Com vários anos de carreira, só agora a cantora, produtora e designer Marina Lutfi gravou o primeiro disco solo. Filha do músico, pintor e cineasta Sérgio Ricardo (1932-2020), ela acaba de lançar “Outra dimensão” nas plataformas digitais. Com oito faixas, o álbum traz três músicas assinadas por Sérgio: “Barravento”, “Cacumbu” e “Esse mundo é meu”, parceria dele com Ruy Guerra.
“Quis dar um mergulho mais fundo no cantar, expressão vital para mim. A ideia foi buscar um caminho mais próprio na dimensão da música, com referências para além do meu pai”, afirma Marina.
PAI
O disco foi “esculpido” ao longo de oito anos, segundo ela. “Sempre cantei com meu pai. Gravei com ele pela primeira vez em 2000, no álbum ‘Quando menos se espera’. Minhas pequenas participações foram aumentando a cada disco dele, mas o meu mesmo sempre deixei um pouquinho para depois”, revela.
Além de gravar com Sérgio, Marina o acompanhava nos palcos, como produtora. “Grande referência para vários artistas, há uma complexidade na música dele que é desafiadora. Aprendi muito, tive essa escola”, comenta.
Ao mesmo tempo, ela participava de pequenos grupos e cantava com amigos, músicos conhecidos da cena carioca. Um deles é Flávio Mendes, diretor e produtor musical de “Outra dimensão”. “Ele é superexperiente, maestro, arranjador e violonista. Temos amizade para além da música. Era ele quem me botava pilha”, conta.
Flávio Mendes trouxe ideias para o repertório de Marina, mas ela conta que em sua “caixinha de ideias” havia também músicas de Julio Dain. “É um compositor contemporâneo que aparece pouco, fez só dois álbuns”, diz. “Adoro suas composições, pois as acho diferentes, com harmonias difíceis, melodias tortas. Aliás, sempre gostei disso, pois meu pai me ensinou bem essas coisas.”
O veterano João Donato é outra presença. “Tenho paixão pelas músicas dele. Falei com Flávio: vamos pegar algo do lado B. Queria um repertório que não fosse tão conhecido”, explica. A escolhida foi “Ahie”, parceria de Donato com Paulo César Pinheiro.
Outra canção gravada por Marina é “Quase tudo”, de Arnaldo Antunes e Péricles Cavalcanti. “Ela sempre me pegou pela mensagem, já fazia parte do meu cantinho de ideias. Como o Arnaldo quase não fala dela, ficou assim meio lado B.”
“Milonga”, do carioca Rodrigo Maranhão, também faz parte do álbum. “Tenho admiração enorme por ele, embora não o conheça pessoalmente, mas sempre fui a seus shows”, conta Marina.
Entre seus vários amigos, ela contou com as participações do percussionista Marcos Suzano e dos irmãos Marcelo e Alexandre Caldi no disco. “Fui chamando a galera que toca muito mesmo, só feras, e eles foram generosamente me acolhendo”, diz.
Sérgio Ricardo acompanhou boa parte do processo. “Em 2017, meu pai gravou ‘Barravento’, que está no disco. Porém, fiquei tentando sair da opinião dele, que era muito forte. Queria mesmo caminhar sozinha, fazer um disco só meu”, explica Marina.
Durante a pré-mixagem, ela mostrou o trabalho a Sérgio. “Ele achou tudo muito lindo. Aí, falei para o Flávio: vamos botar ele no ‘Barravento’. E ele fez o contracanto característico dessa música. Foi a cereja do bolo.”
Outro amigo desse mutirão afetivo é Lucas Ciavatta, que participou junto da mulher, Daniela, e das filhas de “Esse mundo é meu”, clássico de Sérgio Ricardo.
Para Marina Lutfi, seu disco de estreia traz algo de etéreo. “Estão nele meu pai, minha amiga Alessandra, irmã da Daniela Ciavatta que infelizmente morreu, e a minha outra dimensão, em termos profissionais, que agora está nascendo”, conclui.
“OUTRA DIMENSÃO”
Disco de Marina Lutfi
Cacumbu/ Nikita Digital
Oito faixas
Disponível nas plataformas digitais