Jornal Estado de Minas

Artes

Mergulho no modernismo inspira reabertura da Casa Kubitschek

A cultura se senta à mesa com toda elegância, a arquitetura conversa animadamente com a história, e as artes ocupam seus espaços no cenário emoldurado pelo paisagismo, num convite ao visitante para se sentir em casa. E curtir, à vontade, todo o ambiente. Na exposição "Outras Habitabilidades", aberta ao público no Museu Casa Kubitschek, na Pampulha, em Belo Horizonte, o que não falta é diálogo entre formas, ideias, estilos e linguagens, que ligam o modernismo à atualidade. A mostra integra a programação do Pampulha Território Museus e marca a reabertura do local à visitação, dentro de todos os protocolos sanitários contra a COVID-19, como determinam as autoridades.





Promovida pela Prefeitura de BH, via Secretaria Municipal de Cultura e Fundação Municipal de Cultura, e Instituto Periférico, a exposição tem a curadoria do arquiteto Carlos M. Teixeira e do especialista em artes visuais Marconi Drummond. O objetivo, segundo os organizadores, está em potencializar a integração do acervo mobiliário do museu inaugurado em 2013 a elementos de design e obras de arte. E, a partir daí, criar uma harmonia inclusiva na arquitetura residencial do espaço e o diálogo entre o modo de morar modernista e as diversas formas contemporâneas de habitar da Pampulha, de BH e do país.

A conexão entre passado e presente e a qualidade do acervo agradaram muito à bacharel em direito e graduada em odontologia Fernanda Lau de Paula, de 31 anos, natural de Timóteo, no Vale do Aço, e residente na capital. "Minha motivação foi conhecer o museu, onde aprendi mais sobre JK. A exposição está bem organizada, com boas informações, gostei bastante", afirmou, ao lado dos pais, Paulo Afonso de Paula e Rosely Lau de Paula.

Instalação de Lúcio Costa para a III Trienal de Arquitetura de Milão, produzida em 1964 (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

Tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), a antiga residência de fim de semana de Juscelino Kubitschek (1902-1976), quando prefeito de Belo Horizonte (1940 a 1945), foi projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012) a pedido de JK. Portanto, o imóvel já é um show à parte para brasileiros e estrangeiros. Depois, pertenceu por décadas à família Guerra, até ser adquirido, com parte do mobiliário, pela Prefeitura de BH e incorporado ao patrimônio municipal. Na área externa fica o jardim planejado pelo paisagista Roberto Burle Marx (1909-1994), em terreno de aproximadamente 3 mil metros quadrados.





Vale destacar que ontem (17) fez cinco anos da conquista do título de Patrimônio da Humanidade pelo conjunto moderno da Pampulha. A Casa fica no entorno do complexo destacado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura e tem presença importante, conforme especialistas, na articulação entre a arquitetura e os modos de vida, a materialidade e a imaterialidade do patrimônio.


RECOMEÇO 
Para a secretária Municipal de Cultura, Fabíola Moulin, há várias razões para celebrar esse recomeço: "Reabrir um equipamento cultural fundamental para a cidade, como é o Museu Casa Kubitschek, e ainda oferecendo a exposição inédita "Outras Habitabilidades", se torna muito especial. É uma grande satisfação proporcionar ao público essa possibilidade de voltar a essa casa tão querida, com toda a segurança e seguindo todos os protocolos que o momento que estamos vivendo exige. Nessa exposição, propomos um diálogo instigante sobre as formas de morar modernista e contemporânea."

'Cadeira de beira de estrada', objeto de pau e corda projetado por Lina Bo Bardi em 1967 (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

De Niemeyer a Volpi, há de tudo um pouco

“Outras Habitabilidades” se estrutura em três pontos expositivos: Camada Histórica, que apresenta o desenvolvimento urbanístico da região e valoriza os aspectos da arquitetura e do paisagismo do espaço; Mobiliário Deslocado, reorganizando os móveis e objetos pertencentes a Dona Juracy Guerra, última moradora do imóvel, com acréscimo de objetos representativos dos espaços domésticos brasileiros; e Residentes Contemporâneos, que retrata outras manifestações arquitetônicas – tradicionais, inclusivas e populares – e evidencia a integração entre arquitetura, paisagismo e artes visuais presentes no movimento modernista brasileiro.





Estão diante dos olhos objetos de design, maquetes arquitetônicas e paisagísticas, obras de arte contemporânea, assim como acervos fotográficos e documentais do Museu Casa Kubitschek e os cedidos pela família Guerra e por outras instituições públicas e privadas.

O visitante terá oportunidade de ver croquis de Oscar Niemeyer e obras de Paulo Werneck, Alfredo Volpi, Lucio Costa, Vik Muniz, Fernando Lara, Nydia Montenegro, Ariel Ferreira, Lina Bo Bardi, Nino Cais, Angela Detanico e Rafael Lain, Coletivo Poro, entre outros.

LEGADO 
Ressaltando a riqueza do acervo e o momento de reflexão sobre o legado do modernismo num contraponto com outros modos de morar, o curador Marconi Drummond informa que estão em cena nove bancos criados por artistas indígenas da região do Rio Xingu, a "Cadeira de beira de estrada", de pau e corda, projetada em 1967 por Lina Bo Bardi (1914-1992) e a instalação Riposatevi (em português: Repousai-vos) concebida pelo arquiteto Lucio Costa (1902-1998), em 1964, para a III Trienal de Arquitetura de Milão, na Itália.





E mais: há cinco monitores digitais com minidocs sobre a Pampulha pré-modernista e modernista, época de JK, azulejaria e mobiliário.

Programe-se

Outras habitabilidades

Local:
Museu Casa Kubitschek (Avenida Otacílio Negrão de Lima, 4188, no Bairro Bandeirantes, Região da Pampulha, em BH)

Funcionamento:
quarta a domingo, das 11h às 18h

Duração:
até maio/2022

Visitação:
gratuita, mediante agendamento (https://pbh.gov.br/reaberturamuseus)

Informações:
www.pampulhaterritoriomuseus.com.br – Telefone: (31) 3277-1586

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