Iniciativa de instituições integrantes do Circuito Liberdade, o webinário “Conversas sobre perguntas” realiza sua segunda edição a partir desta terça-feira (21/09), com palestras que têm foco na palavra como fio condutor de um presente contínuo. O evento é promovido, em curadoria colaborativa, por Casa Fiat de Cultura, Memorial Minas Gerais Vale e MM Gerdau – Museu das Minas e do Metal.
Serão realizados três encontros: “Palavra-corpo”, na terça-feira (21/09), no YouTube da Casa Fiat de Cultura, com a bailarina Ana Botafogo; “Palavra-conhecimento”, quarta-feira (22/09), transmitido no canal do MM Gerdau, com a historiadora e antropóloga Lilian Schwarcz; e “Palavra-presente”, na quinta-feira (23/09), com o poeta e compositor Antonio Cicero, no canal do Memorial Minas Gerais Vale no YouTube. Os encontros on-line serão mediados pela jornalista Daniella Zupo, sempre às 19h.
IMPACTO
Ana Vilela, gestora da Casa Fiat de Cultura, diz que a ideia surgiu em 2020, diante do impacto da chegada da pandemia. Com a agenda suspensa e restrições orçamentárias advindas do cenário de isolamento social, a saída foi elaborar ações conjuntas para o ambiente virtual.
“Começamos a pensar em modos de nos reinventar, daí surgiu a ideia. A Casa Fiat procurou outras instituições que têm o mesmo propósito de produção cultural, no sentido de oferecer programação de qualidade, mas com atuações em campos diferentes”, diz.
O tema da edição de 2021 está ligado ao contexto da pandemia. “Desde que estamos vivendo a restrição do ir e vir, o que mais movimentou o mundo foi a palavra. Nada mais pertinente do que trazê-la para o debate em suas diversas expressões, no corpo, no conhecimento e a palavra presente, a palavra viva, do agora. ‘Conversa sobre perguntas’ não tem o propósito de responder, mas de abrir espaço para o pensamento, para novos questionamentos”, afirma Ana Vilela.
A partir do tema “Palavra-corpo”, Ana Botafogo pretende abordar a questão com base em sua própria experiência como bailarina que já não está mais nos palcos, mas segue profundamente envolvida com esse universo.
“A ideia é transmitir um pouco da minha vivência, mais do que apresentar um estudo etimológico sobre palavra e corpo. A ideia é um bate-papo, uma troca de experiências, pois as pessoas poderão interagir”, diz, aludindo ao chat aberto à participação em todas as palestras.
A historiadora Lilia Schwarcz, encarregada do tema “Palavra-conhecimento”, pretende abordar o conhecimento como forma de resistência no cenário de propagação de fake news e de crescimento de regimes populistas em todo o mundo.
“Hoje, o conhecimento assumiu lugar de proeminência contra o obscurantismo e a mentira. Falar a verdade é muito mais complicado, pois a mentira vai ao encontro daquilo que as pessoas querem ouvir, é como bula de remédio. Falar a verdade implica dizer aquilo que às vezes as pessoas não querem ouvir”, comenta.
POPULISMO
A historiadora não hesita em afirmar que o atual governo brasileiro – como, de resto, outros governos com a mesma inclinação – opera na contramão da razão e da informação. “Eles se valem do populismo, caracterizado pela emissão de frases curtas, de efeito, que têm grande carga emotiva e, por isso mesmo, muita recepção”, observa Lilia.
Fortemente pautados nas redes sociais, esses governos produzem suas próprias informações, daí a crítica ao jornalismo, à ciência e à academia, comenta. “Estamos vivendo na onda desses governos autoritários”, diz a historiadora.
Porém, Lilia Schwarcz ressalta que não demoniza as redes sociais. “Penso que a gente pode subverter o mau uso delas, ocupando-as com boa informação. Não com ódio, mas com afeto e com escuta.”
Encarregado do tema “Palavra-presente”, o poeta Antonio Cicero observa que ele remete a inúmeras possibilidades. Além do duplo sentido – o temporal e o de oferenda –, o presente pode ser entendido como uma permanência.
“A música e a poesia ultrapassam o presente efêmero que seria apenas um ponto numa linha que vai de um passado eterno até um futuro eterno. O presente, entendido como este segundo em que estou falando alguma coisa, é o mais fácil de se pensar”, diz.
POESIA
“Vivemos num mundo muito ligado ao trabalho, a fazer coisas, a produzir coisas, que dá muito valor a isso. Tudo tem uma certa função, serve para alguma coisa, é um modo instrumental de ver o mundo. A poesia é o contrário, não tem nada de instrumental, não serve para nada”, afirma o poeta e compositor.
“Se o presente instrumental é aquele de uma fração de segundo, o outro é o presente que se pretende eterno. É sobre essa contradição que pretendo falar”, adianta Antonio Cicero, integrante da Academia Brasileira de Letras.
“CONVERSAS SOBRE PERGUNTAS”
Terça (21/09)
>> “Palavra-corpo”, com a bailarina Ana Botafogo. Às 19h, no YouTube da Casa Fiat de Cultura
Quarta (22/09)
>> “Palavra-conhecimento”, com a historiadora Lilia Schwarcz. Às 19h, no YouTube do MM Gerdau
Quinta (23/09)
>> “Palavra-presente”, com o poeta e compositor Antonio Cicero. Às 19h, no YouTube do Memorial Minas Gerais Vale