É impossível não se lembrar de Jane Fonda ao ver Sheila Rubin (Rose Byrne), a personagem principal de “Physical”, exibida pela Apple TV%2b, com novos episódios às sextas-feiras. A atriz, que nos anos 1960 e 1970 foi ativista contra o racismo e a Guerra do Vietnã, virou guru da aeróbica na década de 1980. Sheila também vai de ativista a rainha da ginástica, mas não se trata de uma biografia de Fonda.
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A atriz Rose Byrne considerou interessante fazer esse movimento, porque ela tinha acabado de interpretar Gloria Steinem na série “Mrs. America”, que trata justamente da luta pela Emenda da Igualdade de Direitos.
“É como se fosse uma série complementar”, diz Byrne. “Claro que 'Mrs. America' é uma história mais ampla, enquanto 'Physical' é mais particular. Mas Sheila é uma mulher do movimento que está decepcionada, porque faz papel de coadjuvante para seu marido, apesar de ele ter valores progressistas. Ela é uma dona de casa. Mas tem ambições, quer ter um lugar à mesa.”
ENFEITE
Sheila é casada com Danny (Rory Scovel), professor universitário em San Diego que se candidata a um cargo público com pauta progressista de defesa do meio ambiente, mas vê sua mulher, às vezes, como um belo enfeite para avançar em seus propósitos.
“Infelizmente, é um personagem que conseguimos identificar nos dias de hoje”, comenta o ator Rory Scovel. “E faz pensar que não sabemos como nossos heróis, que defendem nossos valores, se comportam dentro de casa.”
A libertação e empoderamento de Sheila vêm, curiosamente, da aeróbica, depois de descobrir uma aula de ginástica divertida que acaba virando obsessão. Logo, ela mesma se torna uma estrela da aeróbica. “É interessante como muitas mulheres se tornaram economicamente independentes nesse período. E muitas no ambiente de ginástica e bem estar”, comenta Byrne. “Hoje é comum, todo mundo tem uma plataforma, é criador, empreendedor. Mas, em 1981, isso estava apenas começando”.
Atualmente, ninguém se espanta com Gwyneth Paltrow vendendo estilo de vida baseado em bem estar. “Na época, as mulheres não tinham oportunidades de ser donas de negócios tradicionais”, explica Annie Weisman. “Sheila está de saco cheio e abraça o poder econômico e empreendedor como forma de libertação.”
Os anos 1980, além de tudo, foram tempos de excessos também nas roupas de cores vibrantes e nos cabelos volumosos à base de permanentes. “O mundo era muito divertido. Na série, isso se torna uma espécie de cavalo de Troia, porque dá para brincar com essas imagens e introduzir ideias mais subversivas”, afirma Weisman.
Na superfície, Sheila parece estar sempre bem. É bonita, tem uma boa família. Mas, por dentro, ela se corrói em monólogos interiores autodestrutivos e extremamente críticos. “Muitas vezes não é seguro dizer o que você pensa, especialmente num casamento com um sujeito altamente inseguro”, afirma Byrne. “Por ser mulher, é preciso estar um pouco mais atenta à forma como você se apresenta, às aparências, porque o padrão para as mulheres é sempre mais alto. É aquela comparação entre Ginger Rogers e Fred Astaire: ela fazia tudo o que ele fazia, só que num vestido longo e de salto.”
Assistindo à série com sua mulher e amigas, o ator Rory Scovel percebeu que muitas se identificam com a voz interior raivosa de Sheila. “Fiquei surpreso, porque é cruel com elas mesmas e com os outros, enquanto meu monólogo interior parece mais o de um treinador de futebol tentando incentivar o time”, comenta. “Mas, claro, não cresci numa sociedade que me diz o tempo inteiro como devo ser e que aparência tenho de projetar.”
Muito frequentemente, o monólogo interior de Sheila se refere a seu corpo – ela tem transtorno alimentar. A criadora se inspirou em sua própria batalha com distúrbios alimentares para escrever a personagem.
Para lidar com a vergonha do corpo, Annie Weisman precisou de lugares onde as mulheres eram livres para se expressar em voz alta, serem ambiciosas e agressivas – a academia de ginástica foi um deles. Não se tratava de perder peso, mas de encontrar uma comunidade e de abraçar sua própria força.
Ela espera que, ao expor os sentimentos de vergonha, inadequação, ambição e raiva na tela com “Physical”, ajude muitas mulheres. “Temos um trabalho extra: fazer com que tudo pareça ser fácil e sem esforço. Poder colocar isso para fora foi muito libertador para mim, porque outras pessoas se identificam, e isso faz com que me sinta menos sozinha.”
Que Annie Weisman possa contar na televisão essa história tão pessoal, com uma personagem tão complexa, é prova de que as coisas estão diferentes na indústria do entretenimento. “Ela escreveu há oito anos e só conseguiu fazer agora”, comenta a atriz Rose Byrne. “É como 'Mrs. America', que não teria sido feita 10 anos atrás. Ou 'I may destroy you', uma das minhas séries favoritas de 2020. Não sei se ela teria sido realizada há cinco anos. As pessoas realmente querem mais representatividade”, conclui.
“PHYSICAL”
Série com 10 episódios
Novos episódios às sextas
Na plataforma Apple TV