A programação musical do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) – com presença da plateia – será retomada nesta quinta-feira (29/07), em Belo Horizonte, em show instrumental inusitado.
O projeto “Quadrilátero”, idealizado pelo saxofonista e compositor Leo Gandelman, propõe a união de diferentes quartetos. Até domingo (1º/08), as apresentações exibirão quatro naipes de instrumentos a cargo de músicos que mostrarão suas habilidades individuais e coletivas.
Será respeitado o limite de 50% da capacidade do teatro (máximo de 120 pessoas), seguindo todos os protocolos sanitários. Os 16 artistas selecionados por Leo Gandelman se destacam nas respectivas especialidades – percussão, saxofone, cordas dedilhadas e cordas de arco.
Cada show terá uma temática específica e Leo faz participação especial em todas as apresentações, além de comandar masterclass descontraída e aberta ao público sobre a sua trajetória musical, programada para sábado (31/07), às 15h.
“É um momento emocionante, um momento de reencontro com os amigos para poder tocar, porque a música é esporte coletivo. Nestes tempos de pandemia, todos ficaram muito sozinhos dentro de casa, reclusos, situação muito distante da vida normal de um músico. Nós fomos os primeiros a parar, praticamente, e os últimos a voltar”, diz Leo Gandelman, de 64 anos, ressaltando a importância do cumprimento das normas sanitárias de segurança neste reencontro.
''É um momento emocionante, um momento de reencontro com os amigos para poder tocar, porque a música é esporte coletivo''
Leo Gandelman, músico e coordenador do projeto ''Quadrilátero''
POTÊNCIA
“Quadrilátero” se inspira na programação do “Quatro por quatro”, projeto criado por ele em 2009. “Fiquei tão feliz com o resultado que resolvi elevar a potência do negócio. Então, pensei em quatro grupos, com quatro quartetos. A gente toca quatro famílias de instrumentos diferentes, em quatro cidades. Isso aí fecha o quadrilátero”, explica.A terceira edição de “Quadrilátero” terá novos instrumentos, como a percussão. Ela será a estrela da abertura, nesta quinta-feira (29/7). Com Pretinho da Serrinha, Robertinho Silva, Marcos Suzano e Marcelo Costa, o show “Da África às Américas” vai da chamada “percussão de pele” a sons eletrônicos.
“É uma jam session com algumas direções definidas, mas a música, em si, acontece na hora. Não é algo fixo, são direções de levadas que a gente segue”, comenta Leo. Os músicos se apresentam individualmente e encerram o show tocando em conjunto com a participação do anfitrião. Ao final do espetáculo, haverá uma conversa de meia hora com o público sobre música instrumental.
Na sexta-feira (30/7), a sessão de saxofone vai homenagear Ary Barroso (1903-1964) e Moacyr Santos (1926-2006), com a presença do mineiro Nivaldo Ornellas. “Nivaldo é um ícone do instrumento, influenciou todos os saxofonistas brasileiros de hoje. O som dele traz musicalidade muito especial. Nivaldo é compositor também único, muito inspirado. Tocar ao lado dele é história”, diz o anfitrião. Mauro Senise e Zé Carlos Bigorna completam o quarteto.
A banda base será formada por Alberto Continentino (baixo), Eduardo Faria (piano) e Cassius Theperson (bateria).
Clássicos do choro e do afrossamba formam o repertório de sábado (31/07), dedicado às cordas dedilhadas. O repertório reúne “Vê se gostas”/ “Magos de um cavaquinho” (Waldir Azevedo), “Radamés Gnattali” (Pixinguinha), “Vibrações”/ “Bole bole” (Jacob do Bandolim), “Canto de Ossanha”/ “Consolação” (Baden Powell), “Sensacional” (Henrique Cazes), “Ternura” (K Ximbinho) e “Espinha de bacalhau” (Severino Araújo). A banda é formada por Rogério Caetano (violão de 7 cordas), Luis Barcelos (bandolim), João Camarero (violão de 6 cordas) e Henrique Cases (cavaquinho).
