No ano em que comemora seus 25 anos, a banda Tianastácia está cheia de novidades. Em estúdio para gravar seu 13º disco, com produção de Liminha, Beto, Antônio Júlio e Podé têm agora a companhia do músico e ator carioca Dudu Azevedo, que assumiu a bateria. No último dia 20, Dudu estreou com o Tia numa apresentação em São Gonçalo do Rio Abaixo, dentro da programação do 17º Festival de Inverno da cidade mineira.
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Dudu diz que tocar com o Tianastácia é a realização de um antigo sonho. “Na realidade, tenho uma história longa com a música. Meus irmãos tinham vários instrumentos em casa e comecei a tocar no violão das minhas irmãs. Sempre ouvi muito som com meu irmão, que me catequizou no rock and roll. Ele me botava para ouvir AC/DC, Pink Floyd, Rush e minhas irmãs me trouxeram os Novos Baianos, Caetano e Gilberto Gil.”
Dudu conta que depois que começou a tocar violão e bateria, por volta dos 12 anos, passou a ter “várias bandas e a ensaiar o que seria, digamos assim, uma vida de músico profissional”. Mas a carreira de ator, que seguia em paralelo, começou a ganhar mais destaque.
CINEMA
Depois de participar da cinebiografia de Cazuza, Dudu protagonizou “Podecrer!” (2007), de Arthur Fones. “Era sobre um garoto que tinha uma banda de rock. Como ator, a música sempre me ajudou, como uma ferramenta de trabalho”, afirma. “Mas ela sempre foi um sonho, um objeto de desejo para mim. Sempre desejei tocar em grandes festivais e viajar pelo mundo tocando. O trabalho de ator acabou tomando o meu tempo, mas nunca abandonei a música. Sempre vivi para ela, porém nunca sobrevivi dela.”
No tempo em que viveu como músico diletante, segundo Dudu, “todo o tempo extra que tinha fora do trabalho era dedicado à música, seja para tocar com amigos ou formar bandas”. Com a Redtrip ele chegou a gravar dois discos. “Gilberto Gil cedeu uma música para o nosso segundo álbum e chegou a fazer uma participação nele”, lembra.
“Foi uma banda com a qual toquei bastante. Além dela, nunca tinha tido um grupo que me soasse como o Tianastácia vem soando. A banda tem 25 anos de história e um lugar sacramentado no cenário nacional do rock. Sou fã do grupo. Em 2001, estava lá no Rock in Rio pulando e cantando com a banda.”
Dudu conheceu primeiramente o guitarrista Antônio Júlio Nastácia, que compôs uma das músicas da trilha do longa “Muita calma nessa hora” (2010), de Felipe Joffily, no qual ele atuou. “A gente acabou ficando amigos. Depois, ele tocou com a minha banda Redtrip e ficamos mais em contato. No ano passado, ele me chamou para fazer uma espécie de webclipe da música ‘Guerra e paz’. Fiz um vídeo dessa música e, a partir dali, estreitamos ainda mais a nossa amizade. Também passei a falar mais com o Podé, trocando informações e conversas sobre música.”
URUGUAI
Em janeiro deste ano, Dudu estava gravando um filme no Uruguai, quando recebeu um telefonema dos integrantes do Tia. “Eles me ligaram perguntando se eu estava no Rio de Janeiro. Respondi que estava filmando no Uruguai e então disseram que estavam indo para o Rio para se reunir com Liminha e queriam encontrar comigo para uma conversa”, conta.
“Terminada a cena, liguei para eles, que me fizeram o convite para entrar para a banda. Aquilo mudou o tom do meu dia. Pensei: os caras estão me chamando para entrar para a banda, não é nem para fazer uma participação, gravar uma faixa ou mesmo participar do disco como músico convidado. Voltei ao Brasil e nos encontramos para ensaiar e tocar as músicas e sentir como seria a energia musical do grupo. Hospedei a galera na minha casa e lá ficamos ensaiando, foi uma experiência muito boa.”
O encontro resultou em certa disciplina para a banda. “Assumimos uma rotina de ensaios e começamos também a compor.” O novo álbum trará 13 canções, sendo cinco inéditas, compostas pelos integrantes originais do Tia, em parceria com Dudu e Liminha, que já produziu os maiores nomes do pop e do rock nacional.
