Para o lançamento de seu terceiro álbum, "Nebulosa baby", o cantor, compositor e produtor soteropolitano Giovani Cidreira decidiu abandonar o nome de batismo para assumir o apelido GIO artisticamente. A mudança foi feita para "facilitar as coisas", segundo ele, que já era chamado assim por muita gente, até mesmo pelos fãs. O nome também vai ao encontro da ideia de que o álbum representa uma nova fase na carreira do artista.
O primeiro vislumbre do que ele gostaria de fazer ocorreu durante uma conversa que teve com sua mãe sobre família, no distante 2019. "A gente conversava sobre esse adoecimento social do Brasil, e ela me falou uma coisa muito importante: 'Família é o lugar onde você se sente bem para ser o que você é'. A partir daí, comecei a pensar o disco", conta.
Convidados
"Para mim, um disco novo começa no lugar onde estou. Começo a andar em lugares diferentes, mudo meu jeito de comer e mudo meu cabelo. Então assumo esse nome como uma maneira de criar um novo personagem e transformar isso num lance estético. Faz parte da criação de uma nova identidade para esse novo momento", diz.
Todas essas novidades chegaram aos poucos, ao longo dos últimos três anos. Desde que encerrou o ciclo de seu segundo trabalho, "Japanese food" (2017), com o qual despontou, GIO trabalha no sucessor. "Não levei todo esse tempo por preciosismo. É muito difícil lançar disco, precisa de muito recurso, e eu passei um tempo sem a grana necessária para finalizá-lo de uma maneira legal", afirma.
"Para mim, Milton Nascimento é o melhor artista do Brasil. Acho que a estrutura musical em que componho está muito ligada a uma coisa que já passou. É uma estrutura progressiva. Não falo a coisa, falo o sentimento que a coisa gera. Quem me ensinou isso foi o Fernando Brant e o Márcio Borges"
GIO, cantor e compositor
Pouco tempo depois, ele firmou parceria com Benke Ferraz, integrante da banda Boogarins, que assumiu a produção. "Quando me dei conta de que eu não ia conseguir realizar o disco como eu imaginava, fiz o que sempre faço: usar a dificuldade a meu favor e transformar isso em linguagem. O Benke desempenhou um papel superimportante, ao me aconselhar a lançar músicas em outros projetos. Nenhuma obra se encerra após o lançamento de um registro."
Por isso algumas das faixas do repertório de "Nebulosa baby" também fazem parte dos três últimos trabalhos de GIO, os EPs "Mix$take" (2019) e "MANO*MAGO" (2020), esse com Mahal Pita; e o álbum "Estreite" (2020), em parceria com a baiana Josyara. Em alguns casos, as músicas aparecem com outros nomes, letras e arranjos.
"Algumas músicas aparecem sampleadas ou cortadas. Outras se repetem mesmo, como é o caso de 'Oceano franco' e 'Anos incríveis'. Gosto de pensar o 'Nebulosa baby' como um pedaço de vidro, um espelho, que eu quebrei, separei os cacos e agora estou convidando todo mundo para juntá-lo volta", afirma o artista.
Convidados
A lista de artistas que GIO convidou para dar liga ao projeto é extensa e começa com Jup do Bairro, cuja voz aparece na primeira faixa, a breve "Intro (Daqui pra frente)".O Obinrin Trio está nas faixas "Nebulosa" e "Pode me odiar". A segunda também conta com Alice Caymmi.
"Entrelaçados" tem a presença do produtor Dinho e da cantora Luiza Lian; e "Claridades" conta com a cantora Luê. Ava Rocha canta em "Luzes da cidade" e Josyara protagoniza "Saudades da Josy". A baiana Jadsa gravou para o disco algumas das vozes secundárias.
No estúdio, GIO foi acompanhado por Ynaiã Benthroldo (bateria), Lucas Martins (baixo e sintetizador), Filipe Castro (percussão), e Cuca Ferreira (sax).
"Sou uma pessoa 'galerosa'. Sempre contei muito com as pessoas e com a amizade delas. Gosto de estar perto das pessoas. A informação que elas acrescentam para uma música muitas vezes é algo que eu nunca imaginei. Durante esse processo, aprendi a me abrir e deixar o outro trazer o momento dele. É mágico ver essas músicas ganhando outra vida."
Para além das parcerias, GIO também brilha sozinho em "Nebulosa baby". Na faixa "Sangue negro", ele aborda sua ancestralidade e as conquistas da vida. Na ótima "Joias", mantém o tom de celebração e cria um interessante jogo de palavras mesclado com uma batida que, em determinado momento, remete ao funk.
Em todas elas, GIO posiciona seu álbum entre a nostalgia e a atualidade. Assim como no disco anterior, segue tendo no Clube da Esquina sua principal fonte de inspiração.
"Ouvi isso a minha vida inteira, e eles nunca vão sair da minha vitrola. Para mim, Milton Nascimento é o melhor artista do Brasil. Acho que a estrutura musical em que componho está muito ligada a uma coisa que já passou. É uma estrutura progressiva. Não falo a coisa, falo o sentimento que a coisa gera. Quem me ensinou isso foi o Fernando Brant e o Márcio Borges.”
Ele conta que certa vez se encontrou com Ronaldo Bastos. “Depois de ouvir algumas das minhas músicas, ele me falou: 'Rapaz, eu nunca vi um baiano tão mineiro'."
Junto com o disco, GIO lançou a tradução visual de algumas das músicas. Disponível no YouTube e no Vimeo, o material foi dirigido pelo artista em parceria com Edvaldo Raw. Em relação às imagens, ele diz: “É sobre não esquecer que somos pessoas iluminadas, detentoras de um poder ancestral, de um potencial que o sistema racista, que nos mata todos os dias e nos entrega sobras, descarta e nos faz esquecer, retirando o direito de existir na memória, na musicalidade e nas experiências culturais desse país".
“Nebulosa Baby”
.GIO
.13 faixas
.Selo RISCO
.Disponível nas plataformas digitais
.'O álbum-visual está disponível nos canais do artista no YouTube e no Vimeo