Ao dizer “eu queria trazer um pouco de cor aos dias cinzentos”, o artista plástico Ronilson Ferreira de Oliveira, de 54 anos, resume a essência do projeto “Arte é Energia”, que transformou as ruas do município de Rio Novo em uma galeria de arte a céu aberto.
O trabalho de pintura nos postes da cidade da Zona da Mata mineira – que resgata momentos históricos, culturais, religiosos e políticos – recebeu aval e apoio do Departamento de Cultura de Rio Novo e da Secretaria Municipal de Educação.
Iniciado no dia 27 de fevereiro deste ano, o projeto teve como ponto de partida a Rua Galdino Pinto, que recebeu esse nome em homenagem a um dono de circo. Durante a gripe espanhola, ele e sua esposa, Clotilde Pinto, encerraram as atividades no local, em 1918, para acolher as vítimas da doença, transformando o espaço numa espécie de hospital de campanha.
Hoje, a rua, que leva o nome de Galdino em Rio Novo, estampa nos postes imagens com temática circense, também como forma de homenageá-lo.
Indo além da alusão ao circo, uma explosão de cores vibrantes se funde com a simplicidade das ruas centrais do município para dizer que vidas negras importam e que Marielle Franco está presente após ter sido executada a tiros em um atentado no dia 14 de março de 2018.
Tradicionalmente usado para a colocação de energia elétrica nas áreas urbanas e rurais, o poste, para o artista plástico, é ressignificado com o trocadilho perspicaz “Arte é Energia”.
A diversidade LGBTQIA%2b, o samba, os elementos do folclore brasileiro, os famosos personagens de Monteiro Lobato e Mauricio de Sousa também temperam as ruas transformadas em galerias de arte. E quem passa por elas recebe a energia que as imagens transmitem. É o conceito!
“Quem define o que vai ser pintado é a própria comunidade. Os moradores sempre me procuram com uma ideia de intervenção artística”, explica Ronilson, que, além de idealizador do “Arte é Energia”, também atua como professor na rede municipal de ensino. A iniciativa, inclusive, integra ações pedagógicas nas escolas municipais da cidade do interior mineiro.
“Os alunos também têm auxiliado nas escolhas dos temas e na execução das pinturas”, complementa o professor, acrescentando que o projeto, a princípio, vai até o fim deste ano, mas pode ser que ele seja estendido, caso a demanda por novas imagens aumente por meio da participação popular.
“Muitos dos pedidos que recebo atendem não apenas uma sugestão de trabalho para o projeto, mas um desejo pessoal. Uma senhora, por exemplo, que tem o hábito de acolher cachorros em situação de rua, me pediu para pintar São Francisco de Assis num poste em frente à casa dela”, conta Ronilson.
Até o momento, cerca 20 colaboradores, entre artistas plásticos, moradores e alunos da rede municipal, já colocaram a mão na massa para fazer com que a iniciativa “Arte é Energia” atingisse 12 ruas e a praça central do município.