O Festival Nacional da Canção (Fenac), que em 2021 chega à sua 51ª edição, acaba de anunciar as 56 músicas classificadas, a partir de um total de 1.310 inscritas. Este ano, o festival apresenta uma grande novidade: o público será um dos jurados.
As músicas classificadas para o Fenac já estão disponíveis no site do festival e o público pode dar o seu voto para a canção que mais gostar. Este ano, o evento será realizado pela primeira vez na cidade de Passos, no Sudoeste mineiro, nos dias 3,4,5 e 6 de setembro, no parque de exposições local. O formato será híbrido, com atrações presenciais e on-line.
A escolha popular vai se juntar às mais votadas pelo júri, composto por oito especialistas da área. Além do troféu Lamartine Babo para o vencedor do concurso, serão distribuídos R$ 70 mil em prêmios. O primeiro colocado ganha R$ 20 mil, o segundo R$ 15 mil, e a premiação em dinheiro contempla até o 10º lugar, que recebe R$ 2 mil.
Os valores que são pagos e o alcance que o Fenac passou a ter a partir do momento em que começou a adotar o modelo on-line, em 2019, são um grande atrativo para os músicos e justificam o grande número de inscrições – muitas, inclusive, vindas do exterior.
‘ESTRANGEIROS’
“Para esta 51ª edição, vieram trabalhos de cinco países diferentes, sendo que um de Portugal e outro de um compositor brasileiro que está radicado nos EUA estão entre os classificados”, aponta Gleizer Naves, criador do Fenac, acrescentando que as músicas inscritas têm, obrigatoriamente, que ser cantadas em português. “Em 2019, tivemos, por exemplo, uma música da Ucrânia, que foi classificada em terceiro lugar, mas era uma música vertida para o português”, comenta.
Gleizer explica que foi justamente com o intuito de ampliar o alcance do festival e permitir que mais pessoas pudessem participar que, já em 2019, antes da chegada da pandemia, portanto, o modelo remoto começou a ser adotado – o que foi providencial para que a edição de 2020, já sob o impacto do coronavírus, pudesse ser realizada, sem maiores atropelos, de maneira totalmente on-line.
“Quando optamos por esse formato, o festival cresceu muito, porque tem muita gente de talento, não só no Brasil, mas também no exterior, que não vem por uma impossibilidade econômica”, diz, aludindo ao fato de o Fenac ser invariavelmente realizado em cidades do Sul e Sudoeste de Minas Gerais.
ALCANCE
“Bandas do Rio Grande do Sul, do Norte e do Nordeste do Brasil não conseguem sair de suas cidades para vir se apresentar aqui. O investimento no on-line em 2019 teve a ver com a coisa do alcance. A gente percebia que a dificuldade econômica dos músicos era uma barreira. Foi um sucesso, tivemos mais ou menos 150 músicas do exterior e muitas bandas do Brasil, de outros Estados. Com isso, o nível musical melhorou muito”, diz.
A opção neste ano foi pelo formato híbrido, com os concorrentes se apresentando de maneira remota, os apresentadores chamando as músicas em disputa por telões instalados no parque de exposições de Passos, e as atrações convidadas – grupos de dança, de artes circenses, de música erudita e instrumental – mostrando seus trabalhos de forma presencial, em uma tenda montada no local, tudo transmitido ao vivo pelo YouTube.
“Vamos aproveitar que está havendo uma maior abertura, de acordo com as normas sanitárias, e vamos fazer de forma presencial também, numa única cidade, porque normalmente o festival acontece em sete municípios da região Sul do Estado”, aponta Gleizer. Ele destaca que o acesso ao parque de exposições será para um público restrito, com todas as medidas de segurança exigidas pela Secretaria de Estado de Saúde.
Sobre as atrações convidadas, que intercalam as apresentações dos concorrentes, diz que é uma forma de tornar o evento mais dinâmico e não enfastiar o público. “Acho bonito no festival quando você não deixa o público ficar cansado só ouvindo música autoral o tempo todo, então você vai entremeando a mostra competitiva com circo, com música erudita. Isso dá uma leveza. O Grupo Corpo já participou do Fenac, com parte do elenco, em 2019. Para criar um espetáculo mais fluido, a gente faz essa miscelânea de apresentações diferentes. Quando era presencial, uma coisa que cansava muito o público era uma banda subir no palco e começar a afinar o instrumento. Agora, quando um artista termina de se apresentar, uma atração num outro palco já começa”, explica.
Neste momento em que a cultura, de modo geral, se encontra tão depauperada, tanto pelo descaso do poder público em âmbito federal quanto pela pandemia, ele vê no Fenac um importante suporte para os músicos e artistas de outras áreas.
“Temos aí já um ano e meio de pandemia, e grande parte dos grupos, de diferentes formas de expressão, se desintegraram. Na hora em que você liga dizendo que está começando de novo um trabalho e convida para participar, tem gente que chora de emoção, por perceber que as oportunidades estão voltando, que as coisas começam a funcionar novamente.”
Ele conta que uma das pessoas para quem ligou disse: ‘Olha, eu vou ter que procurar onde meu pessoal está, porque cada um foi fazer uma atividade diferente, um foi ser garçom, o outro está fazendo entrega, o outro está trabalhando como Uber’. Com o festival, a pessoa vê a possibilidade de reativar a carreira artística, seja a turma da música, da dança, das artes cênicas, das artes circenses. Isso me deixa muito emocionado”.