A perspectiva de
retomada
dos shows ao vivo presencialmente nos próximos meses, impulsionada pelo avanço da vacinação contra a
COVID-19
, deu novo fôlego para os
lançamentos
musicais neste segundo semestre de 2021.
Mais de um ano e meio após o início da crise sanitária no Brasil, artistas
independentes
voltam a respirar com certo alívio e, aos poucos, começam a apresentar os
trabalhos
que pretendem levar aos palcos no próximo ano.
Na última semana, três artistas da cena independente de Belo Horizonte fizeram esse movimento e lançaram músicas que anunciam a chegada de novos trabalhos e projetos. A cantora, compositora e produtora Deh Muss deu início à divulgação de seu segundo álbum de inéditas.
Já a cantora e compositora Jennifer Souza lançou mais uma música de seu novo álbum, programado para chegar às plataformas digitais em outubro. E Luiza Brina, cantora, compositora, instrumentista e arranjadora, divulgou a regravação de uma música para comemorar os 10 anos de lançamento de seu álbum de estreia.
SIMBOLISMO
"Não é sobre a Artemis, mas sim sobre os seus simbolismos", Deh explica. "O mito dela fala sobre sororidade, também é marcado pela presença de ninfas. Nele, ela é muito rígida consigo mesma. E eu falo sobre isso na música."
Artemis é a deusa da caça, da Lua, da castidade, do parto e dos animais selvagens. Em uma das versões de seu mito, chama a atenção a aversão ao contato com homens. Deh Muss usou isso como inspiração para criar uma música imagética que flerta com o onírico e celebra a ancestralidade feminina.
"Essa música foi escrita por volta de julho de 2016. Ela remonta a um período da minha vida em que me reuni com outras mulheres para buscar maior espaço e visibilidade para as compositoras nos eventos musicais de BH. Na época, a gente criou a hashtag #MulheresCriando, que depois deu origem ao nosso coletivo. Pouco tempo depois, fizemos uma edição do Sonora – Festival Internacional de Compositoras e, após uma roda de conversa extremamente emocionante, cheguei em casa e escrevi essa letra", diz.
A música também dá pistas sobre a concepção conceitual do álbum. Formado por sete canções, todas elas se baseiam em divindades de cosmovisões diversas para falar do feminino contemporâneo. Além de Artemis, serão retratadas Kuan Yin, a deusa da misericórdia na mitologia chinesa; Amaterasu e Uzume, as deusas do sol-nascente; Yebá Bëló, a deusa criadora do mundo, segundo os índios dessanas; o orixá feminino Nanã; e Nix, considerada a personificação da noite na mitologia grega.
A música dedicada a Lilith, deusa adorada na Mesopotâmia e na Babilônia, chega às plataformas digitais em novembro, com uma nova convidada especial.
O trabalho é o primeiro da artista em seis anos. Nesse intervalo, ela aprofundou sua atuação como produtora cultural, mas, com a chegada da pandemia, arranjou tempo para se dedicar ao projeto pessoal.
"Com tudo parado, a Deh artista conseguiu se manifestar. Eu encontrei tempo para dar vazão para minha própria criação e dar andamento para esse projeto. São músicas que eu escrevi ao longo dos anos e só agora foram gravadas", ela conta.
INTERVALO
Quem também ficou um bom intervalo de tempo sem lançar novidades da carreira solo foi Jennifer Souza. O primeiro álbum da cantora e compositora mineira, "Impossível breve", saiu em 2013. De lá pra cá, ela integrou a banda Transmissor, atualmente em hiato, e também o coletivo Moons. Seu segundo disco de estúdio, "Pacífica pedra branca", chega nas plataformas digitais em 14 de outubro próximo.
Na última quinta-feira (23/09), Jennifer lançou a faixa-título como segundo single de divulgação do trabalho, sucedendo a "Ultraleve", lançada no último dia 2. Apesar de dar nome ao registro de estúdio, a música foi a última a ser composta para o disco, que já tinha esse nome antes de a composição nascer.
"(‘Pacífica pedra branca’) Foi uma das últimas a entrar no disco, a maioria já estava composta há mais tempo. O título é o significado do meu nome. Jennifer significa branca e suave, enquanto Souza significa pedra. Eu só substituí suave por pacífica", ela explica.
Com tudo parado (na pandemia), a Deh artista conseguiu se manifestar. Eu encontrei tempo para dar vazão para minha própria criação e dar andamento para esse projeto. São músicas que eu escrevi ao longo dos anos e só agora foram gravadas"
Deh Muss, cantora e compositora
A decisão de batizar o disco dessa maneira reflete um pouco da busca pessoal por autoconhecimento que Jennifer atravessou nos últimos anos. "As músicas desse trabalho têm uma mensagem um pouco mais existencial. Os assuntos das letras tratam disso. São questões místicas e misteriosas também", ela comenta.
"Para mim, isso faz parte do amadurecimento. Eu vou fazer 40 anos, estou ficando mais velha e começando a ter outros tipos de questionamentos. Entre o primeiro disco e esse que vai sair, transitei por essas questões e essa temática ficou em destaque. É uma abordagem mais subjetiva, mas também há espaço para músicas românticas, por exemplo", diz.
Para ela, "oito anos é um período longo na vida de qualquer pessoa", então o amadurecimento de seu trabalho artístico é um reflexo natural das mudanças e experiências que ela viveu durante esse período.