Segundo o baterista, o disco marca uma inflexão no som da banda. “As novas canções e também as versões mostram a banda indo para outro caminho, que tem aquele rock bruto, que está no DNA e no histórico do grupo, mas de outra forma. Esse rock bruto, essa fúria, esse caráter musical que a banda tem ainda existem, mas é como se tivessem virado uma ferramenta e não um traço preponderante do som da banda.”
Dudu comenta que as novas canções “soam muito bem, falando de timbre, letra, refrão, mas também têm uma assinatura e características próprias”. Ele diz estar “louco para subir as músicas para o Spotify”. Quanto a conciliar as profissões de ator e músico, ele explica que fez um acordo de cavalheiros com os companheiros do Tia.
“Eu tinha um contrato com a Record, mas não o renovei. Na minha condição atual, tenho autonomia e poder de escolha. E é exatamente o que queria fazer da minha vida neste momento, ou seja, ter autonomia para poder escolher projetos.”
Isso significa que, se o convidarem para algum trabalho como ator, Dudu estará livre para negociar. “Por exemplo, se me chamam para fazer uma série na Netflix, na Amazon ou um produto na HBO, posso nesses momentos de assinatura de contrato colocar cláusulas que deem condições de assumir nas sextas, sábados e domingos a agenda de shows da banda. Esse é o cenário ideal para mim.”
Ele imagina que os convites para séries, filmes e novelas não demorarão a aparecer. “Já tive até uma reunião sobre isso com a Globo, depois que saí da Record. Enfim, tem muita coisa acontecendo, mas tenho, como autônomo, o poder de escolha. A galera da banda entende isso. Foi algo que até partiu deles, que disseram: ‘Sabemos que você tem uma carreira de ator e que, possivelmente, terá uma agenda para cumprir. Vamos colocar um baterista reserva nos shows quando você não puder ir’. O importante é que conseguimos resolver a questão com tranquilidade.”
“MESMO DNA MUSICAL”
“O que precisava acontecer para dar certo o Dudu Azevedo ser nosso baterista era ter essa química sonora. E ela aconteceu de uma forma imprevisível. É impressionante como temos o mesmo DNA musical”, comenta o baixista Beto Nastácia.
Ele lembra como foi o encontro entre o baterista e o Tia. “Montamos as nossas coisas na sala dele e começamos a tocar. O engraçado é que, em questão de meia hora, fizemos uma música, a ‘Sonhos loucos’, que está no disco. A gente acabou fazendo cinco músicas.”
HARMONIA
“Nunca tivemos tanta harmonia no Tianastácia como estamos tendo agora, com todos olhando para um mesmo ponto, com uma mesma proposta e com uma dedicação intensa”, afirma o vocalista Podé Nastácia. “Antônio Júlio, Beto, Dudu e eu temos o mesmo foco de pensamento. Dudu, além de baterista, é uma pessoa maravilhosa, de um coração enorme e que também compõe e toca violão.”
Na opinião de Podé, “o fato de ele tocar um instrumento harmônico como o violão ajuda muito na parte de composição e até de gravação”. O vocalista também enxerga a experiência de Dudu como ator como uma vantagem adicional. “Acredito que o histórico de um ator seja diferente de um músico, que é mais intuitivo. O ator já tem um maior direcionamento de carreira. Existe uma metodologia de trabalho que o Dudu está passando para nós, coisas que não vivemos enquanto músicos e estamos trazendo isso para a nossa vida, assim como estamos passando para ele várias coisas que ele não viveu como músico, embora tivesse banda antes.”
Para o compositor e guitarrista do Tianastácia Antônio Júlio, “Dudu agregou de várias formas, sendo uma delas óbvia para todos, que é a fama que conquistou como ator, com todo mérito e competência. Mas ele agregou também como músico, pois é um ótimo baterista, um ‘reloginho’, pois não sai do tempo de jeito nenhum. É compositor, escreve bem, tem boas ideias e é também arranjador, sendo muito musical. Além disso, tem um ótimo astral.”
Antônio Júlio diz que conhece Dudu há 11 anos. “Ele é divertido, simples, agregador e tem os mesmos sonhos e objetivos musicais dos integrantes do Tianastácia. Para uma banda fluir, tem que ter energia boa e sinergia. E temos isso com ele. Nossa meta é ser feliz e, se possível, fazer história.”