Na quinta-feira (2/09), a cantora paraense Gaby Amarantos colocou fim ao hiato de quase uma década sem lançar álbum inédito. O esperado “Purakê” chegou às plataformas digitais nove anos depois de “Treme” (2012), disco responsável por projetá-la nacionalmente. Esse intervalo de tempo não é comum, ainda mais para uma artista que conquistou público e crítica com o trabalho de estreia. Mas Gaby não passou os últimos anos parada.
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A música não ficou totalmente de lado. Além da participação em trabalhos de artistas como Johnny Hooker e o colombiano Carlos Vives, Gaby Amarantos passou um bom tempo procurando “a pessoa certa” para produzir seu segundo disco. A resposta veio depois de assistir a um show do conterrâneo Jaloo, de quem é amiga há oito anos.
“O 'Treme' foi muito aclamado e premiado. Queria fazer algo especial no segundo disco, à altura do primeiro. Na busca por alguém que pudesse produzi-lo, chegou o Jaloo, que é da minha terra e entende a minha sonoridade. É libertador produzir com alguém que sabe o que você está falando e transforma seus desejos musicais em realidade. Seria muito estranho eu, enquanto artista com sonoridade específica, produzir música com alguém que não sabe o que é guitarrada ou carimbó e nunca esteve numa festa de aparelhagem”, ela afirma.
A relação entre os dois não é novidade. O primeiro disco de Gaby marcou Jaloo de tal maneira que ele regravou uma das faixas em seu próprio álbum de estreia, “#1” (2015). Mais tarde, convidou a amiga para um dueto em “Q.S.A”, faixa de seu segundo álbum, “ft” (2019).
“Meu sonho é ser igual a essas mulheres. Ser igual a Elza e cantar até o fim do mundo. A presença delas é um lembrete de que a gente precisa respeitar as mulheres mais velhas. Precisamos respeitar quem abriu o caminho para a gente”, afirma.
“Purakê” apresenta a “Amazônia futurista, muito além do estereótipo”, diz Gaby. “As canções foram feitas durante várias imersões na floresta. Fizemos isso em uma casa em Mosqueira. Depois fomos para um barco no meio do Rio Arapiuns, comendo peixe, tomando cachaça de jambu, nadando no rio e escrevendo música. A gente mergulhou na floresta para mostrar o que tem ali além do que foi proposto no 'Treme'. É um novo som a partir do ponto de vista de quem é de lá”, defende.
Gaby não poupou elementos culturais amazônicos. O próprio nome do disco faz referência ao peixe-elétrico poraquê, que pode atingir 860 volts. “A cada música, as pessoas vão sentir pequenos choquinhos eletrizantes”, ela diz.
Esse clima está presente em baladas emocionantes como “Sangrando”, parceria com a cantora e drag queen Potyguara Bardo, e “Amor pra recordar”, com a presença da cantora Liniker.
HUMOR
Gaby não deixa de lado o humor e a irreverência, sua marca registrada, em “Vênus em escorpião”, que divide com Ney Matogrosso e Urias, e em “Rolha”, cuja letra brinca com o duplo sentido da palavra. “Eu quero rolha”, ela canta no refrão.
Já em “Arreda”, que conta com a participação de Leona Vingativa e Viviane Batidão, dois ícones paraenses, Gaby parafraseia Caetano Veloso para celebrar os ritmos periféricos que a fizeram famosa. “Abre a roda/ Tecnobrega é foda”, diz a letra.
“Esse disco fala da minha vivência como mulher que enxerga o futuro. Ele tem músicas sobre sacralidade e conexão com a água. Mas também tem a fuleragem de que a gente gosta tanto”, comenta.
Os elementos sagrados a que ela se refere estão em “Opará”, que conta com a participação de Luedji Luna, e em “Rio”, referência direta aos rios que marcam a paisagem amazônica.
Gaby define a água como o elemento do disco. “A floresta amazônica não é o pulmão do mundo. Ela é o umidificador do planeta. É ela que molha, faz as chuvas acontecerem, faz com que a gente não tenha seca e permite que a gente respire tão bem. No último ano, com a pandemia, a respiração se tornou algo tão importante na nossa vida... Precisamos ter mais responsabilidade com essa floresta. É ela que nos mantém vivos e respirando”, afirma.
Com o novo trabalho, ela pretende expandir o imaginário sobre o Norte do Brasil. Para isso, contou com os artistas paraenses Lucas Gouvêa e Luan Zumbi, que assinam a direção do conteúdo audiovisual do álbum.
“A gente buscou trazer para o projeto artistas visuais da periferia de Belém. Eles representam o movimento importante que está acontecendo no nosso estado. Estão em revistas internacionais, trabalhando com grifes importantes. São eles que representam a essência do 'Purakê'”, explica.
“Quero que as pessoas enxerguem que nós somos muito mais do que elas imaginam. Muito se fala sobre calypso ou carimbó, mas é necessário ir além disso tudo. O que mais as pessoas do Pará são? A nossa música é a música do futuro. Nós, da Amazônia, estamos pensando no futuro e propondo coisas novas”, garante.
Por isso, Gaby considera “Purakê” a continuação de “Treme”. “É a ponte que decidi seguir e para onde vou a partir daqui. Esse novo disco funciona como o norteador do meu caminho. Ele tem o tecnobrega do 'Treme', mas de uma forma mais atualizada. É como olhar para esse ritmo para ver o que ele se tornou”, analisa.
PALCO
Com a agenda cheia neste segundo semestre de 2021, ela acredita que não subirá aos palcos antes de 2022. Até lá, Gaby segue como jurada do “The voice kids” e grava “Além da ilusão”, próxima novela das 18h da Globo, prevista para estrear no início do ano que vem.
Porém, isso não impede que ela pense em como serão as apresentações ao vivo do novo disco. Sem entrar em muitos detalhes, diz que sua equipe está pensando “numa coisa nova, à altura do som que a gente criou”. “Quero algo muito visual”, adianta. E avisa: “Quem quiser vai ter que estar vacinado. Caso contrário, não entra”.
"PURAKÊ"
- Disco de Gaby Amarantos
- 13 faixas
- Deck
- Disponível nas plataformas digitais