“Quer ver? Escuta”, propôs o mineiro Chico Alvim no poema em que o crítico Roberto Schwarz explicou que “o essencial de sua posição cabe em poucas palavras”. É a essência da poesia não só de Alvim, mas de Alberto Pucheu, Ricardo Aleixo e Angélica Freitas, que motivou o Grupo Galpão a criar “Quer ver escuta”.
Seria esse o espetáculo que a companhia estrearia em abril de 2020 no Festival de Teatro de Curitiba. Interrompida em decorrência da pandemia, a montagem em criação foi se transformando ao longo dos 16 meses desde o início da crise sanitária. A mesma equipe criativa, capitaneada pelos diretores Marcelo Castro e Vinícius de Souza, criou o filme “Éramos um bando”, lançado em setembro. Agora, vem a público outro desdobramento, a peça radiofônica “Quer ver escuta”.
Com lançamento neste sábado (10/07) na Rádio Inconfidência, e a partir de 19/07 nas plataformas digitais, o projeto reúne os atores Antonio Edson, Eduardo Moreira, Inês Peixoto, Júlio Maciel, Lydia Del Picchia, Paulo André e Teuda Bara em uma experiência sonora. A estreia será integral, com programa de pouco mais de uma hora de duração. Para as plataformas, ele será desmembrado em episódios independentes de até 20 minutos.
“Nossa investigação se deu em cima da matéria dos poemas, que transita por gêneros. Os capítulos trazem elementos da ficção, entrevista, música, da própria poesia, mas não existe uma narrativa linear”, explica Inês Peixoto. O processo de gravação e edição (com trilha sonora de Davi Fonseca e desenho de som, mixagem e masterização de Pedro Durães) consumiu quatro meses.
“Foi uma longa jornada sonoridades adentro. Trabalhamos muito a escuta, percebendo os sons ao nosso redor, fora e dentro de casa. São coisas muito cotidianas, prosaicas, como o som de abrir uma bolsa, da colher batendo na panela, dos passos na rua. Tivemos um processo longo de perceber esses ruídos, que formam paisagens sonoras”, continua a atriz.
Cada um dos atores gravou em separado os sons, na maior parte das vezes por celulares. Foram também convocadas pessoas próximas do grupo que participaram de conversas e entrevistas. “Junto aos diretores, ouvimos o material com fone de ouvido para abrir a percepção para as sonoridades que funcionavam, nossos vícios de fala, por exemplo”, acrescenta Inês.
''Nossa investigação se deu em cima da matéria dos poemas, que transita por gêneros. Os capítulos trazem elementos da ficção, entrevista, música, da própria poesia, mas não existe uma narrativa linear''
Inês Peixoto, atriz
PALCO
Sem planos imediatos de retornar aos palcos, o Galpão vem fazendo diversas incursões em diferentes plataformas. No mês passado, lançou o primeiro dos experimentos da série “Dramaturgias”, por meio do Telegram – o título é “Como os ciganos fazem as malas”. “Esta experiência tinha os recursos de imagens, vídeo. Este agora é mais radical, pois você tem somente a escuta. No curso do processo vimos que nossa tarefa era salvar a poesia nestes tempos tão duros que temos enfrentado”, completa Inês.E o projeto original do espetáculo? “Seria interessante se existisse, mas não existe mais. Além do que nossa ideia de trabalhar com a poesia passou para outros lugares, como o cinema e agora o rádio. Mas nada no Galpão é descartado”, finaliza.
QUER VER ESCUTA
Peça radiofônica do Grupo Galpão. Direção de Marcelo Castro e Vinícius de Souza. Estreia neste sábado (10/07), às 21h, na Rádio Inconfidência. Em 19/07 será disponibilizado no Spotify, Apple e Google Podcasts. Em 24/07, às 19h, e em 29/07, às 17h, irá ao ar na Rádio UFMG Educativa