Há dois meses, Emanuelle Guedes, de 24 anos, se tornou a primeira mulher a se graduar no curso de regência da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Aluna da Universidade de São Paulo (USP), Ana Laura Mathias Gentile, de 26, também é a única mulher formada em regência de sua turma. Foi uma “surpresa positiva”, diz Raphaela Lacerda, de 25, formada pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), encontrar um grupo majoritariamente feminino no 12º Laboratório de Regência, promovido pela Filarmônica de Minas Gerais.
Até terça-feira (3/08), as três e Felipe Gadioli, de 25, graduado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), participam do programa com o maestro Fabio Mechetti. A imersão, que oferece aulas teóricas e práticas com o regente titular e diretor artístico da Filarmônica, vai culminar com cada um deles regendo uma peça com a Filarmônica.
Realizado no sábado, sorteio destinou a “Abertura Leonora nº 3”, de Beethoven, a Raphaella; “O franco-atirador: Abertura”, de Weber, a Emanuelle; “Abertura trágica, op. 81”, de Brahms, a Felipe; e “Semiramide: Abertura”, de Rossini, a Ana Laura. O concerto desta terça será gratuito e aberto ao público.
“Nas últimas décadas, observamos mulheres assumindo a posição de regente titular de orquestras no mundo, embora a porcentagem ainda seja relativamente pequena”, afirma Mechetti. O maestro lembra que a atividade tem outro dificultador no Brasil: “O número pequeno de orquestras, coros e conjuntos profissionais, além da formação e oportunidades oferecidas para o crescimento dos jovens. Nos Estados Unidos, são centenas de orquestras profissionais, enquanto no Brasil não chegamos a 50.”
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O regente precisa de prática, e Emanuelle chama a atenção para o programa da Filarmônica. “O jovem não tem experiência com uma orquestra profissional, sua construção se dá através de um processo. É extraordinário estar aqui e ter aulas com o maestro, experimentar e trabalhar coisas mais avançadas da performance.”
Felipe concorda. “Quando você estuda dentro de casa, não faz ideia se conseguirá que os gestos que está aprendendo serão aplicados na masterclass (com pianistas) e com a orquestra. É muito diferente.” Na universidade, grande parte da formação de um maestro se dá com a regência de um piano. “É maravilhoso, mas muito diferente de uma orquestra”, explica Raphaela.
Recém-formados, os quatro agora enfrentam um novo desafio. Há muitos regentes para poucas orquestras. O caminho mais comum é o aprimoramento no exterior. Raphaela deixa BH na quarta (4/08) e uma semana mais tarde parte para os EUA. Vai fazer mestrado de regência para orquestra na Azuza Pacific University, na Califórnia.
Emanuelle também pensa em um mestrado. Ana Laura, depois de longo tempo estudando remotamente, passou a ter práticas presenciais com Cláudio Cruz, regente titular da Orquestra Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo. “Nossa profissão é com pessoas. Se não tem orquestra, não tem instrumento, não tem coro, tudo fica incompleto”, ela diz.
Felipe planeja estudar no exterior, mas tem um sonho em longo prazo. “É imprescindível formar orquestras no Brasil. Acho importante que elas tenham a noção de que devem se comportar como organismos do povo, cheguem ao público. Hoje, muitas orquestras estão interessadas em manter a prática centenária europeia. É muito importante criar orquestras ou reformar as práticas daquelas que já existem para que tenham mais engajamento social”, conclui o jovem regente.
CONCERTO DO LABORATÓRIO DE REGÊNCIA
Nesta terça-feira (3/08), às 20h30, na Sala Minas Gerais, Rua Tenente Brito Melo, 1.090, Barro Preto. Entrada franca. Ingressos devem ser retirados pelo link https://fil.mg/laboratorio2021 (até dois bilhetes por CPF). Não haverá distribuição no momento da apresentação, que será transmitida pelo canal da Filarmônica no YouTube.