O pianista pernambucano Amaro Freitas é o convidado do Múltiplo Ancestral, atividade promovida pelo programa CCBB Educativo, que acontece neste sábado (24/07). Revelação do jazz brasileiro contemporâneo, ele falará sobre a história de Baquaqua e de Sankofa, referências que permeiam seu trabalho musical. A ação on-line e gratuita será disponibilizada às 10h, no site do programa.
"Sankofa", o álbum, chegou às plataformas digitais em 25 de junho, pelo selo inglês Far Out Recordings. Com oito faixas, o disco presta homenagens a figuras como Milton Nascimento e a rainha quilombola Tereza de Benguela.
Descrita como uma "conversa sonora", a atividade foi gravada a distância no Estúdio Carranca, no Recife, e terá Amaro ao piano enquanto fala sobre as pesquisas que desenvolve musicalmente relacionadas a ancestralidade, histórias esquecidas, filosofias e figuras do Brasil negro.
"A ideia é falar um pouco da história de Baquaqua fazendo um link com o significado de Sankofa. Tento fazer isso de forma bem didática, bem educativa, mostrando a maneira como eu componho. Ao longo de todo o encontro, eu toco trechos das minhas músicas e, após cada uma, encerro apresentando-as na íntegra", explica o músico.
Baquaqua – que dá nome a uma das faixas de "Sankofa", terceiro disco de Amaro Freitas – diz respeito à história do príncipe africano Mahommah Gardo Baquaqua, trazido para o Brasil como escravo, mas que conseguiu fugir para a América do Norte, onde aprendeu a ler e a escrever. Sua autobiografia foi publicada pelo abolicionista americano Samuel Moore.
SABEDORIA
"Uma fã do meu trabalho me mandou a história desse homem no meu inbox no Instagram. Dei uma olhada e fui pesquisar um pouco mais sobre ele. O cara era príncipe no país de onde ele foi trazido e foi padeiro aqui no Brasil. Depois que ele fugiu e aprendeu a escrever, a intenção dele era voltar para a África e conscientizar o máximo de jovens em relação à escravidão no restante do mundo", conta.
Para ele, a história de Baquaqua está intimamente ligada ao Sankofa, símbolo Adinkra, pertencente aos povos acã, grupo linguístico da África Ocidental, traduzido como "retorno ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro". O ideograma é representado por um pássaro com a cabeça voltada para trás.
"É o pássaro que voa para a frente, mas consciente de toda a sabedoria que adquiriu até ali. É olhar para o futuro com os pés no passado, certo de que o caminho até o presente não foi em vão. Isso vem de uma ideia diferente do olhar eurocêntrico. Não é 'penso, logo existo', mas 'sinto, logo existo'", comenta o músico.
Ao descobrir o significado por trás do desenho, depois de vê-lo estampando uma bata em uma feira africana no Harlem, em Nova York, Amaro decidiu usá-lo como conceito primordial de seu terceiro álbum. "O símbolo do pássaro místico que voa de cabeça para trás nos ensina a possibilidade de voltarmos às raízes para realizar nosso potencial de avançar", ele explica.
CARREIRA EM DESTAQUE
"Sankofa", o álbum, chegou às plataformas digitais em 25 de junho, pelo selo inglês Far Out Recordings. Com oito faixas, o disco presta homenagens a figuras como Milton Nascimento e a rainha quilombola Tereza de Benguela.
O trabalho coroa uma carreira de sucesso que Amaro Freitas constrói desde sua estreia com o disco "Sangue negro" (2016). Seu segundo trabalho, o elogiado "Rasif" (2018), fez dele uma promessa do jazz contemporâneo nacional com reconhecimento internacional. Após o lançamento do registro, o pernambucano conquistou espaço cativo em festivais no Brasil e no exterior, gravou com Milton, Lenine e Criolo, participou do Montreux Jazz Festival e caiu nas graças da crítica especializada.
MÚLTIPLO ANCESTRAL
Com Amaro Freitas. Sábado (24/07), às 10h, no site do CCBB Educativo (www.ccbbeducativo.com). Gratuito