Jornal Estado de Minas

MÚSICA

Aos 22, Clairo mostra que amadureceu com segundo disco


Quando despontou, em 2018, aos 19 anos, a cantora e compositora Clairo – nome artístico da norte-americana Claire Cottrill – foi considerada a nova promessa do chamado “bedroom pop”. Seus primeiros trabalhos estavam alinhados com a ideia de compor e gravar em casa usando recursos como um computador e alguns poucos instrumentos, como guitarra e piano. Apesar de a pandemia soar bastante adequada para fazer música desse jeito, o tempo em casa parece ter dado à artista a vontade de explorar uma nova abordagem musical.





A prova disso é o delicado disco "Sling", lançado nas plataformas digitais na última sexta-feira (16/07). Nele, Clairo não abandona a sinceridade juvenil de suas letras e deixa que elas sejam acompanhadas por uma sonoridade orgânica, marcada pela presença de metais, sopros e cordas. Também é notável a influência do folk, que colocou Joni Mitchell e Carole King no mapa, nos anos 1970.

Essas características já estavam presentes na primeira e única amostra do álbum antes de seu lançamento: o single "Blouse", que chegou em 11 de junho passado. Intimista e sensível, a música já deixava claro que a artista estava às voltas com um registro muito mais ambicioso do que seus trabalhos iniciais. 

Isso se revela tanto na sonoridade quanto nos temas que Clairo aborda ao longo das 12 faixas. Aos 22 anos, ela escreve sobre amores e relacionamentos abusivos, deixando claras sua sensibilidade e a angústia de ter atingido a fama tão cedo. Mas também há momentos em que ela se deixa levar pela alegria de ter uma nova cachorrinha, de nome Joanie (em alusão a Joni Mitchell), cuja pata aparece na capa do disco e que marca presença também nas fotos de divulgação.





Outra grande inspiração para a artista foram as conversas que ela teve com sua mãe durante o tempo em que passou em casa devido à pandemia. Isso a levou a ter um novo olhar sobre a vida doméstica e a maternidade, presente em músicas como "Amoeba", "Harbor" e "Management".

"As conversas que tive com minha mãe sobre a maternidade e as coisas que ela sacrificou. É como se você realmente não soubesse quem é sua mãe antes de ser mãe, antes de ser esposa, porque não há uma grande documentação de quem ela era como indivíduo", disse ela, em entrevista ao diário britânico The Guardian.

"Percebi que posso estar no período da minha vida agora em que estou na minha fase individual: antes de ser mãe, antes de ser esposa, ou o que quer que seja. Foi um pouco assustador reconhecer que eu poderia eventualmente ter uma família, e então toda essa identidade que eu tenho há muito tempo pode, de certa forma, desaparecer", acrescentou.




PRODUTOR 

O reconhecimento como artista em ascensão rendeu a Clairo algumas credenciais para esse novo disco. "Sling" foi coproduzido pelo requisitado produtor Jack Antonoff, vocalista da banda Bleachers, que carrega um currículo cheio de álbuns bem-sucedidos, como "1989" (2014), "Folklore" (2020) e "Evermore" (2020), de Taylor Swift.

A referência aos anos 1970 tem se tornado um fator comum nos discos lançados recentemente que tiveram o dedo do produtor, caso de "Daddy's home", de St. Vincent, e "Chemtrails over the country club", de Lana Del Rey, ambos de 2021.

Antonoff também está envolvido no esperado terceiro disco da neozelandesa Lorde, "Solar power", programado para 20 de agosto próximo. O trabalho com o produtor permitiu que Clairo gravasse os vocais de apoio da faixa-título do álbum de Lorde. Da mesma forma, a cantora da Nova Zelândia é creditada como backing vocal em "Blouse".





Apesar de a presença de Antonoff ser um grande chamariz para "Sling", o segundo álbum de Clairo não é apenas o desdobramento do excelente trabalho que o músico vem fazendo nos últimos anos. Ele é a prova de que uma artista forjada de forma independente pode furar a aparentemente impenetrável bolha do mainstream sem perder suas qualidades artísticas. Afinal, são elas que a fizeram chegar até aqui.

Apesar de bastante diferente de "Intimacy" (2019), álbum de estreia de Clairo, "Sling" guarda a essência daquela garota de 18 anos que gravou um clipe caseiro para a música "Pretty girl" sem imaginar que, um dia, o vídeo teria mais de 75 milhões de visualizações no YouTube. Agora crescida, a artista teve a chance de sair do quarto e ganhar o mundo. Felizmente, ela não desperdiçou essa oportunidade e, ao que tudo indica, deve continuar expandindo cada vez mais os horizontes de seus talentos musicais. 

“SLING”
Clairo
12 faixas
Universal Music/Republic Records 
Disponível nas plataformas digitais 

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