Há muito de Tarantino na minissérie argentina “ Entre homens ", que estreia neste domingo (26/09) na HBO Max . A violência explícita, os personagens do submundo, o ritmo ágil e os diálogos de humor negro acabam criando certa simpatia por figuras execráveis que estão na tela. Só que o cenário é latino-americano.
É a periferia da Buenos Aires de 1996 o cenário da narrativa, adaptada do romance homônimo (2001) de German Maggiori – que, aliás, é também responsável pelo roteiro, feito em parceria com Pablo Frendik (“O jardim de bronze”), diretor da série.
DUPLA
Para tal, entram em ação figuras absolutamente à margem. Dois policiais são encarregados de encontrar a fita. Sargento Garmendia (Gabriel Goity) tem como apelido Monstro. Corrupto, alcoólatra e cruel, faz dupla com o inspetor Almada (Diego Velázquez), um neurótico obsessivo que repete o tempo inteiro as normas da polícia que ele viola sem o menor escrúpulo.
Paralelamente, há outra dupla de coprotagonistas, os ladrões Mosca (Nicolás Furtado) e Zurdo (Diego Cremonesi), que não têm relação alguma com o crime, mas que vão acabar se envolvendo com ele.
Os dois episódios iniciais acompanham os acontecimentos de março e abril de 1996, sob dois pontos de vista diferentes: o primeiro da polícia e o segundo dos ladrões. “Esses episódios servem para apresentar a ampla galeria de personagens. Em uma trama policial como era, seria importante mostrar os fatos com as duas perspectivas, já que, nos outros dois (episódios), vai haver uma convergência das personagens”, afirma Maggiori.
Adaptar seu próprio romance foi essencial para manter o suspense, diz ele. “O desafio do roteiro foi lidar com a cronologia dos acontecimentos que está no romance. Para a adaptação, construir um tempo que vai e volta era importante para não revelar os fatos”, diz o escritor e roteirista.
“Entre homens” foi rodada, em parte, em locações reais. “É uma série que se passa fora do limite da cidade de Buenos Aires, mais na região Sul da província. Encontramos muitas coisas que não mudaram tanto de 1996 para 2021, infelizmente. Ainda que exista a evolução tecnológica, a estrutura socioeconômica não avançou. Então a reconstituição de época não foi tão grande”, comenta Frendik.
Para o diretor, o grande desafio foi encontrar o tom certo. “Tivemos que ter certo rigor para chegar até o limite. É uma proposta ousada em alguns sentidos, onde tínhamos que passar algo além do grotesco, pois só isso ninguém quer ver.”
MANCHA
A fisicalidade dos protagonistas chama a atenção logo de cara. O Sargento Garmendia é pesado, sujo (aliás, nenhum dos personagens parece tomar banho) e carrega uma mancha preta que cobre parte do rosto.
“A mancha, por sinal, não foi fácil. Houve vários testes e inclusive a tentativa de uso de uma máscara. Foi fascinante a construção, pois o Garmendia é um monstro, mas até mesmo predadores têm alma, se emocionam. Queria fazer um personagem que fizesse doer nas pessoas, fantástico e apaixonante”, diz Goity.
Já Mosca é leve. Com um cabelão, um olhar sempre de soslaio e uma impostação vocal invariavelmente um tom abaixo, Nicolás Furtado criou um dos personagens que transitam entre o drama e o humor.
“Assim como em outros papéis, tentei mimetizar um animal para encontrar o tom. Com o Mosca, o vi como um macaco, que levei para o jeito de andar, por exemplo. Agora, o mais importante foram os diálogos, que são a melhor coisa do livro e do roteiro. Mais do que o relato em si, o jeito de relatar, em que usamos muito do vocabulário da rua, faz com que se preste muita atenção no que está sendo dito”, acrescenta Furtado.
“ENTRE HOMENS”
• Minissérie em quatro episódios. Estreia neste domingo (26/09), na HBO Max. Um novo episódio por domingo.