Programada para maio de 2020, a 6ª
Bienal Mineira do Livro
sofreu, ao longo de um ano e meio de pandemia, sucessivos adiamentos. Diante da impossibilidade de ser realizada presencialmente, foi criada a edição
virtual
, de vulto (10 dias de duração,
60 horas de atividades e 150 convidados), que marca o novo momento do evento.
LIVRARIA
Com apoio do
Estado de Minas
, a edição digital abre um novo flanco. Também hoje será inaugurada a livraria virtual
lojabienal.com.br
, de caráter contínuo.
“É um lançamento importante, pois a loja dá um caráter de permanência à Bienal. E há o desafio da leitura: hoje, cada brasileiro lê 2,55 livros durante um ano inteiro”, afirma Marcus Ferreira, diretor da Bienal.
De acordo com ele, a loja servirá como ponto de encontro entre leitores e assinantes (os antigos expositores; 28 livrarias, distribuidoras e editoras). A iniciativa virtual permitirá a interação constante e não apenas nos anos pares, como ocorria até então com as edições presenciais do evento.
Para o público, uma boa notícia: os livros da loja virtual terão frete gratuito para todo o país. A cada 20 títulos vendidos, um volume será doado para escolas públicas e participantes de programas de incentivo à leitura.
Embora este momento seja marcado pela presença constante no mundo digital, o presencial é o grande atrativo do mercado livreiro. A edição de 2020 será realizada de 13 a 22 de maio de 2022, no BH Shopping.
“Logo que a pandemia começou, tivemos uma reação rápida e criamos ações por meio de lives para ficar mais próximos das pessoas. É importante não perder o contato para estimular a leitura”, afirma Gláucia Gonçalves, presidente da Câmara Mineira do Livro.
Cada eixo temático da Bienal Virtual tem sua curadoria específica. O jornalista Rogério Faria Tavares está à frente do Café Literário, ponto de encontro com autores da cena contemporânea. Um dos convidados é Ignácio de Loyola Brandão, que conversa com Tavares sobre um de seus mais importantes livros, “Não verás país nenhum” (1981).
Quarenta anos depois de publicada, essa obra ganhou nova leitura justamente por “antecipar” o momento de agora. No romance, o governo brasileiro nega a ciência, milícias tomaram o lugar da polícia e a Amazônia, vale dizer, virou deserto.
Também conversam com Tavares várias autoras, entre elas Cris Guerra e a atriz Maria Flor, que está lançando seu primeiro livro, o romance “Já não me sinto só”.
Outros eixos temáticos são Mais idade, mais livros, sobre os desafios da longevidade; Palavras com tempero, destacando diferentes nuances da obra de Fernando Sabino; e programas destinados a educadores, crianças e jovens.
HOMENAGEM
Quem abre a programação de encontros literários é Olavo Romano, que conversa com Leonardo Costaneto hoje, às 10h45 – os dois são editores da Caravana Grupo Editorial. Abrir com Romano não é meramente circunstancial. Ele seria o autor homenageado da Bienal 2020 – portanto, o será na edição de 2022.
“É a homenagem mais longa que vai haver. Como ainda não houve, continuo sendo homenageado”, brinca o escritor e editor.
Presidente emérito da Academia Mineira de Letras, Romano, de 83 anos, começou a escrever já adulto – lançou duas dezenas de livros. Com histórias adaptadas para os palcos e as telas, o menino míope de Morro do Ferro, distrito de Oliveira, aprendeu a ler bem cedo e a aguçar os sentidos para que o que estava perto dele.
“A vida toda, a única coisa que eu sabia é que queria escrever. Mas fui por outros caminhos e só aos 40 achei o meu”, comenta Olavo Romano, que escolheu falar do Brasil a partir de Minas.
“Hoje, estou refazendo minha obra, reescrevendo minhas coisas para deixar um legado”, afirma ele, que desde janeiro vive em uma chácara distante 40 quilômetros de Belo Horizonte.
