selecionou o longa brasileiro “Medusa”.





Também na Quinzena figura “Murina”, mais uma produção internacional que tem Rodrigo Teixeira como produtor (aqui a RT divide a função com Sikelia Productions, de Martin Scorsese). Outra mostra paralela, a Cinéfondation, dedicada a filmes de estudantes de cinema, exibe “Cantareira”, de Rodrigo Ribeyro.

ZONA VERMELHA 

O Brasil é um dos países inscritos na zona vermelha pela França, ou seja, considerado de alto risco em relação à COVID-19. Em razão disso, os diretores e suas equipes que participam do festival receberam uma carta do evento que foi submetida às autoridades francesas para autorizar (ou não) a viagem. Não obstante, todos tiveram que ir com antecedência para a França, já que foi exigida quarentena.
Cena de %u201CMedusa%u201D, de Anita Rocha da Silveira (foto: Bananeira Filmes/Divulgação)

“É um privilégio muito grande estar em Cannes. Para a gente que trabalha com cultura, conseguir comemorar (a seleção) e se sentir feliz quando o Brasil bate 500 mil mortos é emocionalmente complexo”, comenta a atriz carioca Mariana Oliveira, protagonista de “Medusa”, segundo longa de Anita Rocha da Silveira.





Produzido pela mineira Vânia Catani, da Bananeira Filmes, “Medusa” é ambientado num Brasil do futuro, mas que traz uma relação com os dias atuais. Mari (também o nome da personagem principal) é uma das Preciosas do Altar, um coral de uma igreja neopentecostal. 

Funcionária de uma clínica de estética, ela sente uma pressão grande para ser perfeita. “Até que, um dia, acontece um acidente, ela é deixada de lado pelo grupo de amigas e busca a liberdade em outros lugares”, conta a atriz, que estreou no cinema em 2015 com o primeiro filme de Anita, “Mate-me por favor”.

É também uma figura feminina envolvida com uma igreja pentecostal que protagoniza o curta “Céu de agosto”, de Jasmin Tenucci. Antes de Cannes, o filme foi exibido, em janeiro passado, na Mostra de Tiradentes. Na história, uma enfermeira grávida de sete meses, interpretada por Badu Moraes, começa a sentir muita angústia. “Neste meio tempo, ela conhece uma menina evangélica e sente uma conexão e um conforto quando começa a frequentar a igreja. Só que isto vai eclodir em outra coisa”, revela Jasmin.




Cena de %u201CCéu de agosto%u201D, de Jasmin Tenucci (foto: Substância Filmes/Divulgação)

Na opinião da diretora, a seleção para Cannes mostra que está se dando atenção à produção nacional, “no momento em que o Brasil precisa de espaço nas artes, já que, no próprio país, está difícil ter voz”. Apenas 10 curtas disputam a Palma de Ouro – foram cerca de 3,8 mil filmes inscritos neste formato.

Outro curta nacional selecionado, “Sideral”, de Carlos Segundo, foi rodado em janeiro e ficou pronto a tempo de ser enviado para a seleção em Cannes. Paulista que começou a trabalhar em cinema em Uberlândia, onde está sua produtora, O Sopro do Tempo, Segundo rodou o filme em Natal, onde vive há quatro anos como professor no curso de Audiovisual da UFRN.

FOGUETE 

Primeira base aérea de foguetes da América do Sul, a Barreira do Inferno, em Parnamirim (RN), é o ponto de partida da história, definida pelo cineasta como uma “tragicomédia com ficção científica”. O lançamento do primeiro foguete tripulado brasileiro afeta a vida de uma família simples da região.




Cena de %u201CSideral%u201D, de Carlos Segundo (foto: Miguel Sampaio/Divulgação)

“Sideral” foi realizado, em parte, com apoio da Lei Aldir Blanc. Mas sua montagem e finalização ocorreram na França, com investimento público francês, por meio da produtora Les Valseurs. Quando terminar o festival, Segundo ainda permanecerá alguns dias no país europeu, pois lança nos cinemas, em 4 de agosto, o longa “Fendas” (2019), também rodado em Natal. Por ora, o filme permanece inédito no Brasil.

Outra seleção apertada foi a da Cinéfondation. “Cantareira”, de Rodrigo Ribeyro, é um dos 17 selecionados da mostra, que teve 1.835 filmes inscritos. Curta resultante do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da Academia Internacional de Cinema de São Paulo, o filme traz uma relação direta com a vida do diretor.

“Ele acompanha Bento, que nasceu na Serra da Cantareira e se mudou para o Centro de São Paulo para trabalhar. Fiz esse mesmo movimento”, conta Ribeyro, que acompanha, por meio da ficção, o impacto que as mudanças trouxeram para o personagem. 





O curta foi finalizado há um ano. Ribeyro o enviou para alguns festivais brasileiros, sem sucesso. Cannes foi sua primeira seleção. “A seleção me dá combustível para querer fazer mais. Mas lido com ela não com deslumbramento, e sim como uma evidência de um potencial”, diz.

Produtor brasileiro com mais atuação no internacional atualmente, Rodrigo Teixeira preferiu acompanhar Cannes de longe. “Na minha opinião, festival para ir é o próximo, não este”, diz ele, que acredita que esta edição pretende “devolver a esperança” ao cinema. Em 2019, até então a última edição da Croisette, Teixeira assinou a produção de dois filmes premiados: o já citado “A vida invisível” e “O farol”, de Robert Eggers.
Cena de %u201CMurina%u201D, de Antoneta Alamat Kusijanovic (foto: RT Features/Divulgação)

Teixeira não se surpreendeu com a seleção de “Bergman Island”, de Mia Hansen-Love. “A diretora é francesa e tem uma relação com Cannes. A gente só não sabia se ela seria contemplada com a competição principal”, diz ele, que se diz também “muito satisfeito” com o fato de o outro longa coproduzido pela RT também ser dirigido por uma mulher. 





“Murina” é o longa de estreia da croata Antoneta Alamat Kusijanovic. Na narrativa, a tensa relação entre uma adolescente e seu pai opressivo atinge o ponto máximo quando um velho amigo da família vai visitá-los em uma ilha.

. Brasil na Croisette

Confira títulos nacionais selecionados pelo festival e mostras paralelas

LONGAS

“O marinheiro das montanhas”, de Karim Aïnouz (Sessões Especiais; fora de competição) 
“Medusa”, de Anita Rocha da Silveira (Quinzena dos Realizadores) 

CURTAS

“Céu de agosto”, de Jasmin Tenucci (competição oficial) 

“Sideral”, de Carlos Segundo (competição oficial) Miguel  

“Cantareira”, de Rodrigo Ribeyro (Mostra Cinéfondation)  

COPRODUÇÕES 

“Bergman Island”, de Mia Hansen-Love (Competição oficial, coprodução França/Suécia/Brasil)

“Murina”, de Antoneta Alamat Kusijanovic (Quinzena dos Realizadores, coprodução Croácia/Brasil/EUA/Eslovênia)

“O empregado e o patrão”, de Manuel Nieto Zas (Quinzena dos Realizadores, coprodução Uruguai/Brasil/Argentina/França) 

“A noite do fogo”, de de Tatiana Huezo (Um Certo Olhar, coprodução México/Brasil)







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