"Com o meu trabalho solo, eu sempre tive essa vontade de que ele levasse um tempo necessário para nascer. Eu tenho esse tempo dilatado para poder criar e lapidar a minha produção. Mas é curioso porque, durante a pandemia, eu tive alguns momentos acentuados de criação, o que me fez compor uma coleção de músicas que podem, sim, formar um terceiro disco. Então, pode ser que o terceiro [álbum] não demore tanto", ela afirma.
Jennifer Souza lança o novo disco e apresenta as músicas desse repertório no Savassi Festival, em 27 de outubro. Esperançosa, ela acredita que será possível divulgar o álbum em shows ao vivo com a presença do público.
"Se continuarmos na direção em que as coisas estão se encaminhando neste momento, acredito que conseguirei trabalhar esse disco da melhor maneira possível, ainda que lentamente. Lançar o trabalho nas plataformas digitais é importante, mas é ainda melhor quando nós, artistas, podemos encontrar o público pessoalmente para tocar as músicas."
REGRAVAÇÃO
O lançamento de Luiza Brina não é uma canção inédita. Na verdade, é a regravação da música "Back in Bahia", faixa de seu álbum de estreia, "A toada vem é pelo vento" (2011), que completa 10 anos de lançamento em 2021. Na nova versão, Luiza divide os vocais com o cantor, compositor e instrumentista carioca Castello Branco.
Os dois são amigos de longa data e já dividiram o palco em shows realizados por ele. Em algumas dessas ocasiões, aconteceu de o público pedir para que eles tocassem a música dela. Ao imaginar quem seria o parceiro ideal para a regravação, não deu outra, Luiza logo pensou em Castello.
"Essa música eu fiz depois da minha primeira viagem à Bahia. Foi há 10 anos, eu estava apaixonada e vivi lá um amor de verão. Quando voltei, eu quis transformar todo o sentimento que desenvolvi por aquele lugar em música. É uma música que faz muito sentido para mim e é muito especial para a minha carreira", ela explica.
Depois de "A toada vem é pelo vento", Luiza Brina lançou os álbuns solo "Tão tá" (2017) e "Tenho saudade mas já passou" (2019). Ela, que também integra a banda mineira Graveola, tomou um susto quando percebeu que o primeiro disco completaria uma década de existência.
"Ele [o álbum] é feito de canções que me acompanham muito até hoje. Tenho uma amiga que estuda cinema e está fazendo mestrado. A tese dela é sobre os primeiros filmes dos cineastas. Ela defende que tem uma pureza nesses trabalhos. Depois, eles vão se adaptando, mas na obra que dá início à carreira o artista está mais entregue. Gosto de olhar para o meu primeiro trabalho e pensar assim", ela diz.
As comemorações do disco começaram no início do ano, com dois shows on-line dedicados inteiramente ao repertório dele. Nos próximos meses, Luiza ainda lança novas regravações com outras participações especiais. Em dezembro, ela divulga uma edição de luxo do trabalho, remasterizado e trazendo faixas bônus.
Apesar de ainda estar respeitando o isolamento social, ela não nega a vontade de voltar aos palcos para apresentar um show dedicado ao trabalho. "Vou tomar a segunda dose da vacina em outubro. Como as coisas estão melhorando agora, eu acho que existe, sim, a possibilidade de um show comemorativo desse disco. Tenho vontade, mas ainda não está nada confirmado", ela afirma.
FENDA
O coletivo feminino de hip-hop Fenda, formado por Laura Sette, Mayí, Iza Sabino, Paige e DJ Kingdom, lançou na última sexta-feira (24/09) o single "Tenta", por meio do selo MacacoLab. Em tom de manifesto, a música é um desabafo contra o ódio. Na véspera do lançamento do single nas plataformas digitais, o coletivo lançou o clipe da música no YouTube, com direção assinada por Lucas Campos. A produção da canção é do DJ e beatmaker Coyote Beatz, parceiro do rapper Djonga. Esse é o quarto single do coletivo, que lançou as músicas "Não se ofenda", "Girlgang" e "Manda foto de agora", todas em 2020.
DAPARTE
A banda mineira Daparte lançou na sexta-feira (24/09) single e clipe da música "Seu endereço" para anunciar que o segundo álbum da carreira, intitulado "Fugadoce", chega na segunda quinzena de outubro. O grupo integrado por Juliano Alvarenga, João Ferreira, Bernardo Cipriano, Túlio Lima e Daniel Crase vem divulgando o novo trabalho desde 2019, quando lançou os singles "Iaiá" e "Segundas intenções". Ao longo de 2020, a banda conti- nuou provocando os fãs com o lançamento das músicas "Calma" e "3 da manhã". Em 2021, eles lançaram "Nunca fui desse lugar" (com a banda Lagum), "Pescador" (com o músico carioca Zé Ibarra) e "Acrobata". "Fugadoce" sucede a "Charles" (2018).
>> PACÍFICA PEDRA BRANCA
Jennifer Souza
Balaclava Records
Disponível nas plataformas digitais
>> ARTEMIS
Deh Muss e Mãeana
Pitaya Lab
Disponível nas plataformas digitais
>>BACK IN BAHIA
Luiza Brina e Castello Branco
Selo Dobra
Disponível nas plataformas digitais