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Estado de Minas MÚSICA

Lorde tenta inovar, mas cai na mesmice em 'Solar power'

Neozelandesa abandona o estilo que a consagrou em seus dois primeiros álbuns, mas não alcança a força necessária para redefinir sua imagem com o novo disco


24/08/2021 04:00 - atualizado 24/08/2021 07:39

Lorde apresenta 12 canções de sua autoria em
Lorde apresenta 12 canções de sua autoria em "Solar power", seu terceiro álbum, no qual se distancia do estilo dos dois primeiros (foto: Ophelia Mekkelson Jones/Divulgação)
 
Lorde tinha apenas 16 anos quando alcançou sucesso mundial com a música "Royals". Naquela época, a cantora neozelandesa destilava críticas à vida de luxo dos ricos e famosos, discurso que ela manteve em seu primeiro álbum, "Pure heroine" (2013). Quatro anos depois, quando lançou o aclamado "Melodrama" (2017), Lorde passou a fazer parte do universo que antes enxergava com desdém.

Após finalizar a turnê do disco, ela se afastou dos palcos, sumiu das redes sociais e embarcou em um hiato de quatro anos na carreira que incluiu uma viagem para a Antártida e a quarentena em casa, na Nova Zelândia.

Essas experiências serviram de inspiração para Lorde compor as 12 faixas de seu novo álbum, "Solar power", lançado na última sexta-feira (21/08). Nele, a cantora abandona o pop soturno pelo qual ficou conhecida e desbrava a sonoridade orgânica do folk dos anos 1960 e do pop do início dos anos 2000.

Produzido por Jack Antonoff, vocalista da banda Bleachers e produtor de artistas interessantes como Taylor Swift, Lana Del Rey e St. Vincent, o álbum está longe da inovação que marcou  "Pure heroine" e “Melodrama”. Na verdade, a maioria das canções são indistintas umas das outras. Na tentativa de criar algo simples e direto, Lorde acabou vítima da mesmice.

Felizmente, seus atributos como compositora seguem intocados. Ela ainda continua uma ótima contadora de histórias e mantém o olhar crítico para o mundo à sua volta. Na faixa de abertura, "The path", Lorde dá um recado importante aos fãs. 

"Se você está procurando por uma salvadora/ Bem, essa não sou eu", diz um dos versos da canção, que também faz referência ao Met Gala, badalado evento de moda em Nova York que reúne uma lista de convidados estelares.

FAMA 
Em "California", a cantora recorda a noite em que recebeu o Grammy de canção do ano das mãos de Carole King. Já em "Secrets from a girl (Who's seen it all)", ela parece se ressentir por ter atingido a fama tão cedo, ainda na adolescência. "Não podia esperar pra ter 15 anos/ Num piscar de olhos já se foram 10 anos", canta.

De forma leve, Lorde relata um estilo de vida alternativo, meio hippie, e tece críticas a ele em canções como "Dominoes" e "Mood ring". Sua preocupação com a preservação do meio ambiente fica bastante clara em "Fallen fruit" e "Leader of the new regime".

Mas também há espaço para questões pessoais em faixas como "Big star", dedicada ao seu cachorro que morreu; "The man with the axe", em que ela lida com os fantasmas da melancolia; e "Stoned at the nail salon", balada em que conversa consigo mesma.

Tudo isso culmina na épica "Oceanic feeling", em que Lorde de fato se despede da garota que era em seus dois primeiros discos. "Agora o batom preto cereja acumula poeira em uma gaveta/ Eu não preciso mais dele, porque eu tenho esse poder", ela canta em referência ao estilo que adotou no início da carreira.

Aos 24 anos, ela de fato não precisa se apoiar nas conquistas que a colocaram entre a realeza do pop. Na verdade, Lorde não está preocupada se sua música irá arrastar multidões, tocar nas rádios ou viralizar no TikTok – o real medidor de sucesso atualmente.

Em entrevista ao The New York Times', a cantora deixou claro que criar o novo hit do verão não é uma de suas prioridades. "Definitivamente, não há um hit no meu novo álbum. E isso faz sentido para mim, porque eu nem sei realmente o que é um hit agora", afirmou.

Com "Solar power", Lorde não está em busca de sucesso comercial. "Eu tenho zero ansiedade em relação a isso, mas estou certa de que há por aí alguém com uma planilha, que pode apontar modos pelos quais estou fazendo menos dinheiro. Eu tive uma conversa com meu empresário. Eu disse: 'Eu tenho mais dinheiro do que eu poderia gastar em minha vida. Tenho uma casa. Tenho alguns tapetes muito bonitos, móveis ótimos e posso comprar o que eu quiser no mercado. Tipo, nós estamos bem de dinheiro'", afirmou ela ao The Wall Street Journal.

Apesar disso, o novo álbum teve a melhor estreia da carreira da artista, acumulando mais de 11,4 milhões de streams no Spotify no dia do lançamento.

Não é possível saber o efeito de "Solar power" na trajetória bem-sucedida que Lorde vinha percorrendo. Seus dois primeiros álbuns são clássicos modernos inquestionáveis. O terceiro chega dissonante, com o ousado abandono de características comuns da música pop – como os refrões e melodias marcantes –, sem a força necessária para redefinir o gênero.


“SOLAR POWER”
.Lorde
.12 músicas
.Universal Music
.Disponível nas plataformas digitais


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