Ela está envelhecendo – todos estamos, na verdade. Só que ela tem 19 anos! Ouvir Billie Eilish abrir seu segundo álbum cantando “Getting older” – “estou ficando mais velha/ tenho mais peso sobre meus ombros” – traz uma carga de ironia só para quem não está por dentro de sua história. Vida devassada, críticas ao corpo fora dos padrões, mensagens de ódio, depressão, ela já passou por muito em pouco tempo de vida.
A chave do disco – extenso para os padrões atuais, quase uma hora distribuída em 16 faixas – é justamente a canção-título. “Happier than ever” não é um conto de fadas como a frase “mais feliz do que nunca” pode ensejar – basta olhar a foto de Billie na capa. A música mais forte do álbum, que apresenta um dos vocais mais expressivos já registrados, é um tapa (na cara, não de luva) em qualquer pessoa que a tenha subestimado.
DOR
“Happier than ever” começa como uma balada interpretada quase como sussurro, com a dor latente nos vocais, que vai crescendo assustadoramente para a segunda parte de cunho épico, com bateria e guitarras se sobrepondo. “Quando estou longe de você/ fico mais feliz do que nunca”, ela canta. O pop confessional de Billie, que emergiu em 2016 com o single “Ocean eyes”, nunca foi melhor do que agora.
Billie Eilish é a mais jovem artista a vencer todas as categorias principais do Grammy: foram cinco troféus (incluindo álbum, gravação e canção do ano) na 62ª edição do prêmio, em 2019. Também é a mais jovem a compor e gravar para um filme de James Bond (“No time to die”, do ainda inédito filme homônimo, estrelado por Daniel Craig).
Neste ano, lançou um documentário na AppleTV+ (“The world's a little blurry”, de R.J. Cutler). Em 3 de setembro, outra plataforma de streaming, a Disney , lança “Happier than ever: A love letter to Los Angeles”, especial dirigido por Robert Rodriguez e Patrick Osborne.
No palco do Hollywood Bowl, Billie interpretou todas as canções do novo trabalho com participações de luxo, como a Filarmônica de Los Angeles regida pelo maestro Gustavo Dudamel. O guitarrista e violonista brasileiro Romero Lubambo também participou do show.
Ou seja: é muita coisa para muito pouco tempo de carreira. Billie está consciente de tudo, é o que mostra nas canções. A exemplo do álbum de estreia, “When we all fall asleep, where do we go?” (2019), gravou “Happier than ever” em seu estúdio em casa, em Los Angeles, com o irmão Finneas pilotando a produção.
Nas canções, mostra que a despeito do sucesso e da fama, o “felizes para sempre” é uma ideia que não cabe para ela. Agora platinada, como intérprete Billie vem se aproximando cada vez mais do jazz, ainda que seu trabalho traga referências do rock, do hip hop e da eletrônica.
CORPO
Sempre direta ao ponto, ela oferece o ombro em “Everybody dies”. Fala de morte para quem não tem idade para pensar nisso: “Vocês deveriam saber/ Que mesmo quando for a hora/ Vocês podem não querer ir”. Derruba a quarta parede em “Not my responsability”, quando confessa a vergonha do corpo, os padrões estéticos que teve que quebrar de tal forma que parece falar diretamente para cada um de seus ouvintes.
Billie transporta o ouvinte para a pista com a levada tecno de “Oxytocin” ao mesmo tempo em que parece quase solar em “Goldwing”. Dá frescor à bossa em “Billie bossa nova” e emula uma diva sensual em “My future”. Nada é gratuito, excessivo ou repetitivo. E não custa repetir: Billie tem só 19 anos.
Emc 20348 – capinha
“HAPPIER THAN EVER”
.Álbum de Billie Eilish
.16 faixas
.Disponível nas plataformas digitais