Jornal Estado de Minas

AUDIOVISUAL

Memorial da Vale abre mostra de artistas selecionados para 2021


Memorial Vale inicia nesta terça-feira (10/08) a exibição das obras audiovisuais selecionadas por meio de sua Convocatória de Programação 2021. Um total de 18 propostas que serão apresentadas ao longo deste segundo semestre revela uma produção diversificada e descentralizada, conforme aponta o gestor do espaço, Wagner Tameirão. 





A abertura da mostra é com o curta “Cizânia”, de Elizabeth Ramos, às 19h, com transmissão pelo canal do Memorial Vale no YouTube. A obra, segundo a autora, explora os reflexos do patriarcado por meio de duas pequenas esculturas feitas em barro.

“Já tenho uma longa pesquisa em esculturas que retratam o cotidiano feminino. Senti a necessidade, a partir das duas obras que o filme focaliza, de colocar para fora alguns pensamentos sobre como o gênero feminino tem sido tratado ao longo do tempo e como a violência a que ele é submetido gera resquícios”, diz a artista.

Ela aponta que “os dados mostram como o feminicídio aumentou neste período de isolamento social” e diz que quis “mostrar, de alguma forma, como as pequenas violências podem marcar nosso corpo e nosso intelecto”.





As marcas da opressão contra as mulheres estão expressas, em “Cizânia”, nos detalhes das esculturas que criou, diz Elizabeth Ramos. “São duas mulheres mestiças, elas têm marcas no corpo, usei a cerâmica crua para ressaltar essa característica. Uma das formas de representação desse tema que quero abordar é o fato de serem esculturas minúsculas, que você tem que chegar bem perto para ver o que está acontecendo”, explica.

Artista visual, graduanda no curso de Artes Aplicadas com ênfase em cerâmica pela Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ), Elizabeth conta que utiliza o barro, a performance e recursos audiovisuais como suporte para expressar sua subjetividade. 


PESQUISA 

“Há cinco anos pesquiso a cerâmica, desde quando entrei no curso de Artes Aplicadas, na graduação da UFSJ. A primeira escultura que fiz foi uma mulher e desde então não me vejo fazendo outra coisa que não seja a representação de mulheres”, afirma. 





“Sempre retrato corpos. Não entendia bem o porquê, pegava o barro para modelar e sempre vinham mulheres. Hoje vejo que isso se dá pela importância da representatividade feminina, é muito intrínseco ao meu trabalho.”

No curta “Cizânia”, ela destaca a importância da trilha sonora original, assinada pela musicista Maria Anália, que também é educadora e construtora de instrumentos. A pesquisa que desenvolve mescla música popular e contemporânea e o resultado dessa mistura é uma estética sonora singular, que dialoga com outros campos artísticos, conforme aponta Elizabeth.

“É uma grande amiga aqui de São João Del Rei. Quando pedi que fizesse essa trilha, orientei para que tentasse evocar o máximo de sensações. Ela fez vários recortes de paisagens sonoras da cidade, como a missa, os cantos do congado, e misturou tudo para chegar a esse resultado. E ela usou instrumentos não convencionais, que ela mesma cria, que tentam estabelecer um diálogo com a imagem.”




OUTROS TÍTULOS 

Na sequência de “Cizânia”, o videomaker Gustavo Silvestre apresenta, na quarta-feira (11/0), o curta-metragem “Dédalo”, às 19h30, também no YouTube do Memorial Vale. O filme propõe um mergulho nos labirintos interiores. 

Afastado do mundo exterior e habitando apenas seu próprio corpo-casa, o protagonista se depara com os conflitos do isolamento a partir de um olhar para dentro de si, e encontra na dança sua única possibilidade de se manter em equilíbrio, permanecer vivo. 

Além de videomaker, Gustavo Silvestre é ator e bailarino, graduado em Artes Cênicas. Ele atua na área de criação e direção de movimento há mais de 10 anos, em grupos como a Cia. Mário Nascimento, a Cia. de Dança Palácio das Artes e a Quasar Cia. de Dança. Atualmente graduando em cinema e audiovisual, vem pesquisando uma linguagem híbrida entre corpo, dança e performance no cinema.





