A primeira edição do projeto “Mu- lheres encenadoras em rede” propõe a discussão sobre as possibilidades do feminino na direção teatral, além de divulgar o trabalho de artistas inviabilizadas pela sociedade. A programação on-line oferece palestra-performance, mesas de debate, oficinas, residências artísticas e podcasts. O evento, que será aberto nesta terça-feira (17/08), é dedicado a Haydée Bittencourt (1920-2014), diretora, atriz e pedagoga que comandou por 21 anos o Teatro Universitário da Universidade Federal de Minas Gerais, o TU.
A iniciativa é do coletivo Mulheres Encenadoras, com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte. O grupo surgiu há quatro anos no Núcleo de Pesquisa em Direção Teatral do Galpão Cine Horto, coordenado por Raquel Castro.
HISTÓRIA
Raquel Castro aponta o “apagamento” do feminino nas artes cênicas. “Eu, por exemplo, estudei teatro e tinha pouquíssimas referências oficiais de mulheres na área teórica ou como diretoras. Historicamente, é uma função mais ocupada por homens”, afirma a atriz, diretora e professora da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop).
“Porém, na história sempre houve mulheres fazendo trabalhos muito significativos de direção teatral. Não só no Brasil, como em todo o mundo”, pondera Raquel, atribuindo a invisibilidade feminina à estrutura patriarcal e machista.
Nas últimas décadas, diz a fundadora do coletivo mineiro, houve avanço da participação feminina. No entanto, o cenário ainda está distante do ideal. Certas estruturas machistas do século passado ainda prevalecem no presente, acredita ela.
“Por um lado, há esse crescimento. Por outro, ainda existe a estrutura que não favorece tanto as mulheres se arriscarem no teatro e na encenação, especialmente as mulheres negras e periféricas”, comenta.
O podcast “Mulheres encenadoras”, por exemplo, vai trazer depoimentos de 14 artistas ligadas ao coletivo: Ione de Medeiros, Cida Falabella, Janaína Leite, Thalita Braga, Ju Pautilla, Marina Viana, Soraya Martins, Júlia Tizumba, Bernadeth Alves, Aline Andrade, Meire Regina, Cláudia Henrique, Sara Rojo e Romina Paula.
“Enquanto a gente pesquisava nos livros e não achava muitas referências sobre diretoras, percebemos ao nosso redor mulheres atuantes, artistas de muita relevância”, explica Raquel Castro, citando a cena belo-horizontina, com Cida Falabella, Ione de Medeiros e Sara Rojo. “São diretoras de Minas muito inspiradoras. A gente gostaria de levar a voz delas mais além, para que mais gente as conheça”.
Os sete episódios do podcast serão lançados às quintas-feiras, no Spotify. A arte negra e periférica ganhou as mesas-redondas “Mulher, teatro e comunidade” (30/08, às 20h), “TeatrA negra e cenas descoloniais” (23/08, às 20h) e “O coração é o norte: diretoras de outros eixos” (25/08, às 20h), além da oficina “Dramaturgia afrodiaspórica – Um foco na construção de narrativas negras” (de 18 a 20/08, das 9h às 11h30). “É uma forma de reverberar todas as vozes, não só algumas”, explica Raquel.
ABERTURA
A atriz e diretora trans Ave Terrena, de São Paulo, vai abrir o evento nesta terça-feira (17/08), às 20h, com palestra-performativa. Ela vai comentar processos de criação de suas peças sobre a ditadura militar (“As 3 uiaras de SP city”, “E lá fora o silêncio” e “O corpo que o rio levou”) e de seu livro “Segunda queda” (2018), transformado em espetáculo poético-musical.
“Queremos contribuir para a reflexão sobre a encenação nos dias de hoje e também para o papel da mulher nesse espaço. A ideia é deixar para trás o cenário desigual, fazer um reparo histórico”, conclui Raquel Castro.
*Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria
“MULHERES ENCENADORAS EM REDE”
Abertura nesta terça-feira (17/08), às 20h, com performance-palestra de Ave Terrena (SP). Até 16 de setembro. É necessária inscrição prévia para oficinas e residências artísticas. Informações no Instagram e Facebook do evento @mulheresencenadoras