Em 10 de julho deste ano, o Grupo Galpão estreava sua peça radiofônica “Quer ver escuta”, disponibilizada no Spotify, Apple e Google Podcasts. Na voz de Paulo José, ouve-se o poema “Apesar de tudo, o impossível”, de Alberto Pucheu.
“Paulo foi um mestre para todos nós. Cheguei a desistir em algum momento de pedir para ele ler, mas ele leu, com todo esforço, fazendo mesmo o impossível por causa dos mais de 20 anos de Parkinson”, relembra Eduardo Moreira, ator e diretor do Galpão.
“Foi emocionante eu indo atrás dele, para preservar voz dele. Provavelmente, este é o último registro de voz de um trabalho de Paulo José”, diz Eduardo. “Era um amigo, uma pessoa muito importante na nossa história. Tocávamos piano juntos”, revela o ator.
A parceria de Paulo José com o Galpão ficou na história do teatro brasileiro, com dois espetáculos de sucesso: “O inspetor geral”, de Gógol, em 2003, e “Um homem é um homem”, de Brecht, em 2005. “Paulo nunca alterou a voz com um ator. Trabalhava com prazer, com alegria”, relembra Eduardo. “Ele escrevia cartas para nós, crônicas, com reflexões sobre os ensaios.”
O ator destaca também a generosidade do mestre. “Quando estreamos 'Um homem é um homem' em Curitiba, tive uma séria lesão, mas, na peça, andava com perna de pau. Uma semana depois, iríamos estrear em São Paulo. Passei da perna de pau para a cadeira de rodas. Paulo amava o teatro, sempre resolvia, era pura luz.”
Luz reconhecida no palco e nas ruas. “Quando estreamos 'Outros' no Rio, fui com ele ao Lamas (restaurante). Quando ele entrou, foi aplaudido de pé. Foi muito bonito”, relembra Moreira.
Em Minas, Paulo José trabalhou também com o cineasta Helvécio Ratton. Narrou o filme “Menino Maluquinho” (1995) e fez o papel de Arlindo em “Pequenas histórias” (2007).
“Era contagiante ver o esforço dele para gravar, pois o Parkinson já estava avançado. Terminava uma cena, parava, descansava e brincava com a produtora para falar 'ação' para poder recomeçar a gravar”, conta o cineasta.
Ratton diz que não só o roteiro de “Pequenas histórias” encheu os olhos de Paulo José. “Ele me disse: 'Helvécio, gostei do roteiro, mas tem outro motivo para fazer este filme. Arlindo é o nome do meu pai'. Ele tinha amor ao cinema. E o humor dele sempre foi marcante. Não se cansava de dizer: 'Nós fazemos o melhor cinema brasileiro do mundo'.”