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1º Festival da Voz e Poesia Falada reúne poetas de várias estados

Programação virtual terá apresentações, exibição de videopoemas e debates entre a próxima quinta-feira (19/08) e sábado (21/08)


17/08/2021 04:00 - atualizado 17/08/2021 07:02

A realização da RodaBH, cuja primeira edição foi em 2017, originou a ideia do festival, que assumiu formato virtual em virtude da pandemia (foto: Edgar Xakriabá/Divulgação)
A realização da RodaBH, cuja primeira edição foi em 2017, originou a ideia do festival, que assumiu formato virtual em virtude da pandemia (foto: Edgar Xakriabá/Divulgação)

Com o intuito de dar espaço e visibilidade a uma expressão artística que vem, ao longo dos últimos anos, ganhando cada vez mais corpo, será realizado, a partir da próxima quinta-feira (19/08), até sábado (21/08), o 1º Festival da Voz e Poesia Falada, que reunirá artistas e poetas de diferentes lugares do Brasil. 

Ao longo dos três dias, debates, apresentações e mostra de videopoemas vão dar um panorama da crescente popularização de slams, saraus e rodas de poesia. O evento é organizado pelo coletivo, que, desde 2017, mantém o projeto RodaBH de Poesia, que se propõe a juntar artistas de diferentes linguagens ao redor de uma grande mesa de bar, onde, a cada momento, alguém se levanta e apresenta seu poema, música, texto ou performance.

A poeta Nívea Sabino, uma das integrantes do coletivo, explica que a ideia do 1º Festival da Voz e Poesia Falada deriva da experiência da RodaBH de Poesia. “A gente já vinha pensando na realização desse festival desde 2017. Em 2018, aprovamos o projeto no Fundo Municipal de Cultura, mas aí veio a pandemia e tivemos que repensar o formato, porque a ideia era reunir artistas de diversas expressões e de diversos lugares. Chegamos agora a esse modelo, que não se limita a apresentações, vai além, propõe debates, para cruzar as experiências de cada um. Foi no sentido de querer trazer pensamento para esse cenário”, diz.

Com o tema “Literatura pela boca”, o debate de abertura, na quinta-feira, vai contar com as presenças da artista, professora da UFMG e pesquisadora de performances e ritos Leda Maria Martins (MG) e da filósofa Abigail Campos Leal, uma das organizadoras do Slam Marginália – batalha de poesias feita por e para pessoas trans. 

Na sexta-feira (20/08), o festival promove o encontro entre a poeta e atriz Luiza Romão (SP), o ator, poeta e roteirista Uirá dos Reis (CE) e o professor e artista Lucio Agra (BA), na mesa sobre “Voz, corpo e poesia sonora”. 

No sábado (21/08), às 12h, a multiartista e chef de cozinha Zora Santos e o fundador do projeto Viva Lagoinha, Filipe Thales, discorrem sobre o tema “Cozinha, quintal e oralidade”, abordando as histórias e saberes aprendidos no ambiente de casa por meio de conhecimentos passados de geração para geração.

BAGAGEM 

A poeta Nívea Sabino é uma das organizadoras do festival, que será encerrado com uma edição da RodaBH de Poesia(foto: Pablo Caldeira/Divulgação)
A poeta Nívea Sabino é uma das organizadoras do festival, que será encerrado com uma edição da RodaBH de Poesia (foto: Pablo Caldeira/Divulgação)

"Os temas giram em torno do que a gente vive e observa com as rodas, juntando as linguagens, acreditando numa poesia falada mais ampla, com mais formas de expressão. Os debatedores todos têm uma bagagem grande de estudo sobre esses temas que a gente está propondo"

Nívea Sabino,poeta e cofundadora da RodaBH de Poesia


“Os temas giram em torno do que a gente vive e observa com as rodas, juntando as linguagens, acreditando numa poesia falada mais ampla, com mais formas de expressão”, diz Nívea. “Os debatedores todos têm uma bagagem grande de estudo sobre esses temas que a gente está propondo. São pessoas que trabalham a performance da palavra oral. A mesa ‘Cozinha, quintal e oralidade’, por exemplo, tem a ver com esses lugares da casa que são espaços de memória.” 

O poeta sergipano Pedro Bomba, um dos criadores da RodaBH de Poesia, recorda que essa iniciativa que redundou no festival começou a tomar forma a partir de seu encontro com Nívea. “Eu já tinha vindo a Belo Horizonte em 2014 e em 2015, já conhecia Nívea. Em 2016,  organizamos em Aracaju o projeto Estados de Poesia”, conta ele. 

“As rodas de poesia são muito comuns no Nordeste. Na região de Pernambuco, da Paraíba, vários poetas se reúnem para fazer versos de improviso. Em 2017, vim morar em BH e resolvemos fazer a RodaBH de Poesia, que nada mais é do que uma atividade voltada a poetas da poesia falada e artistas que têm a palavra como principal elemento de sua expressão”, afirma.

Pedro não hesita em classificar esse movimento como um dos principais da literatura brasileira na atualidade. “Ele cria uma coisa fundamental para a poesia e para a literatura, de modo geral, que é a retomada de suas origens”, observa. 

“A poesia surge sendo falada e, com os anos, isso vai se perdendo. Os saraus e slams que hoje estão disseminados pelo país retomam essa tradição e criam espaços de recepção coletiva desse tipo de literatura. As pessoas vão para se encontrar e para ouvir poesia. A gente tem isso como a base do nosso festival”, diz. 

