Quando Aldir Blanc morreu, em maio de 2020, aos 73 anos, vítima de complicações da COVID-19, uma comoção tomou conta da classe artística brasileira, com a perda de um de seus maiores nomes. Em homenagem, seu nome foi dado à lei que prevê a ajuda emergencial destinada ao setor cultural durante a pandemia do coronavírus.
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Aldir Blanc inspira disco de Augusto Martins e Paulo Malaguti PauleiraMesmo com a Lei Aldir Blanc, circos continuam vivendo na corda bambaGuinga e Leila Pinheiro fazem tributo a Aldir BlancLive destaca a obra multifacetada do genial Aldir BlancLivro conta a história da MPB (e a do Brasil) em 100 fotografiasMário Frias diz que Cultura não adotará passaporte de vacinaçãoAmigos se unem em campanha por Guido FrancoO álbum é uma iniciativa da viúva de Blanc, Mary Lúcia de Sá Freire, que reuniu manuscritos, letras e poesias inéditas do artista como forma de honrar sua memória. O material chegou até a gravadora pelas mãos da cantora e compositora Ana de Hollanda e de Sônia Lobo, administradora da Nossa Música, braço editorial da Biscoito Fino.
A partir daí, "Aldir Blanc inédito" ganhou corpo com a contribuição de parceiros e amigos do compositor. Os arranjos são assinados por Cristovão Bastos, a produção musical é de Jorge Helder. Entre os convidados, estão três parceiros fundamentais de Aldir: João Bosco, Moacyr Luz e Guinga.
A música "Agora eu sou diretoria", interpretada por João Bosco e que abre o disco, ganhou videoclipe a ser lançado às 11h de hoje, no YouTube da gravadora. O vídeo traz imagens da gravação do samba, feito para a campanha publicitária de uma marca de cerveja, por volta de 2013 e 2014, segundo a gravadora.
A partir da ideia original, João Bosco escreveu uma segunda parte para a letra. O título é uma homenagem ao amigo. Para Bosco, "agora que está lá em cima, Aldir é diretoria".
Já Moacyr Luz trabalhou em três músicas do álbum. A primeira, "Palácio de lágrimas", escrita em 2017, já nasceu pensada para a voz de Maria Bethânia. A segunda é o bolero "Acalento", interpretado por Ana de Hollanda e escrita em homenagem a Dorival e Nana Caymmi. E a terceira é "Mulher lunar", parceria entre Luiz Carlos da Vila e Aldir, interpretada pelo próprio Moacyr Luz.
Guinga, por sua vez, assina "Navio negreiro", interpretada pela cantora Leila Pinheiro. A canção é da época em que ela gravou o disco "Catavento e girassol" (1996) e retrata a história de um negro escravizado repleta de referências culturais que reforçam o combate ao racismo.
INSPIRAÇÃO
A cidade de Armação dos Búzios, no Rio de Janeiro, é tema de "Provavelmente em Búzios". Os encantos do local inspiraram Aldir em vários poemas e letras criados em suas passagens por lá. Foi no verão de 1993 que nasceu a canção, em parceria com Cristóvão Bastos. No disco, ela é interpretada por Dori Caymmi.Chico Buarque, ao receber o convite para participar do álbum póstumo, escolheu interpretar "Voo cego", soneto de Aldir musicado por Leandro Braga.
A cantora e compositora paraense Sueli Costa divide com Aldir a letra de "Ator de pantomima", que ela interpreta. A música foi composta em 1978. Joyce Moreno canta "Aqui, daqui", música que nasceu de uma poesia publicada em 1986 no jornal Tribuna da Imprensa.
Uma das cantoras mais admiradas por Aldir Blanc, Clarisse Grova interpreta "Outro último desejo", de 2012, música que funciona como uma espécie de resposta a "Último desejo", de Noel Rosa (1910-1937). "Aos canalhas que eu odeio/ Diga que fui seu esteio/ Que pensa em voltar pra mim/ Mas se a figura me preza/ Pragueje e diga que reza/ Pro meu fim ser de indigente", diz um dos trechos da canção.
Ao mesmo tempo em que reúne parceiros antigos do artista, "Aldir Blanc inédito" também abre espaço para nomes mais recentes em sua obra, como o do cantor e compositor mineiro Moyseis Marques, que interpreta "Baião da muda", cuja letra teve a colaboração de Nei Lopes.
"Virulência", a canção que encerra o disco, é interpretada pelo ator Alexandre Nero. A música foi escrita a partir de um mosaico de ideias que Aldir Blanc compartilhou com o amigo, que pretendia montar um espetáculo teatral com as obras do compositor.
A letra, que também é assinada pelo músico Antônio Saraiva, reverbera problemas sociais de um Brasil que, desde a morte de Aldir Blanc, não mudou muita coisa. “Que falta me faz meus pais/ Que falta nos faz a paz/ Que falta nos faz um país/ Na falta de ar/ Um governo deserto", diz o refrão.
FAIXA A FAIXA
Confira o repertório do álbum e seus intérpretes
1. "Agora eu sou diretoria" (João Bosco e Aldir Blanc) – João Bosco
2. "Palácio de lágrimas" (Moacyr Luz e Aldir Blanc) – Maria Bethânia
3. "Baião da muda" (Moyseis Marques, Nei Lopes e Aldir Blanc) – Moyseis Marques
4. "Voo cego" (Leandro Braga e Aldir Blanc) – Chico Buarque
5. "Navio negreiro" (Guinga e Aldir Blanc) – Leila Pinheiro e Guinga
6. "Provavelmente em Búzios" (Cristóvão Bastos e Aldir Blanc) – Dori Caymmi
7. "Acalento" (João Bosco, Moacyr Luz e Aldir Blanc) – Ana de Hollanda
8. "Aqui, daqui" (Joyce Moreno e Aldir Blanc) – Joyce Moreno
9. "Mulher lunar" (Luiz Carlos da Vila, Moacyr Luz e Aldir Blanc) – Moacyr Luz
10. "Outro último desejo" (Clarisse Grova e Aldir Blanc) – Clarisse Grova
11. "Ator de pantomima" (Sueli Costa e Aldir Blanc) – Sueli Costa
12. "Virulência" (Alexandre Nero, Antônio Saraiva e Aldir Blanc) – Alexandre Nero
“ALDIR BLANC INÉDITO”
• Aldir Blanc
• 12 faixas
• Biscoito Fino
• Disponível nas plataformas digitais
• Em outubro, o álbum ganhará edição em CD