Uma proposta similar guia “Transeunte”, uma vídeo-dança feita pelo artista Jorge Ferreira, que fecha a programação desta semana da Mostra de Filmes do Memorial Vale, com exibição na sexta-feira (13/08), às 19h. 

O filme dialoga com o corpo dos tempos atuais e com as questões que o atravessam neste período de isolamento social. Estão em cena o trabalho em casa e a relação entre corpo e espaço durante a passagem dos dias, tudo permeado pela ansiedade, pelo cansaço e pela inquietude.

SELEÇÃO 

“Dentro dessa programação selecionada pela Convocatória do Memorial Vale 2021, a gente tem obras de artistas que não são do cinema, mas que estão experimentando esse formato – fenômeno que foi impulsionado e potencializado nesse período de pandemia, quando os diversos tipos de apresentações artísticas passaram a ser mediados pela tela”, diz Wagner Tameirão. 





Ele aponta que das 957 propostas para todas as áreas artísticas que a Convocatória abrange – música, teatro, dança, performance, literatura –, 195 vieram do setor audiovisual, das quais foram selecionadas, pelo documentarista e produtor de cinema e vídeo Beto Magalhães, as 18 que compõem a mostra.

“A gente apostou muito na diversidade. Também procuramos descentralizar, olhar outras regiões do Estado, além da capital. Com isso, tivemos trabalhos com diferentes graus de maturidade, o que faz parte da proposta”, afirma Tameirão.

“Quisemos ter o olhar atento para buscar novos criadores, novos cineastas, para alcançar um equilíbrio. Acho que tem que ter esse critério também, o olhar sobre o iniciante”, diz o gestor, acrescentando que não há uma temática dominante entre os títulos selecionados. 





“Quando um espaço cultural resolve lançar uma convocatória para o Estado, não dá para pegar uma linha curatorial. Claro que tem que observar a qualidade do produto, a proposta, mas não tem um recorte curatorial. Tentamos privilegiar a abrangência.”

Cine Humberto Mauro faz mostra virtual e presencial

Está em cartaz no Cine Humberto Mauro a mostra inédita “Os mistérios de Jacques Tourneur”, que contempla marcos cinematográficos do diretor francês realizados entre as décadas de 1940 e 1960, com uma seleção de 23 longas. 

O ciclo contempla a versatilidade das produções de Tourneur: além dos filmes de terror – destaques na carreira do diretor –, há policiais, noir, melodramas, aventura e faroeste. Quatro longas que fazem parte das sessões presenciais também permanecerão em cartaz de forma contínua e gratuita, na plataforma exclusiva CineHumbertoMauroMais, a partir da próxima sexta-feira (13/08) até 8 de setembro de 2021. 





São eles: “Sangue de pantera” (1942), “Paixão selvagem” (1946), “Fuga do passado” (1947) e o clássico recentemente exibido na mostra on-line “Cults do terror”, “A Noite do Demônio” (1957). 

O Cine Humberto Mauro também anuncia a sessão especial da série “História permanente do cinema – especial cinema e psicanálise”, com o longa “Quando fala o coração” (1945), de Alfred Hitchcock. O debate será transmitido ao vivo, simultaneamente pelo Canal da FCS no YouTube e pela plataforma CineHumbertoMauroMais, na próxima sexta-feira (13/08), às 19h. Durante o bate-papo, o público poderá interagir com comentários e perguntas. 

O longa já está em cartaz na plataforma CineHumbertoMauroMais, e será comentado por Maria José Gontijo Salum, psicanalista membro da Escola Brasileira de Psicanálise (EBP) e da Associação Mundial de Psicanálise (AMP).

Já a sala de cinema do Sesc Palladium abriga, desde o último dia 05/08, em parceria com a Aliança Francesa, a “Mostra cinema fantástico”, que se estende até o próximo dia 28. A seleção reúne mais de 20 filmes, entre longas e curtas-metragens. Na programação estão produções novas e antigas. Já aos sábados, há curtas de animação produzidos em países francófonos.




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