Ele cita como exemplos da força da poesia falada em Belo Horizonte os poetas João Paiva e Piê Sousa, a Pieta Poeta, que já representaram o Brasil – em 2015 e 2018, respectivamente – na Copa do Mundo de Slam, na França, após vencerem o Slam BR – campeonato brasileiro de poesia falada. “Temos também a Camila Félix, autora do ‘Atlas dos Saraus da RMBH’, que mapeia todos os encontros de poesia falada da Região Metropolitana de Belo Horizonte”, destaca Pedro.

Nívea Sabino concorda e informa que o movimento da poesia falada em Minas Gerais é um dos que mais cresceram no país ao longo dos últimos anos. “É um estado que vem com muita força nas competições. Tem os saraus se multiplicando e cada vez mais estabelecendo pontes com o Duelo de MCs, que é outra forma de expressão que se fundamenta na poesia falada. Hoje a gente tem notícia de muitos saraus acontecendo em Contagem, Ibirité, Nova Lima, Betim. A gente mantém uma rede que vai desde o pessoal de Juiz de Fora até Uberaba”, ressalta. 

“Essa coisa da oralidade é muito característica do estado. Belo Horizonte traz essa herança interiorana da convivência comunitária, nos bares, na ocupação dos espaços urbanos”, aponta.

O sergipano Pedro Bomba se mudou para BH em 2017 e participou da criação da RodaBH de Poesia(foto: Cíntia Rizoli/Divulgação)
O sergipano Pedro Bomba se mudou para BH em 2017 e participou da criação da RodaBH de Poesia (foto: Cíntia Rizoli/Divulgação)

VIDEOPOESIA 

Um dos destaques do 1º Festival da Voz e Poesia Falada, conforme os organizadores, é a Mostra Olho de Boca de videopoesia, que selecionou quatro trabalhos a serem exibidos no último dia do evento, às 18h – “Estranho animal”, de Arthur Senra (DF), “Avesse”, de Eli Nunes (BH), “Templo – Poesia armada”, de Elisa de Sena (BH), e "Nome próprio", de Yasmin Bidin (São Carlos, SP). 

“O chamado para essa mostra foi aberto para todo o Brasil. Existem muitos poetas que têm produzido diferentes videopoemas. É uma linguagem mais ou menos recente, a gente vive um momento de democratização da produção audiovisual, no sentido de que filmar e editar ficou mais fácil com os celulares, então muitos poetas têm recorrido a isso para divulgar seus trabalhos”, diz Pedro Bomba.

"A poesia surge sendo falada e, com os anos, isso vai se perdendo. Os saraus e slams que hoje estão disseminados pelo país retomam essa tradição e criam espaços de recepção coletiva desse tipo de literatura"

Pedro Bomba, poeta e cofundador da RodaBH de Poesia



Ele comenta que, “para a gente que é da poesia falada, o vídeo é um grande aliado, porque abarca o corpo, a voz, o gesto, a entonação. Num livro, você só encontra o texto”. Segundo Pedro,  já existem algumas mostras de videopoemas Brasil afora, e vários países abrigam festivais dedicados a essa forma de expressão. 

A Mostra Olho de Boca de videopoesia foi pensada, conforme diz, para ajudar a ampliar e consolidar esse cenário em âmbito nacional. “Pensamos nessa mostra para contribuir, ajudar a firmar esse espaço de compartilhamento, onde se pode fruir a poesia coletivamente – ainda não vai ser agora, porque cada um vai assistir da sua casa, mas digo já pensando numa segunda edição”, afirma. 

“A ideia é que a gente dedique um olhar para essas obras. Às vezes, são trabalhos ainda muito ligados aos livros, e a gente quer olhar para eles de maneira independente, como obras que falam por si sós, não necessariamente tendo uma relação com o livro, não é um teaser ou um book trailer. A mostra tem este intuito: permitir momentos coletivos e dedicar uma reflexão a esse tipo de expressão.”

O encerramento do festival ficará por conta da edição especial on-line da RodaBH de Poesia, com as presenças de Karine Bassi, Isabella Alves, Elzelina Dóris, Coral, Fellipe Belluk, Eneida Baraúna, Pedro Bomba e Nívea Sabino.

DIA A DIA

Confira a programação do festival

19/08 - Abertura - 20h
Mesa 1: Literatura pela boca

>> Abigail Campos Leal (SP)
>> Leda Maria Martins (MG)
>> Exibição de videopoema de Karine Bassi e Isabella Alves

20/08 - 20h
Mesa 2: Voz, corpo e poesia sonora

>> Lúcio Agra (BA)
>> Luiza Romão (SP)
>> Uirá dos Reis (CE)
>> Exibição de videopoema de Eneida Baraúna e Fellipe Belluk

21/08 - 12h
Mesa 3: Cozinha, quintal e oralidade"

>> Zora Tika Santos (MG)
>> Filipe Thales (MG)
>> Exibição de videopoema de Elzelina Dóris e Coral

18h
>> Mostra Olho de Boca de videopoema + bate-papo com poetas e rea izadores

20h30
>> RodaBH de Poesia

1º Festival da Voz e Poesia Falada de BH   
Desta quinta (19/08) a sábado (21/08). Transmissão gratuita pelo canal do YouTube RodaBH de Poesia.


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