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Estado de Minas LITERATURA

Série 'Leituras críticas importam' quer estourar a bolha da ignorância

Livros lançados pela Matrioska Editora buscam esclarecer o leitor sobre feminismo, racismo, inclusão social, moradores de rua e movimento LGBTQIA+


21/08/2021 04:00 - atualizado 20/08/2021 21:52

As editoras Patrícia Melo e Luciana Félix com Alvaro de Azevedo Gonzaga, coordenador da série
As editoras Patrícia Melo e Luciana Félix com Alvaro de Azevedo Gonzaga, coordenador da série "Leituras críticas importam" (foto: Claudio Martini/divulgação )

Luciana Félix e Patrícia Melo, fundadoras da Matrioska Editora – criada em julho do ano passado –, são categóricas ao afirmar que a série “Leituras críticas importam” vem “libertar a sociedade da bolha da ignorância e do preconceito”, ao ampliar o debate sobre direitos humanos. A dupla tem mais de 16 anos de experiência no mercado editorial no segmento de livros técnicos, científicos e profissionais.

Coordenada pelo professor de direito da PUC-SP e pós-doutor em história dos povos indígenas Alvaro de Azevedo Gonzaga, a série recém-lançada, composta inicialmente por oito volumes, traz títulos como “Feminismo(s)”, de Silvia Pimentel e Alice Bianchini, “Inclusão não é favor nem bondade”, de Juliana Izar Soares da Fonseca Segalla, “Privilégios brancos no mercado de trabalho: diversidade, raça e racismo entre profissionais no Brasil contemporâneo”, de Matheus Carvalho, e “Decolonialismo indígena”, do próprio Alvaro, entre outros que tratam de movimentos LGBTQIA+, população de rua, imigrantes e refugiados.

Patrícia Melo diz que a intenção da editora é seguir abordando temas que colocam as pessoas diante do espelho de seus próprios preconceitos, obrigando-as a perceber a complexidade de questões tão diversas quanto desconhecidas do ponto de vista de vivências e lugares de fala. Luciana Félix endossa, reiterando o propósito de furar a bolha do preconceito e da ignorância.

“Queremos abrir espaço para que as pessoas conheçam a diversidade humana. Quando você ouve um ministro da Educação dizer que uma criança com deficiência atrapalha a outra, atrapalha o restante da turma, essa é a fala de quem está vivendo em uma bolha, e um ministro não pode viver numa bolha”, afirma a editora. “A escola não é só lugar de apreender conteúdo, é também o lugar de convívio com a diferença. Como você vai aprender sobre isso se não for na prática? O livro ‘Vidas LGBTQIA ’, de Mariana Serrano e Amanda Claro, tem o subtítulo ‘Reflexões para não sermos idiotas’, que alude exatamente a isso”, pontua.

As editoras explicam que o projeto começou a tomar forma quando elas foram ao encontro de Alvaro Gonzaga propor que coordenasse uma outra série, destinada ao curso preparatório para a Ordem dos Advogados do Brasil. Nessa conversa, ele falou de temas que gostaria de desenvolver, relembra Patrícia Melo.

“O professor Alvaro sempre teve o desejo de fazer uma série como essa. Durante a pandemia, ele viu que tinha tempo para estudar, fazer a tese de pós-doutorado e desenvolver algumas ideias. Além de atuar na área jurídica, ele é professor de ética, tem formação em filosofia. Sempre quis juntar esses temas. Com a pandemia, ele conseguiu parar e desenvolver a ideia. A Patrícia o procurou justamente no momento em que ele pensava nisso. Foi um presente que ele deu para a Matrioska”, conta Luciana Félix.

LUGAR DE FALA 

Os autores dos oito títulos iniciais da série têm duas características marcantes, segundo as editoras: são quase todos da área jurídica e autoridades nos assuntos de que tratam. Ou seja, estão em seus lugares de fala.

Luciana cita como exemplo o próprio Alvaro, cujo avô era indígena guarani-kaiowá. Ele estudou a própria ancestralidade, o que resultou em sua tese de pós-doutorado. Assim, era natural que ele próprio assinasse o livro “Decolonialismo indígena”.

