Jornal Estado de Minas

MÚSICA

Márcio Greyck rompe 'exílio' e lança disco de inéditas em setembro


Há mais de duas décadas distante dos holofotes, o cantor e compositor Márcio Greyck, que despontou para o sucesso no bojo da Jovem Guarda, com seu primeiro álbum lançado em 1967, está de volta à cena.





Passados 34 anos desde que seu último disco de músicas inéditas veio à luz – “Pés no chão e coração nas nuvens” (1987) –, ele agora anuncia para 1º de setembro o lançamento de “Envolver”, que chega com a chancela do selo Discobertas, do produtor Marcelo Fróes. Foi ele, aliás, quem incitou Greyck a apresentar o material novo no qual vinha trabalhando há alguns anos, concluído durante este período de pandemia.

ERASMO

Nesta sexta-feira (30/07), o single que prenuncia o novo álbum, “Até quando?”, chega às plataformas. É a única canção não inédita entre as 13 que compõem o repertório, anteriormente gravada por Erasmo Carlos no disco “Homem de rua” (1982).

“Tinha vários esboços de canções guardadas e, com essa coisa do isolamento, foquei em terminar. Tinha a ideia de lançar isso de uma forma meio underground, mas aí o Marcelo acreditou no projeto, achou interessante lançar oficialmente”, conta Greyck.





“Conheço o Márcio há muitos anos, mantivemos contato pelo WhatsApp, ao longo dos últimos anos ele sempre me mandava umas gravações. Eu o chamei para participar do tributo ao ‘álbum branco’ dos Beatles, em 2008, e ele gravou ‘Marta my dear’. Fez tudo sozinho em casa, é multi-instrumentista muito habilidoso”, diz Fróes. “De vez em quando, ele me mandava as coisas dele, eu falava em a gente fazer um disco e Márcio desconversava. Acho que tinha trauma de gravadora, preferia seguir fazendo a coisa de forma mais lúdica. Agora, na pandemia, eu o procurei e ele me disse que estava trabalhando numas fitas, que tinha engrenado numas gravações.”

O produtor revela a forma curiosa como convenceu Greyck a lançar um novo álbum: “Nunca fui fã de Raul Seixas, nunca me interessei muito, mas sonhei com ele me perguntando o que tinha acontecido com o Márcio Greyck. Contei o sonho para o Márcio. Ele começou a me mandar músicas mais frequentemente, pelo celular, voltei a falar de lançar um disco e ele topou.”

IDENTIDADE

O cantor e compositor, que viveu seu apogeu em 1971 com o sucesso da balada “Impossível acreditar que perdi você”, diz que “Envolver” – inteiramente gravado em casa, com ele tocando todos os instrumentos – mantém sua identidade artística, mas passeia por várias sonoridades.




“O intérprete, normalmente, é obrigado a adotar um estilo para vender discos – fui obrigado, durante muito tempo, a adotar um estilo. Mas o compositor se dá o direito de uma variedade maior. Tem sambas que não lancei nesse conjunto para não confundir, mas componho sambas também, sou brasileiro, está no sangue”, revela. Com “Envolver”, Greyck quis mostrar as tendências de sua composição. “Então tem blues, tem bossa nova, tem balada, tem rock'n'roll e até um certo espírito sertanejo, mas tudo dentro de um conceito urbano”, destaca.

Márcio Greyck explica que um dos motivos de ter ficado tanto tempo afastado do cenário musical (seu último lançamento é o disco de regravações “No tempo, no ar e no coração...”, de 1997) foi não ter acompanhado as mudanças pelas quais o mercado passou ao longo dos últimos anos.

“Venho de um outro momento, quando você ia às emissoras de rádio com o disco embaixo do braço, porque era esse o caminho de promover e divulgar o trabalho. Eu, ao longo dos últimos anos, perdi o entendimento de como lançar alguma coisa, de como voltar ao mercado”, aponta.





AVATAR

Mas ele ressalva que a desconexão com as engrenagens que atualmente movem o mercado da música não foi o único motivo de seu afastamento. “Em relação a esse hiato de 34 anos, tem também uma coisa pesada aí, que foi a desmotivação muito grande por parte da pessoa que segura do avatar do Marcio Greyck. O Marcio Greyck é uma invenção, e a pessoa que o inventou sofreu uma série de intempéries na vida, que acabaram levando essa criação para a geladeira. Me acomodar num processo de ‘gigolagem’ do Marcio Greyck me incomodou muito durante um tempo, achei que não valia a pena lançar mais nada”, diz Márcio Pereira Leite, como registra sua certidão de nascimento.

Se por um lado a forma como a cadeia produtiva da música gira atualmente lhe parecia estranha, assustadora, foi justamente por causa das possibilidades que a tecnologia hoje oferece que ele recuperou o estímulo para retomar a carreira.

“Andava mesmo bem desanimado, até que veio a pandemia e descobri essa Disneylândia que é o meu estúdio, a possibilidade de produzir minhas coisas sozinho, em casa, me envolver com a música. O processo de lançamento estou deixando na mão do Marcelo. Vamos focar agora na chegada desse primeiro single, para as pessoas conhecerem. A gente guarda o lançamento para o dia 1º de setembro e até lá esse single fica aí brincando, despertando a curiosidade das pessoas”, diz Greyck.

audima