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Estado de Minas MEMÓRIA

Paulo Rafael: o guitarrista de Alceu que era MPB, 'udigrudi' e roqueiro

Músico pernambucano criou a banda psicodélica Ave Sangria, que influenciou várias gerações, e soube lidar tanto com a contracultura quanto com o mainstream


24/08/2021 04:00 - atualizado 24/08/2021 07:43

Paulo Rafael, Almir de Oliveira e Marco Polo, integrantes da Ave Sangria, voltaram a se reunir em 2014 para lançar ''Vendavais''
Paulo Rafael, Almir de Oliveira e Marco Polo, integrantes da Ave Sangria, voltaram a se reunir em 2014 para lançar ''Vendavais'' (foto: Flora Negri/Divulgação)

O guitarrista e produtor pernambucano Paulo Rafael morreu nesta segunda-feira (23/08), aos 66 anos, de complicações causadas por um câncer de fígado. Ele fez história ao integrar a banda recifense Ave Sangria, destaque do rock psicodélico brasileiro, e ao desempenhar papel fundamental na definição da sonoridade da obra de Alceu Valença, ao longo de mais de 40 anos de parceria. O riff de guitarra de “Anunciação” é prova disso.

Paulo Rafael trouxe a força do rock para canções influenciadas pela música regional nordestina. Natural de Caruaru, o guitarrista iniciou sua carreira na década de 1970 com o Ave Sangria, no Recife. Logo se tornou um dos principais instrumentistas do rock psicodélico local, expoente do movimento contracultural conhecido como “udigrudi”.

''(Paulo Rafael) Tornou-se um dos guitarristas mais originais do Brasil e conhece a música do interior, dos violeiros e aboiadores. Isso os guitarristas não conhecem, pois sabem é de balada, não de toada; do rock, e não do xote''

Alceu Valença, cantor e compositor



Alceu Valença e Paulo Rafael: amigos e parceiros em 40 anos de estrada
Alceu Valença e Paulo Rafael: amigos e parceiros em 40 anos de estrada (foto: Instagram/reprodução)

CENSURA

A banda lançou apenas um disco homônimo, em 1974, que foi censurado pela ditadura militar. Porém, a sonoridade do Ave Sangria ganhou novos fãs a cada geração, o que levou o grupo a se reencontrar em 2014 para gravar o álbum “Vendavais”.
Paulo Rafael também participou de outros projetos aclamados da cena psicodélica, como o icônico álbum “Paêbirú” (1975), do pernambucano Lula Côrtes e do paraibano Zé Ramalho. Também produziu o disco “Caruá” (1976), dele, Zé da Flauta e de Lenine (percussionista na época).

O parceiro mais famoso do guitarrista foi Alceu Valença. Além de tocar na banda do cantor e compositor, Paulo produziu vários discos dele. Os dois se conheceram em Olinda, enquanto Paulo tocava com o Ave Sangria em frente à Igreja da Misericórdia.

Depois de alguns encontros, Alceu convenceu os pais de Paulo a deixarem o garoto viajar com ele para o Rio de Janeiro, onde se apresentariam em um festival. Desde então, a troca de influências se tornou rotina: Paulo trazendo a força da guitarra e do rock, Alceu burilando a tradição violeira regional.

“Paulo Rafael também é da minha região e, naquele primeiro momento, a geração dele negava um pouco as músicas das nossas raízes. Ele descobriu com a gente que não precisava negar as influências do rock, que também poderia se voltar para o regional”, contou Alceu Valença, em depoimento realizado em 2014. “Tornou-se um dos guitarristas mais originais do Brasil e conhece a música do interior, dos violeiros e aboiadores. Isso os guitarristas não conhecem, pois sabem é de balada, não de toada; do rock, e não do xote. Ele é supercriativo, tem sonoridade e bom gosto inacreditáveis. Originalíssimo. É uma referência e um grande amigo. Trabalhamos juntos na definição do meu som – ele teve um papel fundamental nisso.”

O músico Paulo Rafael deixou esposa, filha e neta. A cremação do corpo do guitarrista ocorrerá nesta terça,  no Rio de Janeiro. (Diário de Pernambuco)


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