O autor cita “Viagem em torno do meu quarto” (1794), do francês Xavier de Maistre, lido por Machado de Assis, como inspiração para estes tempos. “Estamos numa situação de confinamento em que ler é o melhor remédio. Ao ler, você faz viagens incríveis, conhece pessoas incríveis, mas sem correr riscos, sem colocar máscaras”, comenta.
Neste momento, o autor mineiro tem trabalhado na escrita de mais de 30 histórias, casos que foram adaptados e encenados por contadores de estória. “Estou me apropriando ainda mais desse material, porque tenho o privilégio de chegar aos
83 lúcido e animado. Tenho de usar isso a meu favor.”
Como editor, Romano comemora a publicação de 500 títulos pela Caravana. “É uma aventura magnífica. Estamos há três anos com uma editora que nem sede própria tem e, com a pandemia no meio, estamos mergulhados nas letras.”
CONVERSA
Outra trajetória literária que deverá render boa conversa é a do escritor, professor e tradutor Leo Cunha. Um dos nomes mais conhecidos (e prolíficos) da literatura infantojuvenil de Minas, ele conversa na sexta-feira (24/09), às 16h30, com Rogério Tavares.
A partir de “Poemas para ler num pulo” (2009), os dois falam sobre a obra de Cunha, que já perdeu a conta de quantos livros lançou. “Quando eram quatro ou cinco, eu sabia...”, brinca ele, que deve estar se aproximando dos 80 títulos.
São 55 anos de vida e 28 desde a estreia com “Pela estrada afora” (1993). A pandemia não afetou sua produção. Traduziu livros, escreveu e publicou. Nesta semana, Cunha lança “Memes e memórias” (Editora do Brasil), coletânea de crônicas com alguns textos curtos produzidos em 2020.
A crise sanitária, no entanto, afetou muitíssimo um dos maiores prazeres do escritor: percorrer o Brasil para visitar escolas, feiras de livros e bienais.
“Sou do tipo que viaja 20, 25 vezes por ano. Tem escritor que é meio recluso. Já eu saio muito, gosto de autografar, ir a escolas, bater papo com crianças. Só não conheço o Amapá e o Tocantins, todos os outros estados conheci por causa dos livros”, conta.
Durante a pandemia, a atividade com os leitores continuou no formato on-line. “Os meninos participam, mas não têm a mesma espontaneidade. É um paliativo, o que dá para fazer”, comenta Leo. Nos próximos dias, ele começa a matar a saudade. Depois de um ano e meio em casa, viaja para o Sul do país por uma semana para participar de eventos literários.
BIENAL VIRTUAL MINEIRA DO LIVRO
DESTAQUES DA SEMANA
HOJE (21/09)
>> 10h45 – “Mais idade, mais livros”. Com Olavo Romano. Mediação: Leonardo Costaneto.
>> 16h30 – “O menino que engoliu o choro”. Com Cris Guerra. Mediação: Rogério Tavares.
AMANHÃ (22/09)
>> 15h15 – “Planejamento comercial na Autêntica, a maior editora de MG”. Com Rejane Dias e Marcelo Amaral. Mediação: Marcus Ferreira.
>> 16h30 – “Não verás país nenhum”. Com Ignácio de Loyola Brandão. Mediação: Rogério Tavares.
QUINTA (23/09)
>> 14h – “Literatura e música”. Com Babi Dewet. Mediação: Flávia Lago.
>> 16h30 – “Já não me sinto só”. Com Maria Flor. Mediação: Rogério Tavares.
SEXTA (24/09)
>> 10h45 – “Representatividade negra na literatura infantojuvenil”. Com Otávio Júnior e Lavínia Rocha. Mediação: Bruna Rezende.
>> 16h30 – “Poemas para ler num pulo”. Com Leo Cunha. Mediação: Rogério Tavares.
SÁBADO (25/09)
>> 10h45 – “Adaptações literárias para outras formas de arte”. Com Guilherme Fiuza. Mediação: Bernardo Sabino
>> 14h – Lançamento dos livros “Aparecida Rainha” e “Angie”, de Leonardo Costaneto. Mediação: Tonico Mercador.