A 16ª edição do Festival Literário Internacional de Poços de Caldas (Flipoços) realiza na manhã deste sábado (24/07), às 10h, live com o escritor Daniel Munduruku. Autor de 54 livros publicados no Brasil e no exterior, ele conversará com Claudia Leonardi sobre sua produção literária na Sala Sesc Flipocinhos, espaço voltado para discussões e questões relativas ao universo das crianças.
"Vou colocar as minhas motivações, contar por que escrevo, como acabei me tornando escritor e o que eu desejo transmitir com a minha obra", ele conta. "O meu trabalho está ligado à cultura dos povos originários do Brasil, da qual faço parte e tenho o maior interesse em divulgar."
Nascido em Belém do Pará, filho do povo indígena munduruku, Daniel cursou as faculdades de filosofia, história e psicologia. Tornou-se professor, mas logo o talento por contar histórias falou mais. "Comecei contando as histórias que ouvia na aldeia. Depois de um tempo, descobri que podia reportá-la, transformando-as em literatura", relembra.
"Entre erros e acertos, fui criando um jeito próprio de escrever e as histórias caíram no gosto de quem as lê. Aos poucos, fui me dando conta de que meu trabalho poderia ajudar o povo brasileiro a pensar e entender a sua própria origem", explica.
Segundo ele, as pessoas não aceitam muito bem a ideia de que o Brasil tem povos originários. "A cultura nacional está muito intrincada nas culturas originais. Então, gosto de trazer na minha escrita esse tipo de informação para lembrar (as pessoas) de sua origem e mostrar que podemos conviver uns com os outros, sem nos anular", comenta.
POLÍTICAS PÚBLICAS
Munduruku concorda que o interesse do público leitor em literatura indígena cresceu nos últimos anos. Para ele, isso não seria possível sem políticas públicas garantindo a diversidade de narrativas na educação. "Depois da Constituição de 1988, nós (indígenas) passamos a ter direitos e lutar por uma equidade de participação na sociedade. As mudanças no sistema educacional ajudaram a fazer com que esse tipo de literatura aparecesse como novidade. Em 2008, uma lei que garantia a temática indígena na sala de aula criou a necessidade por esse tipo de produção. Isso garante que várias vozes possam compor a nossa história", afirma.
Segundo Munduruku, nessa época ela já era escritor e, dessa forma, ajudou a criar vários outros autores. “Tudo isso passa por políticas públicas. A literatura indígena aparece no momento exato em que a sociedade se cansou de olhar para si mesma através dos olhos de seus pares. E, afinal, é uma literatura de qualidade, reconhecida não apenas pelos leitores, como pela academia e também por premiações", completa.
Apesar disso, o autor afirma que, sob o atual governo, "as políticas públicas de inclusão têm sido abaladas", o que reflete diretamente nos povos indígenas e em sua produção intelectual e literária. "O governo destruiu o Ministério da Cultura e trabalha com foco em desconstruir o Ministério da Educação. O mercado editorial como um todo foi abalado. O governo não adquire mais os livros. A isso, soma-se a pandemia, que representa outro tropeço para tudo o que a gente vem vivendo desde 2018", analisa.
OBRAS
Entre as obras de Daniel Munduruku que fazem parte da Flipoços estão os livros "Crônicas de São Paulo" (Callis), fruto das andanças do escritor pela capital paulista; "Como surgiu: Mitos indígenas brasileiros" (Callis), em que ele reconta mitos dos povos apinajés, tembés e caiapós; e "O menino e o pardal" (Callis), que fala sobre o amadurecimento das crianças.
A programação on-line e gratuita do Flipoços vai até este domingo (25/07). Além da Sala Sesc Flipocinhos, o evento também conta com a Sala Autores e Lançamentos, ambas disponíveis no site oficial.
MESA COMO SURGIU – MITOS INDÍGENAS BRASILEIROS
Com Daniel Munduruku e mediação de Claudia Leonardi. Sábado (24/07), às 10h, na Sala Sesc Flipocinhos, no evento oficial da Flipoços 2021. Informações e programação completa: flipoços.com