MULHERES
No domingo (1º/08), às 20h, o encerramento ficará a cargo de cordas de arco sob o comando das instrumentistas Janaina Salles, Carla Rincon, Inah Kurrels e Jocelynne Cárdenas. O repertório terá composições de Astor Piazzolla (1921-1992), Villa Lobos (1887-1959) e Radamés Gnattali (1906-1988). As quatro são solistas e também se apresentam em orquestras.A terceira edição do “Quadrilátero” teve início em março deste ano, no CCBB do Rio de Janeiro. O projeto é significativo para os participantes, instrumentistas cujo trabalho foi severamente impactado pela pandemia da COVID-19 e medidas de isolamento social.
Leo Gandelman, que se dedica à música instrumental desde 1987, comenta que são poucas as possibilidades de lives para instrumentistas. “Ninguém conseguiu trabalhar em 2020. Praticamente zero oportunidade de trabalho para todo mundo, foi muito sofrido. Este ano continua assim. Então, a perspectiva de trabalho é uma perspectiva de vida, uma coisa muito importante, muito séria”.
''Não sei como vai ser o 'normal' do futuro, mas a nossa esperança é de que a vida volte aos trilhos. Nosso projeto é o primeiro passo em relação a um novo caminho''
Leo Gandelman, músico e coordenador do projeto ''Quadrilátero''
DESMONTE
A oportunidade de retomar a agenda no CCBB-BH é a possibilidade de recomeço diz ele. “Uma luz no final do túnel.” Mas as dificuldades são mais amplas e não se limitam à COVID-19.“A gente vive um momento muito difícil, a cultura no Brasil tem sido desmontada. Ela está esquecida, abandonada, com falta de condições inclusive para aprovar projetos. A gente foi reduzido a uma secretaria”, afirma o saxofonista, referindo-se à extinção do Ministério da Cultura pelo presidente Jair Bolsonaro. “Não sei qual é o medo do atual governo, mas parece que a cultura é algum tipo de ameaça”, lamenta.
Por outro lado, Gandelman revela otimismo em relação ao futuro. “Acho que nosso projeto é a chama da esperança de volta ao coração da gente. Primeiro, com o encontro dos músicos numa outra posição, já vacinados e entendendo que aos poucos as coisas podem voltar. Não sei como vai ser o 'normal' do futuro, mas a nossa esperança é de que a vida volte aos trilhos. Nosso projeto é o primeiro passo em relação a um novo caminho”, conclui.
PROGRAMAÇÃO
» HOJE (29/07)
Às 20h. “Da África às Américas”. Com os percussionistas Pretinho da Serrinha, Marcos Suzano, Marcelo Costa e Robertinho Silva.
» SEXTA (30/07)
Às 20h. “Ary Barroso e Moacyr Santos”. Com os saxofonistas Leo Gandelman, Mauro Senise, Zé Carlos Bigorna e Nivaldo Ornellas.
» SÁBADO (31/07)
Às 20h. “Choro e afrossambas”. Cordas dedilhadas. Com Rogério Caetano, Luis Barcelos, João Camarero e Henrique Cases. Às 15h, masterclass com Leo Gandelman
» DOMINGO (1º/08)
Às 20h. “Radamés Gnattali, Astor Piazzolla e Villa Lobos”. Cordas de arco. Com Janaina Salles, Carla Rincon, Inah Kurrels e
Jocelynne Cárdenas.
“QUADRILÁTERO 2021”
De hoje (29/07) a domingo (1º/08). Coordenação: Leo Gandelman. Teatro 1 do Centro Cultural do Banco do Brasil. Praça da Liberdade, 450, Funcionários. R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), à venda no site Eventim. Capacidade: 120 lugares. Informações: bb.com.br/cultura e eventim.com.br.
*Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria