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'Belgravia' fica devendo a 'Downtown Abbey', mas merece ser vista

Nova série do criador do hit britânico é menos sutil e mais maniqueísta, mas traz as qualidades de produção que encantam os fãs das produções de época


03/09/2021 04:00 - atualizado 03/09/2021 07:11

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Em "Belgravia", o romance de um jovem casal que se apaixona numa festa suntuosa é o ponto de partida para a história da série, cuja trama transcorre décadas mais tarde (foto: GLOBOPLAY/DIVULGAÇÃO)

O nome de Julian Fellowes como criador é o grande chamariz da minissérie “ Belgravia ”, recém-chegada ao catálogo do Globoplay . No quesito produção, os fãs de “ Downton Abbey ” (2010-2015) vão rapidamente se identificar. 

Estão ali os dramas familiares, as traições, os amores proibidos, as relações entre o andar de cima (patrões) e o de baixo (empregados), os figurinos ricos, os cenários de sonho, o contexto histórico. Mas... a todo tempo você assiste à série como se ela fosse um arremedo do que poderia ser – faltam sutileza e inteligência, e sobra maniqueísmo

BAILE 

Mas trata-se Julian Fellowes , então, mesmo assim, vale uma conferida – além do mais, são apenas seis episódios. A série parte de um acontecimento real: o baile da duquesa de Richmond, descrito outrora como “o baile mais famoso da história”. 

Em 15 de junho de 1815, em Bruxelas, a nobre britânica realizou um grande baile – embora o exército de Napoleão Bonaparte estivesse à espreita. No meio da festa, o duque de Wellington, que liderava as forças britânicas, foi avisado da chegada dos franceses à região. 

O baile acabou com todos os homens partindo rumo àquela que passou para a história como a Batalha de Waterloo, de onde Napoleão saiu derrotado. Isso é história, e o episódio acompanhava rapidamente tais fatos. O que interessa são os personagens ficcionais. 

Em meio ao baile, há um jovem casal apaixonado. Ele é Edmund Bellasis (Jeremy Neumark Jones), um nobre rico; ela, Sophia Trenchard (Emily Reid), também com dinheiro, mas sem berço, para usar uma expressão de época. Indiferentes à separação social que naquele período os dividia, trocam juras de amor. Só que Edmund é convocado para a batalha. 

Passam-se 25 anos e, já em Londres, reencontramos as mesmas famílias. Edmundo e Sophia morreram, mas sua relação vai trazer consequências que afetarão todos. Ainda que haja vários personagens, as protagonistas são Anne Trenchard (Tamsin Greig) e Caroline, condessa de Brockenhurst (Harriet Walter). Ambas são mulheres de muitos recursos e que vivem profundamente o luto pelos filhos, mortos décadas antes.

FORTUNA 

Só que Anne vem do dinheiro novo, pois seu marido, James Trenchard (Philip Glenister), fez fortuna com comércio e construção, enquanto Caroline é adepta da tradição: tornou-se nobre por meio do casamento com Peregrine, conde de Brockenhurst (Tom Wilkinson) e sua herança. 

As duas moram a poucos metros de distância uma da outra em Belgravia (que James Trenchard ajudou a projetar e construir), no Centro de Londres, mas o fosso social é imenso.  

Quando o passado bate à porta por meio de um jovem comerciante de algodão, Charles Pope (Jack Bardoe), as duas mulheres, cada qual com seu próprio interesse, acabarão por se unir. A chegada inesperada de Pope vai trazer grandes consequências para as novas gerações. 

Há o filho do casal Trenchard, Oliver (Richard Goulding), um jovem criado na bonança que não quer seguir o caminho empreendedor do pai; o sobrinho e único herdeiro do casal Brockenhurst, John Bellasis (Adam James), bon-vivant de caráter duvidoso que só quer seu quinhão na fortuna familiar; e Maria Grey (Ella Purnell), jovem nobre sem dinheiro que quer se casar por amor, e não por interesse.

Em “Downton Abbey”, Fellowes deu igual importância a patrões e empregados, cada qual com sua própria história. Em “Belgravia”, as classes trabalhadoras não têm tal espaço – os personagens que interpretam a criadagem são mesquinhos e conspiradores. Existem única e exclusivamente em função dos protagonistas, sem qualquer meio tom. 

A falta de nuances nas figuras centrais da narrativa também incomoda – bons são bons e maus são maus, sem grande aprofundamento. A ausência de textura faz com que, em sua parte final, com uma resolução rápida demais (a impressão é de que resolveram encurtar a história e correram com ela), “Belgravia” recaia num folhetim televisivo. E esse não cabe mais na era do streaming.     
 

“BELGRAVIA”
>> Minissérie em seis episódios, disponível no Globoplay.


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