“Todos os autores têm pertinência com os respectivos temas de maneira muito profunda”, diz Luciana Félix. “Juliana Segalla, que trata de inclusão, tem deficiência auditiva. A Silvia Pimentel e a Alice Bianchini são feministas reconhecidas – a Sílvia, aliás, estuda isso há 40 anos, é a única representante do Brasil na ONU Mulheres. Tem o padre Júlio Lancellotti, que não é da área jurídica, e assina ‘Tinha uma pedra no meio do caminho’, que trata da população de rua, com a qual ele trabalha há muitos anos. A Carolina Piccolotto Galib, autora de ‘Imigrantes e refugiados’, tem ascendência libanesa e sempre esteve envolvida com esse tema”, detalha a editora.

Matheus Carvalho, procurador da Fazenda Nacional e professor, escreveu “Privilégios brancos no mercado de trabalho”. Luciana explica que a obra é fruto da pesquisa conduzida por ele em escritórios de advocacia, que revelou que pessoas negras até conseguem acessar o mercado de trabalho, mas não conseguem ascender.

A primeira leva da série se completa com “Torrente ancestral: vidas negras importam?”, de Juliana Souza, que foi a advogada do casal de atores Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank no episódio em que a filha adotiva deles, Titi, foi vítima de racismo.

COLORISMO 

Patrícia diz que a série “Leituras críticas importam” vai continuar gerando títulos, tem horizonte em aberto, e, neste momento, duas novas obras já estão em desenvolvimento. Um dos temas é o “colorismo”, que está a cargo de Gisele Aguiar e Marco Aurélio Barreto.

“É uma questão muito importante, estou dentro dessa perspectiva. Algumas pessoas olham para mim e falam que não sou negra, mas me sinto negra, me vejo como negra. Estou na escala de colorismo, porque minha pele tem um tom mais claro que a de outras pessoas negras”, diz a editora.

O outro volume, que está sendo escrito por Vitor Goulart Nery, é “O privilégio sou eu”. “A gente tem o livro sobre os privilégios dos brancos no mercado de trabalho, do Matheus Carvalho, que traz uma constatação que resulta de pesquisa. Já ‘O privilégio sou eu’ tem outra perspectiva, porque traz o autor falando justamente de privilégios que ele reconhece ter. Ele assume isso, então tem uma nuance aí”, acrescenta a editora.

Luciana Félix e Patrícia Melo planejam outros títulos para 2022, todos na mesma linha. “Há espaço para todo mundo, todo mundo merece ser respeitado, independentemente de sua identidade, do espaço que ocupa na sociedade ou do que seja. A série tem muito esse viés, falando de direitos humanos, de respeito, de abrir espaço para o diálogo”, destaca Luciana.

De acordo com a editora, os autores, muitas vezes, vão desmontar falácias e abrir a mente do leitor para o que deveria ser óbvio.

“O padre Júlio, por exemplo, explicita alguns mitos, algumas mentiras sobre a população de rua, que tenta esclarecer de forma leve. Muita gente acha que morar na rua é atrativo, que a população de rua não gosta de viver em abrigos, que se der dinheiro para o morador de rua ele vai beber cachaça e usar drogas. São crenças do senso comum que a série se propõe a desmitificar”, diz Luciana Félix.

“As pessoas ficam discutindo algo que ouviram dizer, mas não têm o mínimo de conhecimento para sequer começar um diálogo. Aqui existe a possibilidade de essas pessoas começarem a ter contato e se esclarecer em relação a todos assuntos muito caros para nós”, conclui Patrícia Melo.

(foto: Matrioska/reprodução)
(foto: Matrioska/reprodução)

“LEITURAS CRÍTICAS IMPORTAM”
 “Decolonialismo indígena”, de Alvaro de Azevedo Gonzaga
 “Feminismo(s)”, de Silvia Pimentel e Alice Bianchini
 “Imigrantes e refugiados”, de Carolina Piccolotto Galib
 “Inclusão não é favor nem bondade”, de Juliana Izar Soares da Fonseca Segalla
 “Privilégios brancos no mercado de trabalho: diversidade, raça e racismo entre profissionais no Brasil contemporâneo”, de Matheus Carvalho
 “Vidas LGBTQIA : reflexões para não sermos idiotas”, de Mariana Serrano e Amanda Claro
 “Tinha uma pedra no meio do caminho”, de padre Júlio Lancellotti
 “Torrente ancestral, vidas negras importam?”, de Juliana Souza

Os livros têm preço sugerido de R$ 49,90 cada e podem ser adquiridos pelo link www.loja.matrioskaeditora.com.br.
Ilustrações e capas: Rafaela Fiorini e Lídia Ganhito




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